“É esse o apelo deste Douro. Deste Douro que nos desafia todos os dias. Deste e de todos os Douros das nossas vidas. Pegarmos no impossível. Tentarmos uma vez, cem vezes, mil vezes. Falharmos mais do que acertarmos. Termos tantas, mas tantas tentações de desistirmos, mas não desistirmos. Começarmos de novo. Darmos novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos ramos mortos que atingem a árvore toda”. Foi este o apelo com que o Presidente Marcelo fechou o seu discurso de 10 de Junho no Peso da Régua e que João Galamba, na tribuna por teimosia de António Costa, não aplaudiu.
Marcelo já tinha avisado que a sua preleção no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas não seria focada na política conjuntural, mas em questões estruturais para o país, como o custo das interioridades. E, de facto, não foi. Mas, contudo, não faltou a metáfora, a rematar para lhe dar maior ênfase.
É certo que no momento seguinte, questionado pelos jornalistas sobre se o apelo era dirigido ao “ramo morto” do Governo, o ministro Galamba, o Presidente se apressou a esclarecer que “não falava para nenhum caso específico, pontual”, porque, reiterou, “nos momentos históricos” só fala “de coisas históricas”. E elas “vêm aí”, disse Marcelo, exemplificando: “Com o fim da guerra, com a mudança na União Europeia, com a mudança na NATO, com a mudança na Economia”.
Vamos então à poda. Marcelo garantiu que não era para Galamba. Ora, assim sendo, das duas uma: ou, para Marcelo, Galamba já caiu de poda natural, por apodrecimento, e, portanto, já não conta; ou o Presidente estava mesmo a referir-se a uma poda mais radical e agressiva. Sendo que esta, quando mal feita, é também a principal causa da queda das árvores. Aliás, não terá sido em vão que o Presidente falou das mudanças na União Europeia e na NATO num futuro próximo. Essas, como disse, podem ser históricas e, como ensina o sempre eterno (como o Portugal de Marcelo) almanaque Borda d’ Água, ocorrerão em época mais propícia a uma boa poda das árvores e arbustos que não dão flor nem fruto. Pois é, o Presidente não fala de coisas menores. Galamba já nem galho é, não passa de uma folha caduca ou de uma maçã podre que ficou ali suspensa na árvore… basta um sopro e poda-se. Já o resto, é preciso perceber da poda.