Augusto Santos Silva veio ensinar-nos que “não há conflito entre o Presidente da República e o primeiro-ministro”, porque a tensão vigente nas relações entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, com tomadas de posição e divergências graves assumidas formal e publicamente por ambas as partes, é, afinal, perfeitamente normal na história da democracia portuguesa. Mas não, não é! E, sobretudo, nunca foi nestes últimos sete anos de coabitação mais do que perfeita entre os inquilinos de Belém e de S. Bento. Antigamente, no tempo em que os casamentos eram só entre heterossexuais e tinham uma duração média muito superior à atual, falava-se muito na chamada ‘crise dos sete anos’: família que superasse esse ‘obstáculo’ temporal de maior crispação entre os cônjuges ficava vacinada para o futuro. Ora, a relação entre Marcelo e Costa, se já tinha termo de validade, passou a ser de separação de pessoas e bens. Nesse tempo, dizia o povo que entre marido e mulher não se devia meter a colher. Na atualidade, está tudo do avesso e é ao contrário. Por isso, não é de estranhar que até o presidente da AR-que-é-também-protocandidato-às-presidenciais-que-se-seguem tenha saído a terreiro a botar sentença sobre uma crise política para a qual não fora chamado.
Santos Silva até pode ter características em comum com Marcelo Rebelo de Sousa. Como seja equivocar-se nos convites a altas individualidades estrangeiras para visitarem Portugal e o Parlamento português.
Entre parêntesis, ficámos também a saber na semana passada que o Presidente Marcelo, vá lá perceber-se porquê, será mesmo a última das mais altas figuras do Estado português a visitar Kiev – porventura por falta de convite do Presidente da Ucrânia.
Fechado o parêntesis, se Marcelo reinventou o lugar do chefe de Estado, retirando-o do patamar mais alto em que a Constituição o reconhece para o fazer descer à base de quem o elege, Augusto Santos Silva não tem perfil para o cargo de Presidente da República. Apesar da contenção que teve de aprender a ter quando António Costa lhe entregou a pasta dos Negócios Estrangeiros, nunca perdeu a verve de fanático seguidor e defensor do PS e dos seus líderes, como é patente na forma autoritária e muito pouco democrática como tem exercido a presidência da Assembleia da República. Para Belém, não serve. Muito menos depois de Marcelo. É perigoso para a democracia.