Ao longo dos últimos anos, sobretudo dos últimos quatro, tive por diversas vezes a possibilidade de manifestar a minha discordância quanto à forma como Marcelo Rebelo de Sousa tem exercido aquela que é por muitos denominada, magistratura de influência presidencial.
Compreendo que na sociedade actual, infelizmente, a política e a generalidade dos políticos tenham de andar de mãos dadas com o mediatismo, contudo, apenas aceito esta contingência na medida em que a mesma é o reflexo da mediocridade, impreparação e incapacidade que caracteriza a esmagadora maioria dos políticos portugueses, de deputados a governantes.
Ainda assim, mesmo para alguém como eu que considera a estratégia da presidência de Marcelo, errada, há uma evidência inegável. Marcelo Rebelo de Sousa não cabe na franja de mediocridade acima mencionada, política e intelectualmente, e nessa medida não se pode deixar achincalhar por quem nela se encontre.
Marcelo Rebelo de Sousa é Presidente da República Portuguesa, primeira figura do Estado e como tal, tem forçosamente de estar, lá saber-se colocar e nele se conseguir manter, num nível muito acima de tudo o resto e todos os outros, necessidade para a qual nem sempre contribuiu.
A sua acção desvirtuou em muitas rubricas a solenidade da função presidencial, desbaratou o seu capital político próprio e enfraqueceu, pelo seu propositado uso abusivo, aquela que seria a sua mais poderosa arma, a palavra.
Ontem ficou bem claro, que após longos anos em que Marcelo tanto se manifestou sobre tudo e mais alguma coisa, deixando simultaneamente no ar em cada momento, para cada uma delas, elas e o seu contrário, António Costa simplesmente não o respeita.
Pior, António Costa não só não o respeita como já nem o disfarça.
Aquilo que ainda não percebi é se Marcelo vai querer ou ser capaz de levar o jogo em que decidiu entrar até ao fim, sobretudo porque o que António Costa fez, aos olhos de um país atónito, foi humilhar, da forma mais reles e baixa, não só o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa como o homem Marcelo Rebelo de Sousa.
Aqui chegados, apenas uma coisa é para mim bem clara. Se tudo se mantiver como está, não havendo uma remodelação governamental alargada, não havendo demissão de Galamba, não havendo demissão do Governo e convite para que António Costa faça outro ou até mesmo a activação da chamada bomba atómica, Marcelo Rebelo de Sousa, politicamente, morreu.
E agora, Sr. Presidente?