Amanhã já é tarde


Como no passado, quando alguns acordarem para a realidade e as suas consequências, será tarde. É preciso arrepiar caminho. Amanhã, dia dos 50 anos de vida, já será tarde!


O Partido Socialista perfaz 50 anos de existência, no exercício do poder em Portugal, com maioria no Poder Local e na Assembleia da República, estando na oposição nas Autonomias Regionais dos Açores e da Madeira. 

A circunstância da passagem de meio século era uma boa oportunidade para arrepiar caminho em relação à deriva de degradação do exercício de funções políticas públicas nacionais que tem sido concretizado pela sua liderança, mas o momento é votado à mera invocação do passado e à autoexaltação formal dos feitos conquistados – a maioria absoluta-, como se fosse uma expressão democrática eleitoral pudesse ser um fim em si mesmo, que justificasse o recurso a todos os meios e pudesse fundar todas as desculpas dos desmandos e dos deslaços concretizados.

O nível de responsabilidade e de compromisso com o país registado ao longo dos 50 anos de presença na sociedade portuguesa diverge da dimensão do estado de degradação política, ética e comunitária que temos estado a assistir, como se, depois da obtenção das melhores condições políticas para o exercício político, não houvesse liderança, comando, competência, sentido de serviço e senso para aproveitar os recursos existentes. Há estabilidade política, dinheiro e um recorrente disparate moldado por um misto de irresponsabilidade, imaturidade e falta de senso. Falta sentido, densidade e músculo ao exercício. Não se trata de uma qualquer circunstância tocada pela pandemia, a guerra ou a espiral inflacionista, é todo um modo de exercício do poder político que foi ensaiado, com êxito, durante anos na Câmara Municipal de Lisboa e agora projetado para o plano nacional, conjugado com a alteração substancial do perfil da militância do partido e a consagração de uma geração de quadros formatados entre um forte pendor ideológico desfasado da realidade geral do país e um pragmatismo do poder, no acesso, uso e abuso.

Há muito que o mundo mudou e a política também, tornando-se mais suscetível de escrutínio pelo apuro cívico de alguns, pelas redes sociais ou pela comunicação social que não se deixa envolver nas dinâmicas soporíferas do poder.

Não perceber que é preciso mudar o chip, ter redobrados cuidados na configuração das opções, da gestão, das concretizações e da utilização dos recursos, é flutuar num quadro mental de outras décadas não aplicável à atualidade. É por isso muito perigoso que a toque de sobrevivência política e da mera resposta ao quotidiano, possa valer quase tudo, bem longe do enunciado de princípios e valores que estiveram presentes na fundação do Partido e no essencial do seu acervo histórico de ação e compromisso com o país.

E é assim que, pela mão da atual liderança, se instalaram 5 perigosos pilares de exercício político.

1. A convicção de que tudo pode ser desvalorizado para manter o exercício do poder, gerando narrativas sem pés nem cabeça para justificar o injustificável, tendo uma geometria variável na apreciação das situações em função do visado e nunca assumindo a responsabilidade política pelo ocorrido, remetendo a sua superação para a correção da situação. No limite, invoca-se o desconhecimento da situação, como não fosse suposto uma liderança comandar ou ter alguém que o fizesse em sua substituição para manter foco na visão estratégica geral, processo e obtenção de resultados;

2. A ligeireza e inconsistência do exercício político, na construção das equipas, na coerência das opções e na manutenção de problemas estruturais sem solução, apesar da estabilidade política e dos recursos existentes, em áreas vitais como a funções de soberania do Estado, a saúde, a educação, a justiça, a igualdade, a economia ou a coesão territorial. Num país com recursos finitos, dão-se ao luxo de dispensar partes da equação da construção de soluções para o todo e de gerar entropias para quem quer fazer, num exercício de degradação das condições de vida de uma classe média cada vez mais indigente e orientada para a sobrevivência quotidiana. E, no entanto, com tantos problemas e desafios gerais, ainda há quem se entretenha com nichos temáticos e eleitorais.

3. O triunfo da primazia de um pragmatismo individual em prejuízo do interesse geral, assente na clarificação prévia das vantagens individuais da adesão ao projeto político ou ao exercício (o que é que eu ganho com isso?); na utilização de todos os meios para atingir os fins; na desvalorização das circunstâncias para a manutenção do exercício e na degradação do ambiente político, institucional e social. Uma espiral negativa assente na ausência de rumos previsíveis, na inexistência de uma vontade transformadora sensata e na erosão dos pilares democráticos provocada pela falta de ética e pela geração de pasto fértil para os extremismos, os populismos e os adversários da Democracia;

4. A leveza da apologia e idolatria da tática política, do esquema, da sustentação dos equilíbrios vigentes, da promiscuidade entre partes inconciliáveis ou da transformação da ação governativa numa soma de agendas pessoais desgarradas, focadas na sucessão da atual liderança ou em interesses particulares. São décadas de endeusamento mediático de uma habilidade política; de conformismo com manutenção dos equilíbrios que bastem a partir do poder municipal e nacional e de exercício político sem limites, cuidando de manter mínimos de observância formal e discursiva, mas com práticas que implodem os pilares cívicos, éticos, democráticos e republicanos.

5. A promoção deliberada ou descuidada do deslaço individual e comunitário num quadro de degradação dos compromissos, das relações e das interações gerador de ambiente político, social e económico doentio de salve-se quem puder, sem regras, respeito pelo outro ou perspetivas positivas de futuro. Sem compromisso individual com a comunidade, sem sentido de partilha de um acervo comum, será sempre difícil a um país como o nosso ir mais além. O que assiste com a exposição da novela da TAP, o aumento da carga fiscal sobre os contribuintes e empresas (36,4% do PIB), a sucessão de casos na governação e a degradações dos serviços públicos é uma tragédia.

Aos poucos, vão surgindo vozes que dão expressão ao que sustentamos desde 2015, alguns pelo confronto com os resultados das opções política, outros por desencanto com o protagonista e a sua prática, cada vez mais porque o dano para o partido, o país e Democracia será demasiado grande e duradouro para poder ser ignorado. Não há, não pode haver nenhum protagonista ou circunstância que se possa sobrepor aos valores, aos princípios e à história de um Partido da Liberdade e Democracia, mas é o que está a acontecer. Como no passado, quando alguns acordarem para a realidade e as suas consequências, será tarde. É preciso arrepiar caminho. Amanhã, dia dos 50 anos de vida, já será tarde!

Amanhã já é tarde


Como no passado, quando alguns acordarem para a realidade e as suas consequências, será tarde. É preciso arrepiar caminho. Amanhã, dia dos 50 anos de vida, já será tarde!


O Partido Socialista perfaz 50 anos de existência, no exercício do poder em Portugal, com maioria no Poder Local e na Assembleia da República, estando na oposição nas Autonomias Regionais dos Açores e da Madeira. 

A circunstância da passagem de meio século era uma boa oportunidade para arrepiar caminho em relação à deriva de degradação do exercício de funções políticas públicas nacionais que tem sido concretizado pela sua liderança, mas o momento é votado à mera invocação do passado e à autoexaltação formal dos feitos conquistados – a maioria absoluta-, como se fosse uma expressão democrática eleitoral pudesse ser um fim em si mesmo, que justificasse o recurso a todos os meios e pudesse fundar todas as desculpas dos desmandos e dos deslaços concretizados.

O nível de responsabilidade e de compromisso com o país registado ao longo dos 50 anos de presença na sociedade portuguesa diverge da dimensão do estado de degradação política, ética e comunitária que temos estado a assistir, como se, depois da obtenção das melhores condições políticas para o exercício político, não houvesse liderança, comando, competência, sentido de serviço e senso para aproveitar os recursos existentes. Há estabilidade política, dinheiro e um recorrente disparate moldado por um misto de irresponsabilidade, imaturidade e falta de senso. Falta sentido, densidade e músculo ao exercício. Não se trata de uma qualquer circunstância tocada pela pandemia, a guerra ou a espiral inflacionista, é todo um modo de exercício do poder político que foi ensaiado, com êxito, durante anos na Câmara Municipal de Lisboa e agora projetado para o plano nacional, conjugado com a alteração substancial do perfil da militância do partido e a consagração de uma geração de quadros formatados entre um forte pendor ideológico desfasado da realidade geral do país e um pragmatismo do poder, no acesso, uso e abuso.

Há muito que o mundo mudou e a política também, tornando-se mais suscetível de escrutínio pelo apuro cívico de alguns, pelas redes sociais ou pela comunicação social que não se deixa envolver nas dinâmicas soporíferas do poder.

Não perceber que é preciso mudar o chip, ter redobrados cuidados na configuração das opções, da gestão, das concretizações e da utilização dos recursos, é flutuar num quadro mental de outras décadas não aplicável à atualidade. É por isso muito perigoso que a toque de sobrevivência política e da mera resposta ao quotidiano, possa valer quase tudo, bem longe do enunciado de princípios e valores que estiveram presentes na fundação do Partido e no essencial do seu acervo histórico de ação e compromisso com o país.

E é assim que, pela mão da atual liderança, se instalaram 5 perigosos pilares de exercício político.

1. A convicção de que tudo pode ser desvalorizado para manter o exercício do poder, gerando narrativas sem pés nem cabeça para justificar o injustificável, tendo uma geometria variável na apreciação das situações em função do visado e nunca assumindo a responsabilidade política pelo ocorrido, remetendo a sua superação para a correção da situação. No limite, invoca-se o desconhecimento da situação, como não fosse suposto uma liderança comandar ou ter alguém que o fizesse em sua substituição para manter foco na visão estratégica geral, processo e obtenção de resultados;

2. A ligeireza e inconsistência do exercício político, na construção das equipas, na coerência das opções e na manutenção de problemas estruturais sem solução, apesar da estabilidade política e dos recursos existentes, em áreas vitais como a funções de soberania do Estado, a saúde, a educação, a justiça, a igualdade, a economia ou a coesão territorial. Num país com recursos finitos, dão-se ao luxo de dispensar partes da equação da construção de soluções para o todo e de gerar entropias para quem quer fazer, num exercício de degradação das condições de vida de uma classe média cada vez mais indigente e orientada para a sobrevivência quotidiana. E, no entanto, com tantos problemas e desafios gerais, ainda há quem se entretenha com nichos temáticos e eleitorais.

3. O triunfo da primazia de um pragmatismo individual em prejuízo do interesse geral, assente na clarificação prévia das vantagens individuais da adesão ao projeto político ou ao exercício (o que é que eu ganho com isso?); na utilização de todos os meios para atingir os fins; na desvalorização das circunstâncias para a manutenção do exercício e na degradação do ambiente político, institucional e social. Uma espiral negativa assente na ausência de rumos previsíveis, na inexistência de uma vontade transformadora sensata e na erosão dos pilares democráticos provocada pela falta de ética e pela geração de pasto fértil para os extremismos, os populismos e os adversários da Democracia;

4. A leveza da apologia e idolatria da tática política, do esquema, da sustentação dos equilíbrios vigentes, da promiscuidade entre partes inconciliáveis ou da transformação da ação governativa numa soma de agendas pessoais desgarradas, focadas na sucessão da atual liderança ou em interesses particulares. São décadas de endeusamento mediático de uma habilidade política; de conformismo com manutenção dos equilíbrios que bastem a partir do poder municipal e nacional e de exercício político sem limites, cuidando de manter mínimos de observância formal e discursiva, mas com práticas que implodem os pilares cívicos, éticos, democráticos e republicanos.

5. A promoção deliberada ou descuidada do deslaço individual e comunitário num quadro de degradação dos compromissos, das relações e das interações gerador de ambiente político, social e económico doentio de salve-se quem puder, sem regras, respeito pelo outro ou perspetivas positivas de futuro. Sem compromisso individual com a comunidade, sem sentido de partilha de um acervo comum, será sempre difícil a um país como o nosso ir mais além. O que assiste com a exposição da novela da TAP, o aumento da carga fiscal sobre os contribuintes e empresas (36,4% do PIB), a sucessão de casos na governação e a degradações dos serviços públicos é uma tragédia.

Aos poucos, vão surgindo vozes que dão expressão ao que sustentamos desde 2015, alguns pelo confronto com os resultados das opções política, outros por desencanto com o protagonista e a sua prática, cada vez mais porque o dano para o partido, o país e Democracia será demasiado grande e duradouro para poder ser ignorado. Não há, não pode haver nenhum protagonista ou circunstância que se possa sobrepor aos valores, aos princípios e à história de um Partido da Liberdade e Democracia, mas é o que está a acontecer. Como no passado, quando alguns acordarem para a realidade e as suas consequências, será tarde. É preciso arrepiar caminho. Amanhã, dia dos 50 anos de vida, já será tarde!