‘É preciso acabar com o frentismo no PS’

‘É preciso acabar com o frentismo no PS’


Sérgio Sousa Pinto e António Costa Pinto analisam para o Nascer do SOL os cenários políticos que podem sair de umas eleições que cada vez mais pessoas acreditam poderem vir a ser antecipadas.


Por Raquel Abecasis

Em dias de alta tensão política e com o Governo em situação cada vez mais difícil, começam a desenhar-se os cenários políticos possíveis para o futuro. As últimas sondagens colocam PS e PSD em empate técnico, mas pela primeira vez com ligeira vantagem para os social-democratas, enquanto a queda dos socialistas se agudiza a cada sondagem publicada.

Com estes dados na mesa, Sérgio Sousa Pinto lamenta o «fosso» que a experiência da geringonça deixou entre os dois partidos de Governo, mas acredita que o estrago não tem de ser definitivo. Num cenário pós eleições em que o PSD vença sem maioria absoluta o militante socialista e também o politólogo António Costa Pinto acreditam que, apesar de se ter tornado mais natural, uma solução que garanta a maioria dos votos à esquerda ou à direita não se tornou obrigatória depois da geringonça. Mas isso exige, segundo o socialista, que «PS e PSD acabem com a ficção de que há um muro entre os dois».

Qualquer solução de Governo «dependerá muito da opinião do Presidente da República», diz António Costa Pinto, que sublinha que Marcelo não é Cavaco, pelo que a sua influência na viabilização de um eventual Governo minoritário do PSD poderá ter um peso que em 2015 Cavaco Silva não conseguiu ter. Os poderes do Presidente dependem muito da personalidade que os exerce e o atual titular do cargo tem uma margem de manobra que o seu antecessor não tinha, nem por feitio nem pelas circunstâncias políticas da altura.

O cenário da viabilização de um Governo como o que António Guterres dirigiu na época em que Marcelo Rebelo de Sousa era líder da oposição, não é completamente afastado por Sousa Pinto. «Não será fácil ao Chega chumbar um governo PSD/IL», diz o deputado socialista, admitindo que os sociais-democratas precisarão sempre de algum tipo de arranjo à direita.  António Costa Pinto tende a concordar com esta opinião, embora considere que, à semelhança do que aconteceu no passado com o PS e o BE, o PSD venha a querer dar «o abraço do urso» aos partidos da direita, porque não lhe interessa deixar à sua direita «uma oposição com capacidade de protesto». 

Se, de acordo com o que indicam as sondagens, os social-democratas vierem a vencer as eleições numa situação minoritária, e quiserem resistir a um entendimento que inclua o partido de André Ventura, Sérgio Sousa Pinto acha que os socialistas têm que assumir as suas responsabilidades. «É tempo de acabar com o frentismo no PS», afirmou alo Nascer do SOL. Nessa situação, «o PS também pode salvar o PSD das mãos do Chega».

«A tendência será sempre para a possibilidade de acordos», acredita António Costa Pinto que, olhando para a situação atual diz que os cenários estão todos em aberto. Vale a pena, no entanto, não subestimar o voto dos eleitores. Costa Pinto sublinha que os eleitores têm sempre privilegiado soluções que permitam a estabilidade política. O que este investigador do Instituto de Ciências Políticas (ICS) observa, é que o PSD se confronta agora com o dilema que o PS teve no passado na sua relação com os partidos à esquerda. Sendo certo que esta é uma fragilidade que o partido liderado por Luís Montenegro enfrenta, Costa Pinto vê numa possível coligação eleitoral à direita, nomeadamente que inclua o CDS e a IL, uma forma de o PSD se poder defender. «Toda a dinâmica de coligação é útil». Para o politólogo a entrada do Chega na cena política torna muito perigoso para o PSD «qualquer dinâmica de Bloco Central». Optem como optarem, os social-democratas têm que ter em conta que hoje em dia a polarização é um facto na cena política portuguesa.

Em caso de dilema sobre quem e como se vai governar, António Costa Pinto aconselha também a que se olhe para o que tem acontecido na Europa, em que os partidos do sistema têm tendido a favorecer entendimentos com a força política que sai vencedora das eleições para impedir a chegada da extrema-direita ao Governo.