O que ouve não é o que houve


A audição da CEO da TAP na comissão Parlamentar de Inquéritos na Assembleia da República demonstrou a cultura de imoralidade, de negligência, de infantilidade e sobretudo de falta de respeito pelo cargo que ocupam, pelas instituições e pelo país.


“Quem conta um conto acrescenta um ponto”. Dizemos. Sabemos. Sorrimos até!

É enraizado na sociedade, lidamos bem com isso.

É humano colocar ou tirar partes do que é a realidade.

Fazemo-lo para tirar proveito da situação, para evitar conflitos ou para estruturar o enquadramento que quer dar. Se for num contexto público, aumenta a quantidade de vezes “disto”.

Por séculos que passem, o Homem vai persistir em alterar o que há na verdade que sabe. Tenha o indivíduo a motivação que tiver para fazê-lo. É indiferente para o caso.

Não é correto, sejamos claros. Mas ocorre com cada vez mais frequência, tenhamos noção.

Porém, com tempo e pensamento crítico é sempre visível o lado correto.

A reflexão faz sempre suprimir as dúvidas maiores. A realidade é sempre alcançável.

A sociedade vive desta forma porque é mais comerciável e popular a teatralidade da ilusão. Um conto bem apetrechado de vários pontos fantasiosos é melhor que uma realidade simples.

Este teatro é apelativo à sociedade enquanto grupo e é sofrível à nossa realidade enquanto indivíduos.

A título de exemplo desta teatralidade, no mundo do espetáculo político do “acrescenta um ponto”, podíamos pegar no clichê que preenche a espuma dos dias de hoje em Portugal: Basta refletir sobre o que ouvimos sobre a estratégia e decisões da TAP nestes dias e sabermos já que não foi o que houve das reuniões que Governo e Entidade já confirmaram afinal terem tido.

Neste caso que afeta todo um país, a audição da CEO da TAP na comissão Parlamentar de Inquéritos na Assembleia da República demonstrou a cultura de imoralidade, de negligência, de infantilidade e sobretudo de falta de respeito pelo cargo que ocupam, pelas instituições e pelo país. O mesmo ocorre em várias outras instituições, não tenhamos dúvidas que esta cultura não está circunscrita.

É a prova de que aquilo que ouve não é o que houve.

É um exemplo da falência da capacidade de realizar o real. É um exemplo de que o irreal tem tido muita perna para andar por aí, até por lugares de destaque na sociedade civil.

Porém, há diferenças claras entre o real e o irreal. E o real será sempre sinal de vida, o irreal será sina de quem não a tem.

A irrealidade será sempre ausente de sentimento. É exposto isto através daquele “vazio” que ouvimos na praça pública em inquéritos e comissões políticas ou da sociedade civil cheios de frases como “não respondo porque não me lembro” e “olhe, já não sei”.

Claro. Quem não viveu, não sente. Quem não sente, mente.

Cru e cruelmente, a palavra certa é mesmo “mente”.

Por outro lado, acredito que toda a verdade é carregada de sentimento pelo que se viveu ou tem. O que nos alimenta na verdade é o sentimento, o amor pelas coisas. O amor é matriz e motriz. Sobretudo motriz. É o que nos faz mover e nos proíbe interiormente de estagnar.

Quem vive e trabalha com gosto pelo que faz, tem sentimento por isso. Vive com amor por isso. Atua com verdade na larga maior parte do tempo em função disso mesmo. Se questionado, claro que se recorda ou lembra. Não é vazio. É cheio de vida.

Somos diferentes enquanto seres humanos, com erros e virtudes, mas todos somos iguais no ponto de partida em que só a verdade e o que desperta sentimento preenche a nossa realidade. Não há ninguém especial nos 8 mil milhões de pessoas deste planeta no que toca à verdade.

Na irrealidade, temos sido fortemente testados em virtude da globalizante sociedade que está meio perdida entre o que é e o que não é. Entre o que vende mais e melhor. Entre o “amanhã logo se vê”. Mas isso é o resto. E o resto é só o resto.

Que saibamos relativizar tudo o que tira sustentabilidade à nossa perceção.

O que hoje se diz ser, se sem verdade e sentimento, amanhã nunca será.

O excesso de informação, a vida virtual e os chavões que aparecem de frases copiadas (sentidas por outros; não por quem as copia) é uma espécie de poeira. Algo que afeta a visão de quem quer ser informado e consciente.

Hoje é preciso filtrar mais e sobretudo pensar melhor.

Ler várias fontes, pensar sozinho e não seguir a ‘carneirada’ da opinião mais popular nas redes sociais.

Precisamos, na vida e enquanto sociedade, de relativizar o imediatismo. De ignorar o virtual. De estudar e ter a nossa opinião. De ter a calma de analisar e não cair no erro de reagir a quente. De esquecer a validação da nossa opinião por quem nem sequer tem opinião.

Estamos a cair num erro grande enquanto sociedade: Damos peso e destaque ao que à partida não testámos que é real. Atribuímos destaque em capas de jornais, fazemos decisões pessoais e damos certezas a situações que desconhecemos se são verdade. 

Reagimos a quente ao que não pensámos nem sequer estruturámos enquanto “a nossa opinião”. Assim é fácil errar mais vezes.

Por mais rápida que seja a necessidade, por menos calma que o mundo tenha, o que houve para análise poderá nunca ser o que se ouve.

Que não queimemos etapas.

Que sejamos, sabendo que todos somos iguais, diferentes do imediatismo e falta de conteúdo das opiniões fugazes do dia a dia.

Que tudo o que saia da nossa boca seja sobre o que realmente existiu.

 

 

O que ouve não é o que houve


A audição da CEO da TAP na comissão Parlamentar de Inquéritos na Assembleia da República demonstrou a cultura de imoralidade, de negligência, de infantilidade e sobretudo de falta de respeito pelo cargo que ocupam, pelas instituições e pelo país.


“Quem conta um conto acrescenta um ponto”. Dizemos. Sabemos. Sorrimos até!

É enraizado na sociedade, lidamos bem com isso.

É humano colocar ou tirar partes do que é a realidade.

Fazemo-lo para tirar proveito da situação, para evitar conflitos ou para estruturar o enquadramento que quer dar. Se for num contexto público, aumenta a quantidade de vezes “disto”.

Por séculos que passem, o Homem vai persistir em alterar o que há na verdade que sabe. Tenha o indivíduo a motivação que tiver para fazê-lo. É indiferente para o caso.

Não é correto, sejamos claros. Mas ocorre com cada vez mais frequência, tenhamos noção.

Porém, com tempo e pensamento crítico é sempre visível o lado correto.

A reflexão faz sempre suprimir as dúvidas maiores. A realidade é sempre alcançável.

A sociedade vive desta forma porque é mais comerciável e popular a teatralidade da ilusão. Um conto bem apetrechado de vários pontos fantasiosos é melhor que uma realidade simples.

Este teatro é apelativo à sociedade enquanto grupo e é sofrível à nossa realidade enquanto indivíduos.

A título de exemplo desta teatralidade, no mundo do espetáculo político do “acrescenta um ponto”, podíamos pegar no clichê que preenche a espuma dos dias de hoje em Portugal: Basta refletir sobre o que ouvimos sobre a estratégia e decisões da TAP nestes dias e sabermos já que não foi o que houve das reuniões que Governo e Entidade já confirmaram afinal terem tido.

Neste caso que afeta todo um país, a audição da CEO da TAP na comissão Parlamentar de Inquéritos na Assembleia da República demonstrou a cultura de imoralidade, de negligência, de infantilidade e sobretudo de falta de respeito pelo cargo que ocupam, pelas instituições e pelo país. O mesmo ocorre em várias outras instituições, não tenhamos dúvidas que esta cultura não está circunscrita.

É a prova de que aquilo que ouve não é o que houve.

É um exemplo da falência da capacidade de realizar o real. É um exemplo de que o irreal tem tido muita perna para andar por aí, até por lugares de destaque na sociedade civil.

Porém, há diferenças claras entre o real e o irreal. E o real será sempre sinal de vida, o irreal será sina de quem não a tem.

A irrealidade será sempre ausente de sentimento. É exposto isto através daquele “vazio” que ouvimos na praça pública em inquéritos e comissões políticas ou da sociedade civil cheios de frases como “não respondo porque não me lembro” e “olhe, já não sei”.

Claro. Quem não viveu, não sente. Quem não sente, mente.

Cru e cruelmente, a palavra certa é mesmo “mente”.

Por outro lado, acredito que toda a verdade é carregada de sentimento pelo que se viveu ou tem. O que nos alimenta na verdade é o sentimento, o amor pelas coisas. O amor é matriz e motriz. Sobretudo motriz. É o que nos faz mover e nos proíbe interiormente de estagnar.

Quem vive e trabalha com gosto pelo que faz, tem sentimento por isso. Vive com amor por isso. Atua com verdade na larga maior parte do tempo em função disso mesmo. Se questionado, claro que se recorda ou lembra. Não é vazio. É cheio de vida.

Somos diferentes enquanto seres humanos, com erros e virtudes, mas todos somos iguais no ponto de partida em que só a verdade e o que desperta sentimento preenche a nossa realidade. Não há ninguém especial nos 8 mil milhões de pessoas deste planeta no que toca à verdade.

Na irrealidade, temos sido fortemente testados em virtude da globalizante sociedade que está meio perdida entre o que é e o que não é. Entre o que vende mais e melhor. Entre o “amanhã logo se vê”. Mas isso é o resto. E o resto é só o resto.

Que saibamos relativizar tudo o que tira sustentabilidade à nossa perceção.

O que hoje se diz ser, se sem verdade e sentimento, amanhã nunca será.

O excesso de informação, a vida virtual e os chavões que aparecem de frases copiadas (sentidas por outros; não por quem as copia) é uma espécie de poeira. Algo que afeta a visão de quem quer ser informado e consciente.

Hoje é preciso filtrar mais e sobretudo pensar melhor.

Ler várias fontes, pensar sozinho e não seguir a ‘carneirada’ da opinião mais popular nas redes sociais.

Precisamos, na vida e enquanto sociedade, de relativizar o imediatismo. De ignorar o virtual. De estudar e ter a nossa opinião. De ter a calma de analisar e não cair no erro de reagir a quente. De esquecer a validação da nossa opinião por quem nem sequer tem opinião.

Estamos a cair num erro grande enquanto sociedade: Damos peso e destaque ao que à partida não testámos que é real. Atribuímos destaque em capas de jornais, fazemos decisões pessoais e damos certezas a situações que desconhecemos se são verdade. 

Reagimos a quente ao que não pensámos nem sequer estruturámos enquanto “a nossa opinião”. Assim é fácil errar mais vezes.

Por mais rápida que seja a necessidade, por menos calma que o mundo tenha, o que houve para análise poderá nunca ser o que se ouve.

Que não queimemos etapas.

Que sejamos, sabendo que todos somos iguais, diferentes do imediatismo e falta de conteúdo das opiniões fugazes do dia a dia.

Que tudo o que saia da nossa boca seja sobre o que realmente existiu.