A falácia do 0%, o Estado Vazio


A solução do IVA a 0% para os tais 44 produtos do chamado pacote alimentar básico que já tardiamente anunciada pelo Governo, para não variar, em termos de comunicação parece “extraordinário”, mas na prática, nada mudará para todos os consumidores e, em especial, para os que mais precisam.


Esta medida poderá aparentar uma boa intenção. Contudo, para além de tardia (comparando com restantes países europeus), é limitada e muito demorada pois ainda dependerá da homologação e normalização dos prestadores.

Resumindo, anuncia-se para não acontecer nada.

Ora bem, perguntarão: Tínhamos outras soluções mais rápidas? Teríamos outras hipóteses? Tínhamos. Poderíamos ter optado por:

1. Uma solução imediata através do desconto directo de, pelo menos, 10% nos produtos nacionais, com o respectivo acerto em sede tributária entre empresas e Estado;
2. Pela suspensão imediata do IRS e da TSU nos salários dos trabalhadores para, por um lado proporcionar um maior rendimento às famílias e, por outro, gerar maior liquidez ao tecido empresarial;
3. Pela suspensão dos impostos implícitos na electricidade, gás, água e telecomunicações, considerados bens cruciais;
4. Um ajustamento e respectivo aumento dos impostos sobre bens e produtos supérfluos não nacionais, em especial, bebidas alcoólicas, refrigerantes, cigarros e veículos motorizados.

Finalmente, apesar dos tantos comentadores, continuamos sem reflectir na qualidade da nossa democracia e no Estado de direito. Continuamos a navegar à vista, sem uma Estratégia que nos oriente e mobilize, mas também sem responder a duas perguntas básicas:

1. Quantas e quais as leis existentes e vigentes em Portugal?
2. Quantos e quais os impostos, taxas e taxinhas existentes e vigentes em Portugal?

Infelizmente, ninguém sabe nem quer saber. Fará sentido?

Só com estas duas respostas claras e objectivas poderemos recomeçar, reorganizar e almejar sermos uma sociedade e um Estado justo, juridicamente honesto, intelectualmente sério e podermos ser competitivos.

Em 2013 escrevi que corríamos um sério risco de nos tornarmos um “Estado Vazio”, evidência que, infelizmente, hoje constatamos.

O nosso Estado e modelo de regime esgotou-se. Está podre, inepto e bloqueado. Infelizmente, já não cumpre a Missão e a razão de existência de servir os cidadãos e de lhes proporcionar uma vida digna e justa, garantindo de forma segura e competente os serviços a que está comprometido e obrigado.

Por isso, infelizmente, já somos um “Estado Vazio” mas ainda não acordámos para este facto. E não poderemos, mesmo, acordar tarde demais…

 

 O autor escreve segundo com o antigo acordo ortográfico.

A falácia do 0%, o Estado Vazio


A solução do IVA a 0% para os tais 44 produtos do chamado pacote alimentar básico que já tardiamente anunciada pelo Governo, para não variar, em termos de comunicação parece “extraordinário”, mas na prática, nada mudará para todos os consumidores e, em especial, para os que mais precisam.


Esta medida poderá aparentar uma boa intenção. Contudo, para além de tardia (comparando com restantes países europeus), é limitada e muito demorada pois ainda dependerá da homologação e normalização dos prestadores.

Resumindo, anuncia-se para não acontecer nada.

Ora bem, perguntarão: Tínhamos outras soluções mais rápidas? Teríamos outras hipóteses? Tínhamos. Poderíamos ter optado por:

1. Uma solução imediata através do desconto directo de, pelo menos, 10% nos produtos nacionais, com o respectivo acerto em sede tributária entre empresas e Estado;
2. Pela suspensão imediata do IRS e da TSU nos salários dos trabalhadores para, por um lado proporcionar um maior rendimento às famílias e, por outro, gerar maior liquidez ao tecido empresarial;
3. Pela suspensão dos impostos implícitos na electricidade, gás, água e telecomunicações, considerados bens cruciais;
4. Um ajustamento e respectivo aumento dos impostos sobre bens e produtos supérfluos não nacionais, em especial, bebidas alcoólicas, refrigerantes, cigarros e veículos motorizados.

Finalmente, apesar dos tantos comentadores, continuamos sem reflectir na qualidade da nossa democracia e no Estado de direito. Continuamos a navegar à vista, sem uma Estratégia que nos oriente e mobilize, mas também sem responder a duas perguntas básicas:

1. Quantas e quais as leis existentes e vigentes em Portugal?
2. Quantos e quais os impostos, taxas e taxinhas existentes e vigentes em Portugal?

Infelizmente, ninguém sabe nem quer saber. Fará sentido?

Só com estas duas respostas claras e objectivas poderemos recomeçar, reorganizar e almejar sermos uma sociedade e um Estado justo, juridicamente honesto, intelectualmente sério e podermos ser competitivos.

Em 2013 escrevi que corríamos um sério risco de nos tornarmos um “Estado Vazio”, evidência que, infelizmente, hoje constatamos.

O nosso Estado e modelo de regime esgotou-se. Está podre, inepto e bloqueado. Infelizmente, já não cumpre a Missão e a razão de existência de servir os cidadãos e de lhes proporcionar uma vida digna e justa, garantindo de forma segura e competente os serviços a que está comprometido e obrigado.

Por isso, infelizmente, já somos um “Estado Vazio” mas ainda não acordámos para este facto. E não poderemos, mesmo, acordar tarde demais…

 

 O autor escreve segundo com o antigo acordo ortográfico.