Parece-me claro que, logo após o 25 de Abril, o movimento sindical se reduz à CGTP-Intersindical, integralmente controlada pelo PCP. Os restantes partidos do sistema (PS, PSD e CDS) tentaram cada um deles organizar o seu próprio movimento sindical mas sem qualquer resultado prático no que tocou ao aumento do poder político dos respectivos partidos,
A CGTP funcionou, desde o seu início, como um mero braço do PCP para ocupação das ruas, mero amplificador do fraco poder parlamentar daquele partido. Quer isto dizer que a função primordial de um sindicato, que é a da defesa dos interesses dos trabalhadores sindicalizados, foi sempre preterida em favor dos interesses do PCP. Esses trabalhadores limitaram-se a ser carne para canhão dos interesses políticos do PCP, tropa de choque ao serviço da luta de classes por intermédio da qual o PCP julgava vir a ocupar o poder. Falharam. A luta de classes do marxismo ortodoxo foi substituída pela luta de “todos contra todos” a que se pode resumir o neo-marxismo, hoje mais conhecido por wokismo e a CGTP perdeu força e actualidade, estando hoje a ser substituída por movimentos independentes e quase espontâneos mas, neste caso, pouco eficazes.
Quer isto dizer que os sindicatos perderam actualidade e a sua razão de ser? Como arma política ao serviço de um partido, perderam. Mas como elemento estruturante de uma política dirigida ao bem estar dos trabalhadores integrada no interesse geral da comunidade que é uma nação, mantêm todo o seu interesse
Chegados aqui, cabe a pergunta: O que é, ou deve ser, um sindicato?
Um sindicato deverá ser, acima de tudo, uma organização que defende os interesses dos trabalhadores numa determinada área. Só que esses interesses terão de ser sensatamente ponderados em função dos interesses de todos os envolvidos. Passemos a dois exemplos:
Uma qualquer empresa privada. O sindicato terá de tomar em conta os interesses de duas partes: a dos trabalhadores que ele representa mas, também, os limites que lhes são postos pela necessária rentabilidade razoável dos accionistas da empresa. Para usar uma expressão popular, não interessa, aos trabalhadores, matar a galinha dos ovos de ouro. É na capacidade de entender qual o ponto de equilíbrio entre os interesses de uns e de outros que se encontra o segredo do sucesso de um bom sindicato.
Um sindicato de professores do Ensino Secundário público. Um sindicato que queira aqui ter êxito terá de tomar em conta, pelo menos, três grupos de interesses: o interesse dos contribuintes, que são quem paga o sistema e não podem ser sobrecarregados até ao limite do incomportável. O interesse dos alunos, que são a razão de existir do professor. E o interesse dos professores, que merecem o prestígio de que em tempos gozou a profissão, serem decentemente pagos e terem condições para poderem exercer o seu mester de ensinar. Aqui cabe a um sindicato competente exigir não apenas os itens relativos à sua carreira e à sua remuneração, como até agora tem sido mas, também: 1) que todo o sistema competentemente gerido de forma a que os seus salários possam ser dignos sem que passem a representar um encargo insustentável para o contribuinte. 2) Que as leis e regulamentos do ME sejam alterados de forma a que os programas, bem como o espaço da Escola e da Aula regressem ao seu controle e onde eles, professores, possam ensinar e onde os alunos possam aprender. Resumindo: uma carreira decente e prestigiada, num sistema bem gerido e um ambiente propício ao ensino. Há que ter em conta os três aspectos e não apenas o primeiro.
Chegou o tempo de os sindicatos deixarem de ser o “braço armado” de um partido e voltarem a ter um sentido para os seus membros e para o país no seu todo.
Deputado do CHEGA







