Será uma fatalidade Portugal não ser confiável?


Uma vez mais, sinaliza-se para o país e para o Mundo, um Portugal nada confiável, sem pingo de previsibilidade, enquanto se mantêm pressupostos enviesados numa empresa intervencionada com o dinheiro de todos. 


No imaginário da sina coletiva dos coitadinhos, as adversidades são fatalidades às quais nos acomodamos, com maior ou menor espírito de desenrasque, de improviso ou de resiliência, sem uma ambição em linha com a capacidade produtiva, de organização e de obtenção de resultados que revelamos quando integrados noutras sociedades democráticas.

Com confrangedora ligeireza, os portugueses têm sido confrontados com uma sucessão sistemática de inconsistências do exercício político, toleradas, permitidas e desculpadas, como se não configurassem um perigoso padrão de comportamento nacional, lesivo da imagem do país no exterior, junto dos mercados e dos investidores.

Primeiro problema, aparente, a escolha das companhias. Enfrentamos individual e coletivamente muitos problemas de gestão e de sustentabilidade, recorrendo a companheiros de construção de soluções que depois rejeitamos, com evidentes danos irreparáveis de perda de autonomia e de soberania, para não falar de autoridade moral. Foi assim com as convergências com autocracias detentoras de recursos financeiros que escasseavam no território nacional. Basta recordar Angola, a República Popular da China, a Venezuela e outras paragens de sinal similar, em que o conforto do dinheiro e o imediatismo das necessidades políticas do momento, mandou os valores, os princípios e os padrões civilizacionais às urtigas. Em termos populares, “o importante era o guito!”. Até, que a consciência dos decisores e do país se sobressaltou, fazendo com que as mesmas circunstâncias que tinham trazido os benfeitores, com a mudança dos ventos ou dos governos, os projetem para um patamar de malfeitores, agora detentores de ativos da economia nacional, alguns com uma forte relevância estratégica para as pessoas, os territórios e o país como um todo. A necessidade fragiliza o escrutínio, a ponderação e a avaliação das opções de gestão do interesse geral, mesmo quando os sinais são evidentes e desaconselham ligeirezas, mas há gente viciada em facilitismo, porque a fatura é assumida sempre por alguém: os contribuintes. A ligeireza não é de esquerda ou de direita, há casos e espécimes promotores da dita em todos os quadrantes políticos, como se tivesse havido uma pandemia em surdina, com danos irreparáveis no quadro moral de exigência, sentido de serviço público e defesa do interesse geral dos titulares de cargos políticos. Uma cegueira utilitária, meio vale tudo, meio irresponsável, pelo que sinaliza de imprevisibilidade e de inconsistência para os cidadãos na observância das regras da vida em sociedade e para o Mundo com o qual nos relacionamos. Esta deriva ou espiral de guinadas nas opções políticas faz de Portugal um país cada vez menos confiável, mesmo quando se esforça para reduzir a dívida pública e manter um registo de aluno aplicado com as instituições europeias. Estas, tão como os que já foram vítimas das guinadas, dos ziguezagues e das incoerências, sabem que o compromisso é válido até ao dia em que, de um momento para o outro, o deixe de ser.

O segundo problema, a inconsistência das guinadas e o preço da leviandade. Podia falar da implosão das PPP que funcionavam na saúde, nas reversões nos transportes, nas vendas ao desbarato de ativos estruturantes como a ANA Aeroportos de Portugal, nas prepotências do pacote da habitação e de um lençol de casos tocados pela ligeireza das opções políticas, mas a TAP consagra uma enorme sucessão situações levianas, na nacionalização, na modelação da gestão e na privatização para remover o ativo tóxico do radar da governação. O governo quis mandar na TAP para defender a economia nacional, as empresas nacionais e o interesse geral, os portugueses pagaram e Bruxelas impôs um plano. Com o plano, parece que existiam resultados, mas a ligeireza manifestou-se sob a forma de uma indemnização milionária a uma ex-governante, o governo encomendou um estudo rápido à inspeção de finanças e, com o resultado, não hesitou em brandir a “justa causa” para remover da administração os bodes expiatórios vigentes, sem acautelar a solidez jurídica da rotulagem. E agora parece que está a tentar construir a fundamentação para o que anunciou. Já tínhamos uma justiça que prendia para investigar, temos agora uma governação que anuncia para estudar os fundamentos das suas opções. E tudo com o suporte de despreocupação e ligeireza da cobertura do dinheiro dos contribuintes, que são chamados a colmatar todos os desmandos. Os de um Presidente da República em modo de ajuste de contas por invocação das responsabilidades do escritório do irmão na indemnização ilegal; os de governantes com rabos presos na estrutura omissa da TAP limpa do relatório da IGF e os de opções governativas sem a adequada consistência jurídica para as soluções adotadas, em relação a quem sabe demais, quando se pretende livrar da companhia o mais depressa possível, no meio de um ensurdecedor ruído de ações e omissões.

Se fosse de crianças, era uma garotice, assim é um desastre financeiro pelo que já pagámos e pelo que vamos pagar à conta da inconsistência dos anúncios e das opções governativas.

Uma vez mais, sinaliza-se para o país e para o Mundo, um Portugal nada confiável, sem pingo de previsibilidade, enquanto se mantêm pressupostos enviesados numa empresa intervencionada com o dinheiro de todos. Um modelo de confiança zero. A governação de um país, a gestão de uma comunidade e um exercício político centrado no interesse geral, na exigência e na transparência parece uma coisa de outra galáxia. Não se trata de ser coisa de esquerda ou de direita, mas de gente decente com ética republicana, sentido da vivência em comunidade e senso no posicionamento do país e dos interesses gerais. Está bem longe da realidade atual e do azimute de serviços mínimos vigentes. É possível fazer muito melhor.

 

NOTAS FINAIS

UM PRESIDENTE POUCOCHINHO. O homem do compromisso da Auto-Europa de António Costa ganhou uma nova vida com os casos no governo e na governação. Põe Ministro na mira, finge-se de morto na crise do governo dos Açores e imiscui-se em áreas da governação, sem garantias de mais mãos por baixo. O país em dificuldades assiste a esta linha de montagem de jogos florais das instituições democráticas.

 

UM CAMPEÃO POUCOCHINHO. Um campeão é um ser humano que se superou, mas Nélson Évora reitera de forma sustentada intervenções indignas de um campeão, a raiar a xenofobia em relação ao campeão Pedro Pichardo. Nenhuma azia ou inveja justifica a tragédia daquela degradação pessoal, pública e mediática.

 

UMA IGREJA POUCOCHINHA. A confirmação de que há árvores da floresta da Igreja Católica indignas da instituição, da mensagem e da relevância para os crentes e os territórios exigia uma reação integrada, proativa e consequente. Semanas depois deixou-se enlear num desnorte comunicacional, de reação e de prevenção, por falta de comando. Um desastroso lume brando que em nada ajuda à reparação e à erradicação dos abusos. Como noutras áreas há quem não tenha compreendido que o mundo mudou.

Será uma fatalidade Portugal não ser confiável?


Uma vez mais, sinaliza-se para o país e para o Mundo, um Portugal nada confiável, sem pingo de previsibilidade, enquanto se mantêm pressupostos enviesados numa empresa intervencionada com o dinheiro de todos. 


No imaginário da sina coletiva dos coitadinhos, as adversidades são fatalidades às quais nos acomodamos, com maior ou menor espírito de desenrasque, de improviso ou de resiliência, sem uma ambição em linha com a capacidade produtiva, de organização e de obtenção de resultados que revelamos quando integrados noutras sociedades democráticas.

Com confrangedora ligeireza, os portugueses têm sido confrontados com uma sucessão sistemática de inconsistências do exercício político, toleradas, permitidas e desculpadas, como se não configurassem um perigoso padrão de comportamento nacional, lesivo da imagem do país no exterior, junto dos mercados e dos investidores.

Primeiro problema, aparente, a escolha das companhias. Enfrentamos individual e coletivamente muitos problemas de gestão e de sustentabilidade, recorrendo a companheiros de construção de soluções que depois rejeitamos, com evidentes danos irreparáveis de perda de autonomia e de soberania, para não falar de autoridade moral. Foi assim com as convergências com autocracias detentoras de recursos financeiros que escasseavam no território nacional. Basta recordar Angola, a República Popular da China, a Venezuela e outras paragens de sinal similar, em que o conforto do dinheiro e o imediatismo das necessidades políticas do momento, mandou os valores, os princípios e os padrões civilizacionais às urtigas. Em termos populares, “o importante era o guito!”. Até, que a consciência dos decisores e do país se sobressaltou, fazendo com que as mesmas circunstâncias que tinham trazido os benfeitores, com a mudança dos ventos ou dos governos, os projetem para um patamar de malfeitores, agora detentores de ativos da economia nacional, alguns com uma forte relevância estratégica para as pessoas, os territórios e o país como um todo. A necessidade fragiliza o escrutínio, a ponderação e a avaliação das opções de gestão do interesse geral, mesmo quando os sinais são evidentes e desaconselham ligeirezas, mas há gente viciada em facilitismo, porque a fatura é assumida sempre por alguém: os contribuintes. A ligeireza não é de esquerda ou de direita, há casos e espécimes promotores da dita em todos os quadrantes políticos, como se tivesse havido uma pandemia em surdina, com danos irreparáveis no quadro moral de exigência, sentido de serviço público e defesa do interesse geral dos titulares de cargos políticos. Uma cegueira utilitária, meio vale tudo, meio irresponsável, pelo que sinaliza de imprevisibilidade e de inconsistência para os cidadãos na observância das regras da vida em sociedade e para o Mundo com o qual nos relacionamos. Esta deriva ou espiral de guinadas nas opções políticas faz de Portugal um país cada vez menos confiável, mesmo quando se esforça para reduzir a dívida pública e manter um registo de aluno aplicado com as instituições europeias. Estas, tão como os que já foram vítimas das guinadas, dos ziguezagues e das incoerências, sabem que o compromisso é válido até ao dia em que, de um momento para o outro, o deixe de ser.

O segundo problema, a inconsistência das guinadas e o preço da leviandade. Podia falar da implosão das PPP que funcionavam na saúde, nas reversões nos transportes, nas vendas ao desbarato de ativos estruturantes como a ANA Aeroportos de Portugal, nas prepotências do pacote da habitação e de um lençol de casos tocados pela ligeireza das opções políticas, mas a TAP consagra uma enorme sucessão situações levianas, na nacionalização, na modelação da gestão e na privatização para remover o ativo tóxico do radar da governação. O governo quis mandar na TAP para defender a economia nacional, as empresas nacionais e o interesse geral, os portugueses pagaram e Bruxelas impôs um plano. Com o plano, parece que existiam resultados, mas a ligeireza manifestou-se sob a forma de uma indemnização milionária a uma ex-governante, o governo encomendou um estudo rápido à inspeção de finanças e, com o resultado, não hesitou em brandir a “justa causa” para remover da administração os bodes expiatórios vigentes, sem acautelar a solidez jurídica da rotulagem. E agora parece que está a tentar construir a fundamentação para o que anunciou. Já tínhamos uma justiça que prendia para investigar, temos agora uma governação que anuncia para estudar os fundamentos das suas opções. E tudo com o suporte de despreocupação e ligeireza da cobertura do dinheiro dos contribuintes, que são chamados a colmatar todos os desmandos. Os de um Presidente da República em modo de ajuste de contas por invocação das responsabilidades do escritório do irmão na indemnização ilegal; os de governantes com rabos presos na estrutura omissa da TAP limpa do relatório da IGF e os de opções governativas sem a adequada consistência jurídica para as soluções adotadas, em relação a quem sabe demais, quando se pretende livrar da companhia o mais depressa possível, no meio de um ensurdecedor ruído de ações e omissões.

Se fosse de crianças, era uma garotice, assim é um desastre financeiro pelo que já pagámos e pelo que vamos pagar à conta da inconsistência dos anúncios e das opções governativas.

Uma vez mais, sinaliza-se para o país e para o Mundo, um Portugal nada confiável, sem pingo de previsibilidade, enquanto se mantêm pressupostos enviesados numa empresa intervencionada com o dinheiro de todos. Um modelo de confiança zero. A governação de um país, a gestão de uma comunidade e um exercício político centrado no interesse geral, na exigência e na transparência parece uma coisa de outra galáxia. Não se trata de ser coisa de esquerda ou de direita, mas de gente decente com ética republicana, sentido da vivência em comunidade e senso no posicionamento do país e dos interesses gerais. Está bem longe da realidade atual e do azimute de serviços mínimos vigentes. É possível fazer muito melhor.

 

NOTAS FINAIS

UM PRESIDENTE POUCOCHINHO. O homem do compromisso da Auto-Europa de António Costa ganhou uma nova vida com os casos no governo e na governação. Põe Ministro na mira, finge-se de morto na crise do governo dos Açores e imiscui-se em áreas da governação, sem garantias de mais mãos por baixo. O país em dificuldades assiste a esta linha de montagem de jogos florais das instituições democráticas.

 

UM CAMPEÃO POUCOCHINHO. Um campeão é um ser humano que se superou, mas Nélson Évora reitera de forma sustentada intervenções indignas de um campeão, a raiar a xenofobia em relação ao campeão Pedro Pichardo. Nenhuma azia ou inveja justifica a tragédia daquela degradação pessoal, pública e mediática.

 

UMA IGREJA POUCOCHINHA. A confirmação de que há árvores da floresta da Igreja Católica indignas da instituição, da mensagem e da relevância para os crentes e os territórios exigia uma reação integrada, proativa e consequente. Semanas depois deixou-se enlear num desnorte comunicacional, de reação e de prevenção, por falta de comando. Um desastroso lume brando que em nada ajuda à reparação e à erradicação dos abusos. Como noutras áreas há quem não tenha compreendido que o mundo mudou.