A vida dos que não querem ser famosos


A verdade circense do Sr. Barnum (There is no such thing as bad publicity) é o mantra de quem vive do ser falado (para lá do bem e do mal), imerso na vacuidade da “fama”.


Muitos gastam muito dinheiro a promoverem-se na comunicação social e nas redes homónimas. Outros gastam muito mais para não terem lá existência. O verdadeiro luxo não é o anonimato no metaverso, por via de um qualquer avatar, em concorrência incógnita com o desdobramento da personalidade real que se deve pagar em suaves prestações periódicas ao inventor do Facebook. O verdadeiro luxo consiste em poder dispensar, por via da vontade ou da necessidade, a existência virtual.

A fazer fé nas declarações dos profissionais da fama, hoje em dia ser famoso custa muito. Não ser famoso custa muito mais. Felizmente a liberdade de iniciativa privada, cruzada com a má vontade das redes sociais na garantia do direito ao esquecimento, disponibiliza serviços de apagamento da fama, garantindo o olvido no mundo virtual. Também aqui o tamanho conta: quanto mais for preciso fazer esquecer – ou mesmo apagar – mais caro o servicinho. Em linguagem de candomblé: o direito ao esquecimento é o contrário da amarração.

Os serviços de ocultação fazem-se anunciar, desde logo no ciberespaço, com recurso a uma língua que dizem ser portuguesa: “Eliminamos o seu passado. Nós ajudamos você no seu futuro. Eliminamos dados e informações na internet e garantem seu direito de esquecer.” Quem assim escreve responde no endereço https://eliminalia.com/pt/  e tem vários Vanity Awards, comprados com os lucros da actividade. Segundo a investigação jornalística Forbiden Stories do projecto Story Killers, que associa Washington Post, The Guardian, Le Monde, Der Spiegel, Haaretz e El País, a Eliminalia actua em todos os continentes, prestando serviços a pessoas singulares e colectivas com códigos de actividade económica que incluem tráfico de droga, branqueamento de capitais, fraude eleitoral, derrube de governos democraticamente eleitos, assédio a jornalistas,…

A sede social da empresa encontra-se em Barcelona, esperançosa, na avenida Portal de l’Àngel, tendo recentemente mudado a firma para Idata Protection, procurando, não sem dar prova de sentido de humor, afastar-se da fama trazida pelos Story Killers. O “departamento técnico” funcionava em Kiev tendo-se entretanto deslocalizado para Tbilisi, temo que por medo à concorrência proporcionada pelos aguerridos turistas russos.

Segundo os Story Killers as técnicas de reprogramação da nossa memória colectiva incluem a colocação e gestão de sites falsos na internet, fake news, clones de sites verdadeiros, pedidos de retirada de informação invocando inexistentes violações de direitos de autor ou do Regulamento geral de protecção de dados da União Europeia, associação de links a notícias que nada têm a ver com o tema objecto de pesquisa mas que pela repetição em formato industrial acabam por afastar os motores de busca da informação que se pretende ocultar.

O leitor tem agora na ponta dos dedos (e no cartão de crédito) uma oportunidade de renascer, de re-fazer a sua vida, apagando episódios menos agradáveis. Na época da aparência e da fama a cura do trauma não deve ser feita pela via da introspecção, mais vale apagar no ciberespaço aquela fotografia no casamento da prima no ano da Expo em que surge de meia branca com raquetes. Sinta-se poderoso e, como Estaline, apague das suas fotos os indesejáveis.

A par da iniciativa privada no apagar da história estará em curso alguma iniciativa pública, devidamente suportada por um departamento técnico robusto?

A vida dos que não querem ser famosos


A verdade circense do Sr. Barnum (There is no such thing as bad publicity) é o mantra de quem vive do ser falado (para lá do bem e do mal), imerso na vacuidade da “fama”.


Muitos gastam muito dinheiro a promoverem-se na comunicação social e nas redes homónimas. Outros gastam muito mais para não terem lá existência. O verdadeiro luxo não é o anonimato no metaverso, por via de um qualquer avatar, em concorrência incógnita com o desdobramento da personalidade real que se deve pagar em suaves prestações periódicas ao inventor do Facebook. O verdadeiro luxo consiste em poder dispensar, por via da vontade ou da necessidade, a existência virtual.

A fazer fé nas declarações dos profissionais da fama, hoje em dia ser famoso custa muito. Não ser famoso custa muito mais. Felizmente a liberdade de iniciativa privada, cruzada com a má vontade das redes sociais na garantia do direito ao esquecimento, disponibiliza serviços de apagamento da fama, garantindo o olvido no mundo virtual. Também aqui o tamanho conta: quanto mais for preciso fazer esquecer – ou mesmo apagar – mais caro o servicinho. Em linguagem de candomblé: o direito ao esquecimento é o contrário da amarração.

Os serviços de ocultação fazem-se anunciar, desde logo no ciberespaço, com recurso a uma língua que dizem ser portuguesa: “Eliminamos o seu passado. Nós ajudamos você no seu futuro. Eliminamos dados e informações na internet e garantem seu direito de esquecer.” Quem assim escreve responde no endereço https://eliminalia.com/pt/  e tem vários Vanity Awards, comprados com os lucros da actividade. Segundo a investigação jornalística Forbiden Stories do projecto Story Killers, que associa Washington Post, The Guardian, Le Monde, Der Spiegel, Haaretz e El País, a Eliminalia actua em todos os continentes, prestando serviços a pessoas singulares e colectivas com códigos de actividade económica que incluem tráfico de droga, branqueamento de capitais, fraude eleitoral, derrube de governos democraticamente eleitos, assédio a jornalistas,…

A sede social da empresa encontra-se em Barcelona, esperançosa, na avenida Portal de l’Àngel, tendo recentemente mudado a firma para Idata Protection, procurando, não sem dar prova de sentido de humor, afastar-se da fama trazida pelos Story Killers. O “departamento técnico” funcionava em Kiev tendo-se entretanto deslocalizado para Tbilisi, temo que por medo à concorrência proporcionada pelos aguerridos turistas russos.

Segundo os Story Killers as técnicas de reprogramação da nossa memória colectiva incluem a colocação e gestão de sites falsos na internet, fake news, clones de sites verdadeiros, pedidos de retirada de informação invocando inexistentes violações de direitos de autor ou do Regulamento geral de protecção de dados da União Europeia, associação de links a notícias que nada têm a ver com o tema objecto de pesquisa mas que pela repetição em formato industrial acabam por afastar os motores de busca da informação que se pretende ocultar.

O leitor tem agora na ponta dos dedos (e no cartão de crédito) uma oportunidade de renascer, de re-fazer a sua vida, apagando episódios menos agradáveis. Na época da aparência e da fama a cura do trauma não deve ser feita pela via da introspecção, mais vale apagar no ciberespaço aquela fotografia no casamento da prima no ano da Expo em que surge de meia branca com raquetes. Sinta-se poderoso e, como Estaline, apague das suas fotos os indesejáveis.

A par da iniciativa privada no apagar da história estará em curso alguma iniciativa pública, devidamente suportada por um departamento técnico robusto?