A Alemanha ordenou hoje a expulsão de dois diplomatas iranianos em retaliação pela condenação à morte de um dissidente germano-iraniano, anunciou o Governo em Berlim.
O chanceler Olaf Scholz considerou inaceitável a sentença contra Jamshid Sharmahd, 67 anos, anunciada na terça-feira, e pediu ao Irão que "inverta a sua decisão", numa mensagem divulgada na rede social Twitter citada pela agência francesa AFP.
A chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, anunciou ter convocado o encarregado de negócios da embaixada iraniana em Berlim para o informar de que a Alemanha não aceita a violação dos direitos de um cidadão alemão.
"O Governo declarou dois membros da embaixada iraniana indesejáveis e pediu-lhes que deixassem a Alemanha num curto espaço de tempo", disse a ministra.
Baerbock apelou, mesmo assim, para que Sharmahd possa beneficiar de "um procedimento de recurso justo, de acordo com o Estado de direito".
A sentença de morte foi proferida por um tribunal inferior e pode ser objeto de recurso para o Supremo Tribunal.
Jamshid Sharmahd foi julgado por um tribunal em Teerão em fevereiro de 2022, sob a acusação de envolvimento num ataque a uma mesquita em Shiraz, no sul do Irão, que matou 14 pessoas em abril de 2008.
O tribunal também o acusou de ter estabelecido contactos com elementos das agências norte-americanas FBI e CIA, e de ter "tentado contactar agentes israelitas da Mossad".
Os apoiantes de Sharmahd na Alemanha rejeitaram estas acusações e pediram ao Governo de Berlim para "agir imediatamente" para salvar a sua vida.
Os países europeus "deveriam utilizar todos os meios do seu arsenal político" para exercer pressão sobre Teerão e evitar a execução de Sharmahd, disse à AFP a sua filha, Gazelle Sharmahd, apelando para "medidas extremas".
"É a última oportunidade de salvar a vida do meu pai", disse.
"Nem sequer sabemos onde ele está, não sabemos como está ou mesmo se ele sabe desta notícia horrível" do veredicto, acrescentou.
O Irão anunciou, em agosto de 2020, a detenção do dissidente, que residia então nos Estados Unidos, numa "operação complexa", sem especificar quaisquer pormenores, incluindo a data e o local onde ocorreu.
A família disse que Sharmahd foi raptado pelos serviços de segurança iranianos quando se encontrava em trânsito no Dubai e levado à força para o Irão.
A condenação foi denunciada por várias organizações não-governamentais (ONG), como a Amnistia Internacional.
"Raptaram Jamshid Sharmahd e agora estão a enviá-lo para a morte após um julgamento falso", disse o diretor da ONG de origem norueguesa Iran Human Rights (IHR), Mahmood Amiry-Moghaddam, na terça-feira.
"De facto, a República Islâmica está simplesmente a ameaçar matar um refém", acrescentou.
Teerão provocou uma onda de indignação internacional após a execução, em janeiro, de Alireza Akbari, um antigo funcionário do Ministério da Defesa com dupla nacionalidade, iraniana e britânica.
A sentença de morte de Sharmahd foi um dia depois de a União Europeia (UE) ter imposto novas sanções ao Irão, incluindo a dois ministros.
Três dezenas de pessoas foram visadas nas novas sanções da UE pela repressão dos protestos no Irão desde a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, em 16 de setembro do ano passado.
Pelo menos 16 titulares de passaportes de países ocidentais estão detidos no Irão.
A maioria tem dupla nacionalidade, mas o Irão, à semelhança de outros países, não reconhece este estatuto aos seus cidadãos.