Na altura, o algarvio Cavaco foi ainda mais longe. Apelou sem êxito para que as elites profissionais saíssem das suas posições e áreas de conforto, sendo (ainda são) críticos da mediocridade dos políticos e das suas decisões e que aceitassem contribuir para uma regeneração da atividade política.
Este enquadramento serve a nível nacional na perfeição, servia nas Legislativas de 2005 como Cavaco vincou como servia nas Legislativas de 2022 ou nas Autárquicas de 2021 e ainda vai servir numa próxima eleição que se realize.
Os competentes têm cada vez mais dificuldade em garantir na causa pública o respeito que os seus méritos, e a sua experiência e capacidade de trabalho na sociedade civil, merecem.
São questionados, muita vez, por quem não sabe de nada e é um mero negacionista de qualquer pessoa de sucesso.
Criticar é sempre fácil. Na sociedade atual é mesmo muito, muito fácil. Tudo é mau e todos os que criticam “fariam muito melhor” do que aqueles que fizeram ou tentaram fazer algo.
Nesse registo, é sempre meritório vermos alguém entregar-se à política como Carlos Moedas. Permitam-me este exemplo específico.
Um Engenheiro Civil que ainda estudante, como milhares de europeus felizmente, fez Erasmus em França. Depois de licenciado, tirou o seu MBA em Harvard. Da Irlanda, em 2016, veio o reconhecimento enquanto Doutor Honoris Causa em Direito pela University College Cork e, em 2018, o mesmo sucedeu pelos franceses da ESCP Business School de Paris. É mérito.
É um cidadão português que estudou, trabalhou e incentivou muito em Portugal e na Europa dado que já foi Comissário Europeu para a Investigação, inovação e ciência, mas que também, cá, foi Secretário de Estado do Governo de Portugal e até Deputado à Assembleia da República por escasso tempo.
Tem reconhecido valor e capacidade. Não é um “politiqueiro”, é um português do mundo e que já deu muito a Portugal e à Europa.
Não tem méritos apenas hoje, por ser Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e muito menos tem mérito por ser militante destacado do PSD em quem muito depositam elevadas esperanças e sonhos de vitória Legislativa.
Isso, na tabela da meritocracia, vale quase zero. Exceto a parte vitoriosa na maior Câmara do País, que isso é de reconhecer que a determinada altura no país só mesmo Carlos Moedas acreditaria que seria hoje Presidente desse Município.
Tem mérito por ter “mundo”. Ter visão local, até de interiorioridade e não só de “grandes metrópoles” por ser natural de Beja, mas ter acrescido à sua experiência de vida pessoal as visões que teve em vários países e vários continentes.
Ter uma pessoa destas, com esta elevação política, a servir a causa pública tem de ser um regozijo (seja ele do PSD, do PS, da IL ou de que partido for).
Isto surge a propósito da tentativa demagógica de criticar uma visão linear de como e quando Portugal deve pensar estrategicamente nos muitos imigrantes que nos escolhem como país para ter as suas vidas pessoais e profissionais.
Carlos Moedas não é um leigo em políticas e vivências de emigração. Carlos Moedas já foi emigrante muitos anos. Para além disso, valendo o que vale, é casado com uma imigrante nossa e emigrada do seu país de origem. Seguramente, não sejamos hipócritas, sabe melhor que nós quais as realidades e dificuldades de não se estar no seu país.
Carlos Moedas foi claro. Abordou que quem vem para Portugal tem de ter dignidade. Quem quiser vir para o nosso País, e bem disse o autarca lisboeta, até pela crise de natalidade que atravessamos a vinda de imigrantes para Portugal é bem-vindo. Bem-vindo e, sobretudo, sabemos, como é precisa essa gente nova para invertermos a pirâmide etária envelhecida que temos.
Carlos Moedas foi claro em sinalizar que todos são bem-vindos, mas mais claro em dizer que cabe às autoridades delinear políticas públicas de como receber com dignidade quem vem.
Ser “a favor” dos emigrantes não é ir a Timor e dizer para virem todos (sabemos lá dormir onde, comer o quê e receber em que condições e com que contrato meia dúzia de euros) para Portugal.
Ser “a favor” da emigração não é ir a Olhão dar um abraço a um imigrante no nosso país porque foi agredido de forma bárbara e cobarde. Isso, neste caso, é ter humanismo e reconhecer que aquilo que aconteceu é uma vergonha. Aí concordamos todos.
Mas essas pessoas têm condições cá, neste caso, em Olhão? Tem contrato de trabalho? Tem um teto para dormir e conseguiu celebrar contrato de arrendamento para viver com dignidade? Estas questões é que queria que o Presidente da República ou o Presidente da Câmara em questão (e poderíamos falar do Presidente da Câmara de Odemira, que todos recordamos o infeliz caso de aproveitamento e quase escravatura sobre emigrantes) deviam fazer.
Aí sim, seriam “a favor” dos que cá imigram.
Abraços são demonstrações de afeto e humanidade, não resolvem este problema. Lamento a frieza.
Ainda houve demagogos a comparar o discurso, sério, honesto e estruturado de Carlos Moedas, com preocupação Humana, com o discurso da extrema-direita e da extrema-esquerda. Aqui é fácil e todos vão entender: Os extremos criticam, à esquerda, porque para eles qualquer um pode vir e “seja o que Deus quiser” e, à direita, porque esse partido não quer que quem vem receba um cêntimo do Estado quase (como se quem vem viesse “roubar” trabalho aos portugueses…).
Carlos Moedas, e acredito que o seu partido, o PSD, como o PS, sejamos sérios, querem que Portugal receba cidadãos de outros países com dignidade, que tenham condições de vida para cá estar, que tenham documentação e acesso a contratos de trabalho dignos (sem serem explorados), que sejam integrados nas suas comunidades e não espancados por estarem abandonados onde chegam.
A diferença é esta.
Carlos Moedas é uma das “boas moedas” que está na causa pública e, neste caso, demonstrou o porquê da importância do texto de Aníbal Cavaco Silva, em que os melhores têm de ser chamados para definir políticas públicas e dar o seu contributo à melhoria da sua sociedade através das experiências e vivências que têm acumuladas.
Num país sem demagogia e sem as “más moedas” a repelirem os competentes, estaríamos todos a trabalhar para receber com dignidade o maior número de imigrantes possível. Dando condições humanas e dignidade a quem vem, às suas famílias e a receber cada um dos que imigrassem para cá como noutras décadas ansiaram muitos que os seus pais e avós fossem acolhidos em França, na Suíça, na Alemanha e em todos os mil países onde temos tanto português emigrado e a ser feliz.