A morte de dois imigrantes na Mouraria trouxe, de novo, à baila a forma como o Governo, autarquias e privados recebem esses trabalhadores. É tão evidente que ninguém quer fazer um levantamento exaustivo das condições em que muitos deles vivem, que faz confusão o espanto que demonstram ao saber que vinte pessoas vivem numa casa minúscula. Há uns meses entrevistei o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, que mostrava estranheza por ir a países vizinhos e perguntar pela greve dos professores do ensino público e receber como resposta o tal espanto dos seus homólogos. “Mas há greve? Os nossos filhos têm ido às aulas”, mais coisa menos coisa era o que dizia que ouvia da boca dos políticos locais.
Como não creio que tenhamos políticos que não saibam que no eixo que vai da Alameda até ao Martim Moniz centenas de casas albergam largos milhares de imigrantes, alguns dos quais quase em sistema de cama quente, não percebo a razão de ainda não se ter feito um estudo exaustivo sobre o alojamento daqueles que procuram Portugal como local de trabalho. Ou pensarão os políticos que a falta de alojamento a preços acessíveis só se deve à compra de habitações por parte de estrangeiros endinheirados? Não sabem que uma casa com um quarto e uma cozinha serve para dormirem 20 pessoas? E que é por essa razão que alguns senhorios deixaram de alugar quartos a estudantes, por exemplo?
Mas o trágico acidente devia obrigar o Governo e as autarquias a fiscalizarem convenientemente o alojamentos dessas pessoas, algumas das quais em trânsito em Portugal, onde precisam de permanecer três anos até poderem rumar à Europa Central. Por muito que custe a mentes mais sensíveis, muitos dos imigrantes estão nas mãos de máfias que os submetem a vidas miseráveis até conseguirem o passaporte para andarem no espaço Schengen. Fiscalizem quantas pessoas dão a mesma morada no SEF, vejam como alguns personagens sem escrúpulos se aproveitam desses novos escravos e atuem até para não dar azo a manifestações xenófobas.
P. S. Na zona onde vivo há vários imigrantes do Bangladeche e não creio que façam parte do que acabei de descrever. Estão bem integrados, têm os seus negócios – mercearias e cafés –, falam português e não me parece que vivam todos em casas ‘lata de sardinhas’. Até pelo contrário, e há uns largos meses eu ia ficando em maus lençóis por os defender contra uns energúmenos que gostam de viver sem lei e entravam na mercearia e levavam produtos sem os pagar.