Nos últimos anos, assistimos ao advento da China e de outras potências emergentes que, de algum modo, ameaçaram a liderança dos EUA e a influência da Rússia. As tensões geopolíticas agudizaram-se. À fase unipolar da pós-URSS parece estar a seguir-se uma multipolar.
Interrompendo o ciclo de paz dos últimos 78 anos, iniciado com o final da Segunda Guerra, a invasão da Ucrânia pela Rússia marca, também na Europa, a consolidação definitiva de uma nova era de insegurança e instabilidade.
A Europa, uma União com uma moeda de referência € e membro da NATO, mas sem capacidade autónoma de defesa, integra-se no bloco “Ocidente Alargado” com os EUA (US$) e Canadá.
A CRISE E A UE. EUROPEUS E PORTUGUESES. O último Eurobarómetro, divulgado há dias, tenta avaliar o impacto da crise na vida quotidiana dos europeus. O apoio à UE continua elevado. Os cidadãos esperam prioritariamente do Parlamento Europeu a defesa da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão.
Mais de setenta anos após a Declaração Schuman, a manutenção da paz e o reforço da segurança estão de volta como o principal benefício da adesão à EU para 36% dos europeus, um aumento de seis pontos desde o outono 2021. Também acham que a UE facilita uma melhor cooperação entre Estados-Membros (35%) e contribui para o crescimento económico (30%).
Na opinião de 87% dos portugueses, Portugal beneficia em ser membro da EU indo o destaque para o crescimento económico, com 38% dos inquiridos a elegê-lo como o principal benefício.
O aumento do custo de vida é a maior preocupação para 98% dos portugueses. A segunda mais referida é a ameaça de pobreza e exclusão social 95%. Depois vêm as alterações climáticas 92% e a propagação da guerra na Ucrânia a outros países 91%.
Olhando para a situação financeira dos cidadãos, o inquérito mostra que as consequências da crise se fazem sentir em todos os países e é cada vez mais profunda. Em Portugal, 57% dos inquiridos dizem que o seu nível de vida caiu e 65% que enfrentam dificuldades em pagar as suas contas “na maior parte do tempo” ou “algumas vezes”.
Apesar disso, os cidadãos europeus aprovam o apoio da EU à Ucrânia e 73% são a favor de ações concretas, tais como sanções contra o governo russo, bem como as ajudas financeira, militar e humanitária à Ucrânia.
OS DESAFIOS E AS NOVAS PRIORIDADES DA EUROPA. O conflito da Ucrânia deve ser resolvido por forma a dissuadir outras novas agressões. Os europeus não têm capacidades económica, tecnológica ou de defesa para ajudar a Ucrânia a defender-se e alcançar este objectivo sem o envolvimento claro da NATO e dos EUA. Para além do esforço de guerra e dos seus efeitos, tornar-se-á necessário ajudar a reconstrução do país.
Uma Europa responsável e independente cumprirá com as suas obrigações para com a NATO e desenvolverá e capacitará a sua política de defesa.
A Europa precisa de uma economia competitiva, sendo essencial e urgente garantir custos baixos de energia, cadeias de abastecimento robustas e o domínio tecnológico.
Na competição estratégica entre blocos, de tensão ou colaboração, será essencial manter a vantagem económica devendo, para isso, limitar selectivamente o acesso à tecnologia, aumentar a coordenação com aliados, reajustar a política de alianças, apoiar infraestruturas.
Na energia há as novas necessidades, decorrentes do abandono dos abastecimentos russos, de reorientar a recepção e transporte de combustíveis e a produção, sem esquecer os elevados recursos requeridos na transição energética. A energia na Europa é cara e uma grande desvantagem competitiva.
OS RECURSOS FINANCEIROS No curto e médio prazo, as necessidades financeiras com o apoio à Ucrânia e aos cidadãos europeus, assim como às necessidades da economia, defesa e energia ultrapassarão, em muito, os recursos disponíveis e a nossa capacidade de endividamento.
Quais serão as prioridades de Portugal?
Uma DEMOCRACIA DE QUALIDADE exige discuti-las e sabê-lo!
Ex-administrador da GDP e REN; ex-secretário de Estado da Energia; Subscritor do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade