Nota prévia: Uma empresa inglesa especializada em estudos de saúde assegura que na China estão a morrer diariamente cerca de 20 mil pessoas de covid-19. Pequim, porém, só admite 40 falecimentos por dia, em mais uma prova da total opressão em que vive a população. Imagens inequívocas veiculadas a partir da China confirmam a catástrofe. Ao ponto de a despedida a familiares estar agora reduzida a dez minutos quando normalmente seria uma hora. Três fatores concorrem para este caos: a súbita abolição da política de covid-zero, a falta de imunidade de grupo e, sobretudo, vacinas que não prestam para nada comparadas com as do Ocidente. A este propósito recorde-se que, em dado momento de pico da pandemia, bloquistas e comunistas insistiram para que Portugal comprasse vacinas chineses e russas. Livrámo-nos de boa, ao ficarmo-nos pela Pfizer e outros fornecedores das democracias liberais, aos quais se pode sempre pedir responsabilidades.
1. Multiplicam-se casos no Governo e no PS. Ontem, o nome de Paulo Cafôfo, secretário de Estado das Comunidade, foi citado por alegado envolvimento em corrupção quando era presidente da Câmara do Funchal. No fim de semana saltaram para a ribalta histórias estranhas sobre a situação da deputada Jamila Madeira e de um ex-candidato a autarca de Portimão que terá feito um acordo de milhares com a autarquia. São mais pasto para o crescimento dos extremos. Não é que nessas franjas todos sejam sérios. É porque não estão no poder. Desorientado, António Costa já não sabe o que fazer. O líder hábil e forte transformou-se num político acossado e, como afirmou a preclara Ana Sá Lopes, no Público, talvez, para safar o PS, a solução seja ele saltar fora. Poderia de facto ser uma forma de desbloquear o imbróglio que paralisa o governo e o país. Mas a tese não é aceite, como se viu no fim de semana numa alargada reunião socialista. Há mesmo assim a probabilidade de a jornalista apenas ter razão antes do tempo. Para salvar a imagem, Costa faz flic-flacs, mas já lhe falta elasticidade e estatela-se sistematicamente. Os amigos começam a afastar-se discretamente. Improvisa todos os dias, dizendo uma coisa e o seu contrário. No fim de semana houve uma alargada reunião de dirigentes do PS. Ouviram-se discursos de treinador de bola derrotado. Coisas do tipo “temos que fazer melhor e aprender com os erros”. António Costa tirou da cartola trinta e seis perguntas para candidatos ao Governo que, obviamente, deviam ter sido feitas a todos os atuais governantes. Se foi o caso, houve muitos que mentiram. Se não foi, é incompetência de Costa que enfiou no Governo pai e filha, marido e mulher e uma inacreditável quantidade de cruzamentos familiares subterrâneos. As perguntas deixam Ana Abrunhosa numa situação eticamente insuportável depois dos fundos atribuídos a interesses do marido. Nada do que está a ser feito melhora a credibilidade governativa ou partidária em geral. Ninguém com a vida feita, transparente e estabilizada gosta de sítios mal frequentados como é a política hoje em dia. Numa primeira fase, Costa tentou que o questionário e o seu conteúdo fossem validados pelo Tribunal de Contas e a Procuradoria-Geral, que recusaram. Tal como está, o documento permanece uma habilidade para corresponsabilizar o Presidente da República pelas escolhas. É estranho como, até ver, Marcelo aceitou o essencial do mecanismo. Do lado da oposição, Montenegro não caiu na esparrela. Mantém firme a ideia de que se trata de uma chico-espertice. O líder do PSD radicalizou o discurso. Percebeu que já não dá para paninhos quentes. Sentiu o perigo que é para ele próprio o domínio da comunicação pelos partidos da situação (Livre, Bloco e PS) e à direita pelo Chega, que tem uma política mediática altamente eficaz. Montenegro abriu um novo ciclo. Fez subir a temperatura política. Daqui para a frente tem de acelerar e marcar diferenças claras. Veremos se o partido e o grupo parlamentar acompanham a dinâmica.
2. A propósito de Montenegro, há que louvar a sua coerência quando um dirigente do PSD se vê envolvido num suposto problema com a Justiça. Mesmo sem ser arguido, quem é colocado sob suspeita sabe que, em princípio, deve suspender as suas principais responsabilidades políticas. Voltou a acontecer agora com Pinto Moreira. Não se permite o arrastar de situações. Mostra desapego dos visados. Dá força moral ao líder. Esta rapidez não pode, porém, facilitar uma forma de abate político-judicial. A justiça não pode ser exibicionista. Deve é ser lesta na investigação, a fim de não destruir a vida de pessoas por minudências. Juízes e procuradores não podem ser detentores de poderes quase ocultos que limitem o exercício da política, da vida económica e social. Deve haver limites, prazos, desculpas e até reparações feitas pelos seus bolsos, se for caso disso. A não responsabilização pessoal dos magistrados não é um dogma eterno. Até a infalibilidade dos Papas foi abolida há muito.
3. Faltam poucos dias para que o Iniciativa Liberal escolha o sucessor de Cotrim de Figueiredo que, inopinadamente, deixou a liderança, depois de ter tirado o partido do anonimato, passando a representação de um para oito deputados. As picardias entre os candidatos à sucessão, a falta de dinâmica objetiva no terreno (a moção de censura foi um fogacho inútil que serviu sobretudo ao Chega) e o absurdo de algumas posições supostamente doutrinárias não deixam antever um futuro glorioso para o IL. Antes pelo contrário. O partido cresceu inicialmente em cima de um grupo social de cidadãos saturado de tanto Estado. O IL queria ser diferente na sua afirmação. Está a falhar. É mais do mesmo. Não será um partido líder. Quando muito será muleta, ao jeito do CDS que Deus tem.
4. Foi muito elogiada a recente prestação de Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos, no Parlamento. Garantiu que a CGD faz questão de devolver os 3,9 mil milhões que os contribuintes lá injetaram. É bonito, mas soou como uma indireta ao Novo Banco e sobretudo à TAP, a qual dificilmente conseguirá fazer o mesmo com os 3,2 mil milhões que recebeu. Mas há muitas diferenças. A TAP presta um serviço inestimável ao país, enfrenta uma pesada concorrência internacional, traz milhares de milhões de retorno indiretos, é um elo de ligação entre o continente e as ilhas, com os PALOP e com as nossas comunidades mais longínquas. Já a CGD não tem especial relevância social (o que não significa que deva ser vendida). Fecha balcões necessários, gasta em “rebranding”, despede gente, tem ordenados opíparos, regalias enormes e esmifra os depositantes, cobrando absurdos por serviços básicos, além de pagar juros miseráveis. Nada disso é boa banca. Banca é pegar no dinheiro e multiplicá-lo, investindo em bons negócios. Onde andam eles?
5. A Câmara de Lisboa quer disciplinar o uso de trotinetas. É tarefa difícil ou até impossível. As trotinetas e bicicletas tornaram-se uma praga e um perigo, embora integrem um novo tipo de mobilidade que deveria ser bem-vindo. A iniciativa camarária tem de ser firme para não ter um efeito nulo como a lei das beatas. Não serviu de nada. O chão está pejado de milhões delas. Ninguém é multado ou responsabilizado. Proibir o tabaco em todo o lado seria um atentado à liberdade individual. No caso das beatas, só se lá vai pela educação ou pelo incentivo à sua apanha, numa operação financiada pelo Estado, uma vez que acumula quantias astronómicas dos impostos das tabaqueiras.
6. Como sempre, os professores estão em luta qualquer que seja o Governo. Têm reivindicações justas, mas nunca aceitam as propostas de solução. O problema de fundo é ser chato dar aulas, lançar notas e avaliar. Tal como os alunos, os nossos professores são imaginativos nos protestos, mas fraquinhos a fazer contas. Só eles é que viram cem mil manifestantes no fim de semana em Lisboa. Há uma espécie de tabuada para essas contagens. Convinha usá-la!
Escreve à quarta-feira