António Costa e Shakira


Por estes dias, nunca o nosso primeiro-ministro António Costa teve tanta similaridade com a popular cantora colombiana Shakira. Similaridade na atitude, distância total na responsabilidade (no impacto também, porque a notoriedade de uma é mundial e do nosso Primeiro-ministro é inferior, claro).


Se Shakira lançou um tema musical que, de forma aparente, foi para criticar/atacar o seu ex-companheiro conjugal, António Costa lançou-se da tribuna da Assembleia da República para criticar/atacar contundentemente uma ex-companheira de Governo. O problema: Os ex.

O ressabiamento, seja de que forma for, sobre algo mal resolvido. Num caso, emocional, no outro ao nível da ética e de conduta de Governo da República.

Se a todos nós, o bem ou mal resolvido da relação pessoal da cantora Shakira com o ex-futebolista Piqué pouco ou nada nos interessa e diz respeito, já o caso mal resolvido de término de relação política do Primeiro-ministro António Costa com a ex-Secretária de Estado, Rita Marques, já é tema de análise e interpretação de todos os portugueses.

Um Primeiro-ministro, em plena função política e em pleno debate na Assembleia da República – sob o manto protetor político de uma maioria absoluta parlamentar – teve necessidade de expor publicamente um “arraso” à ilegalidade que a sua ex-governante Rita Marques iria cometer ao ir gerir uma empresa face à qual a antiga Secretária de Estado atribuiu benefícios. Desespero político? Excesso de casos mal resolvidos com tentativa de fuga? Não saberemos. Saberemos, isso sim, que será sempre mau, perante a sociedade, um caso destes e, também, um tema de debate na Assembleia da República ser sobre falta de ética republicana.

“A pior entrevista que os políticos dão é aos amigos”, disse o conhecido e experiente profissional de Marketing Luís Paixão Martins há dias, em entrevista a propósito do seu novo livro. E muito bem, diria eu, creio que todos entendemos a extensão desta análise. É nestes momentos de excesso de confiança que nascem os disparates memoráveis porque, como disse bem o “marketeiro” na referida entrevista, “os políticos precisam de estar sempre sob tensão”. Confortáveis, os políticos, “perante amigos”, dizem o que querem e o que não pensam. Erram. Porque os cargos públicos carecem de reflexão antes de emitir opiniões. Não podem abrir a boca e falar o que diriam num balcão do café ou num bar entre amigos.

Este, a meu ver, tem sido um grave problema de António Costa.

Ou tem tido vários amigos a entrevistá-lo ou, então, deve sentir-se sempre entre amigos cada vez que fala. É que o Primeiro-ministro tem sido recorrente em manifestações e declarações públicas que estão ao nível das de Shakira: Fazem rir no momento, sabendo que de futuro vão deixar vergonha alheia até à própria por tamanha arrogância e ressabiamento de um descontrolo linguístico, por excesso de emoção em detrimento da razão.

Dos “queques que guincham” desta vida, ninguém se irá esquecer da vergonha alheia que fica associada ao atual Primeiro-ministro por uma frase irrefletida, que teria muita graça num café com amigos mas que é deplorável ouvir de um Primeiro-ministro na tribuna de um Governo na Assembleia da República.

No caso mais recente de António Costa, a sua intervenção foi o reiterar e legitimar o erro de uma governante que ele escolheu, reconduziu em funções e manteve muito tempo no Governo que lidera e coordena.

Este ataque público e político foi o legitimar da desconfiança das pessoas nos critérios e dedicação dos “políticos” à causa pública, quando se vê uma ex-secretária de estado do Turismo sair do Governo já de malas aviadas – sem ousar a própria pensar na ética que devemos ter – para ir dirigir uma empresa do setor que tutelou e à qual atribuiu benefício enquanto foi governante.

É a falência da credibilidade. É a prova que muitos já desistiram de pensar na ética, na credibilidade das instituições e só pensam no seu umbigo.

Se o modus operandi de António Costa, ao estilo Shakira, é aceitável? É pelo menos discutível. Arrasar uma “Ex” (governante) como fez, em primeiro lugar, é sinal de descontrolo. Descontrolo interno, ao nível da relação política que demonstra que tinha uma governante completamente em pista própria e sem respeito pelo Governo em que esteve. Descontrolo externo, porque todo o país percebe o descrédito que uma Governante do país tem pelas instituições, pela causa pública e pela ética que deve reger todo e qualquer português que tenha cargos nos órgãos de soberania do seu país.

De qualquer forma, António Costa tinha razão nas críticas que deixou à sua ex-Secretária de Estado. Porém, a forma e o modelo em que escolheu fazê-lo e denunciá-lo, é sinal de fraqueza política e descontrolo. Haveria sempre outra forma do Governo se pronunciar sobre este erro e ilegalidade que seria cometido.

Estes descontrolos, esta falta de “tensão” nos momentos de debate e entrevista de quem está político está a tornar a credibilidade de toda uma classe muito pífia.

Continuarei do lado mais sério da ética republicana mesmo que deixe de ter sentido para alguns: Outdoors não são para ter graça, redes sociais institucionais não são para chacota e ter imagens cómicas, a Assembleia da República não é para ser palco de piadolas e os debates de ideias nunca podem baixar ao nível de discussão de pessoas. Em suma, um programa político não é possível resumir num tweet no Twitter e uma fotografia no Facebook nunca valerá mais que um encontro cara-a-cara num bairro durante uma campanha autárquica.

Há coisas que não envelhecem, são condição de subsistência.

É fundamental regressarmos ao “pensar antes de falar” porque, como Shakira e António Costa, falam nestes tempos sobre aquilo que um dia vão pensar e entender que não havia necessidade de o terem dito e feito.

António Costa e Shakira


Por estes dias, nunca o nosso primeiro-ministro António Costa teve tanta similaridade com a popular cantora colombiana Shakira. Similaridade na atitude, distância total na responsabilidade (no impacto também, porque a notoriedade de uma é mundial e do nosso Primeiro-ministro é inferior, claro).


Se Shakira lançou um tema musical que, de forma aparente, foi para criticar/atacar o seu ex-companheiro conjugal, António Costa lançou-se da tribuna da Assembleia da República para criticar/atacar contundentemente uma ex-companheira de Governo. O problema: Os ex.

O ressabiamento, seja de que forma for, sobre algo mal resolvido. Num caso, emocional, no outro ao nível da ética e de conduta de Governo da República.

Se a todos nós, o bem ou mal resolvido da relação pessoal da cantora Shakira com o ex-futebolista Piqué pouco ou nada nos interessa e diz respeito, já o caso mal resolvido de término de relação política do Primeiro-ministro António Costa com a ex-Secretária de Estado, Rita Marques, já é tema de análise e interpretação de todos os portugueses.

Um Primeiro-ministro, em plena função política e em pleno debate na Assembleia da República – sob o manto protetor político de uma maioria absoluta parlamentar – teve necessidade de expor publicamente um “arraso” à ilegalidade que a sua ex-governante Rita Marques iria cometer ao ir gerir uma empresa face à qual a antiga Secretária de Estado atribuiu benefícios. Desespero político? Excesso de casos mal resolvidos com tentativa de fuga? Não saberemos. Saberemos, isso sim, que será sempre mau, perante a sociedade, um caso destes e, também, um tema de debate na Assembleia da República ser sobre falta de ética republicana.

“A pior entrevista que os políticos dão é aos amigos”, disse o conhecido e experiente profissional de Marketing Luís Paixão Martins há dias, em entrevista a propósito do seu novo livro. E muito bem, diria eu, creio que todos entendemos a extensão desta análise. É nestes momentos de excesso de confiança que nascem os disparates memoráveis porque, como disse bem o “marketeiro” na referida entrevista, “os políticos precisam de estar sempre sob tensão”. Confortáveis, os políticos, “perante amigos”, dizem o que querem e o que não pensam. Erram. Porque os cargos públicos carecem de reflexão antes de emitir opiniões. Não podem abrir a boca e falar o que diriam num balcão do café ou num bar entre amigos.

Este, a meu ver, tem sido um grave problema de António Costa.

Ou tem tido vários amigos a entrevistá-lo ou, então, deve sentir-se sempre entre amigos cada vez que fala. É que o Primeiro-ministro tem sido recorrente em manifestações e declarações públicas que estão ao nível das de Shakira: Fazem rir no momento, sabendo que de futuro vão deixar vergonha alheia até à própria por tamanha arrogância e ressabiamento de um descontrolo linguístico, por excesso de emoção em detrimento da razão.

Dos “queques que guincham” desta vida, ninguém se irá esquecer da vergonha alheia que fica associada ao atual Primeiro-ministro por uma frase irrefletida, que teria muita graça num café com amigos mas que é deplorável ouvir de um Primeiro-ministro na tribuna de um Governo na Assembleia da República.

No caso mais recente de António Costa, a sua intervenção foi o reiterar e legitimar o erro de uma governante que ele escolheu, reconduziu em funções e manteve muito tempo no Governo que lidera e coordena.

Este ataque público e político foi o legitimar da desconfiança das pessoas nos critérios e dedicação dos “políticos” à causa pública, quando se vê uma ex-secretária de estado do Turismo sair do Governo já de malas aviadas – sem ousar a própria pensar na ética que devemos ter – para ir dirigir uma empresa do setor que tutelou e à qual atribuiu benefício enquanto foi governante.

É a falência da credibilidade. É a prova que muitos já desistiram de pensar na ética, na credibilidade das instituições e só pensam no seu umbigo.

Se o modus operandi de António Costa, ao estilo Shakira, é aceitável? É pelo menos discutível. Arrasar uma “Ex” (governante) como fez, em primeiro lugar, é sinal de descontrolo. Descontrolo interno, ao nível da relação política que demonstra que tinha uma governante completamente em pista própria e sem respeito pelo Governo em que esteve. Descontrolo externo, porque todo o país percebe o descrédito que uma Governante do país tem pelas instituições, pela causa pública e pela ética que deve reger todo e qualquer português que tenha cargos nos órgãos de soberania do seu país.

De qualquer forma, António Costa tinha razão nas críticas que deixou à sua ex-Secretária de Estado. Porém, a forma e o modelo em que escolheu fazê-lo e denunciá-lo, é sinal de fraqueza política e descontrolo. Haveria sempre outra forma do Governo se pronunciar sobre este erro e ilegalidade que seria cometido.

Estes descontrolos, esta falta de “tensão” nos momentos de debate e entrevista de quem está político está a tornar a credibilidade de toda uma classe muito pífia.

Continuarei do lado mais sério da ética republicana mesmo que deixe de ter sentido para alguns: Outdoors não são para ter graça, redes sociais institucionais não são para chacota e ter imagens cómicas, a Assembleia da República não é para ser palco de piadolas e os debates de ideias nunca podem baixar ao nível de discussão de pessoas. Em suma, um programa político não é possível resumir num tweet no Twitter e uma fotografia no Facebook nunca valerá mais que um encontro cara-a-cara num bairro durante uma campanha autárquica.

Há coisas que não envelhecem, são condição de subsistência.

É fundamental regressarmos ao “pensar antes de falar” porque, como Shakira e António Costa, falam nestes tempos sobre aquilo que um dia vão pensar e entender que não havia necessidade de o terem dito e feito.