Manuel Almeida de Rodrigues, residente em Santo Estevão, Viseu, foi encontrado numa valeta da estrada que ligava a Mangualde com graves ferimentos na face e no peito. Por debaixo do seu corpo maltratado descobriu-se a bicicleta em que se deslocava praticamente desfeita. O golpe fora claramente violento. Pelas 22h30, um motociclista comunicou ao posto da Guarda Nacional Republicana mais próximo como dera pelos gemidos muito fracos da vítima. Não restavam dúvidas que se tratava de um caso de atropelamento e fuga. Nesse preciso momento começou a caça ao culpado. Fernando de Jesus Sousa Bernardo, natural da Batalha, camionista de profissão, surgiu a testemunhar que se cruzara com um veículo de grandes proporções mais ou menos à mesma hora que se previu o atropelamento de Manuel Almeida de Rodrigues, que, entretanto, fora hospitalizado com prognóstico reservado. As autoridades não tardaram a deter Fernando dos Santos Midões, habitante de Mangualde, condutor de pesados, que confessou ter entrado em contacto com a vítima por esta lhe ter feito sinal para parar. A conversa fora curta. E, pelos vistos, vazia. O camião de Midões não demonstrava qualquer dano proveniente de um contacto violento como só podia ter sido o que vitimou Almeida de Rodrigues. Não havia nada por onde lhe pegar.
Mas não foi essa a leitura dos agentes de serviço. Ao mesmo tempo que o ciclista agonizava no hospital, as suspeitas acumularam-se em redor de Fernando Midões. O interrogatório prolongou-se pela madrugada, endureceu e o camionista cedeu à pressão. Confessou que dirigindo-se de Viseu para Mangualde lhe surgiu um ciclista em sentido contrário e que o embate se tornou inevitável. Confessou igualmente que, distraindo-se em conversa com o seu ajudante, Joaquim Saraiva, se desviara por momento para a faixa paralela e que, por causa disso, atirara Manuel Almeida de Rodrigues para a valeta. Prosseguiu na confissão de que, tendo parado e reparado na poça de sangue que rodeava a vítima, a tinham encaixado na valeta sobre a bicicleta destruída para dar a sensação de que se tratara de uma queda. Midões jurou a pés juntos que com todo o sangue que brotava do crânio de Rodrigues ficou com a certeza de que este não escaparia à morte. Saraiva questionou o raciocínio do chefe e quis conduzir a vítima ao hospital. Acabaram por fugir. O longo braço da lei caçou-os a tempo. Manuel Almeida de Rodrigues sobreviveria para os ver condenados a uma pena de cadeia.