1 – O caso tornado público relativamente aos quinze contratos adjudicados, por ajuste directo, à sociedade de advogados da qual o actual líder do PSD Luís Montenegro era sócio fundador, com 50% do respectivo capital social, até Julho de 2022 – de entre os quais seis são da Câmara Municipal de Espinho, à data dos factos liderada por Joaquim Pinto Moreira, actual vice-presidente (demissionário) da bancada parlamentar do PSD –, é uma tremenda machadada (de desfecho imprevisível) na credibilidade e na confiança do líder do maior partido da oposição.
A situação, de facto, é preocupante, na medida em que, por mais voltas que se dê ao tema, há manifestamente nestes contratos públicos – independentemente da verificação de licitude dos mesmos – uma óbvia ligação entre os representantes dos respectivos contraentes que não pode deixar de relevar e que é impossível ignorar.
Por conseguinte, considero um muito mau sinal a forma leviana e pouco exigente como as hostes social-democratas têm vindo a reagir nas suas páginas pessoais das várias redes sociais ao caso em si mesmo considerado e à entrevista que ontem o presidente do PSD concedeu à SIC.
A denominada técnica "virar o bico ao prego" e o ataque feito em uníssono ao jornalista que conduziu a entrevista é exactamente o mesmo tipo de expediente que abundantemente utiliza o PS. Pelo que, percebe-se agora bastante melhor, por que razão o PSD se absteve na moção de censura ao Governo apresentada pela Iniciativa Liberal, no parlamento, na passada semana.
Posto isto, fácil é a conclusão de que, como se costuma popularmente dizer, "assim não vamos lá". Aliás, assim não vamos a lado absolutamente nenhum!
De resto, na referida entrevista, saltou à vista desarmada uma tentativa frouxa e algo desesperada de Montenegro em empurrar Pedro Passos Coelho para a Presidência da República ou para a Europa, o que constitui uma brincadeira de algum, para não dizer muito, mau gosto, nomeadamente por vir de quem só é alguém na política graças ao outro.
Ou muito me engano ou Luís Montenegro não será nunca Primeiro-Ministro de um Governo em Portugal. Mas poderia – não fora este infortúnio e esta entrevista tosca – manter-se como presidente do seu partido.
Aliás, ontem mesmo, naquela entrevista, poderia ter provado ser esse presidente do PSD. Um líder magnânimo e de enorme rasgo político se – perante a provocação do Bernardo Ferrão sobre o futuro político de Pedro Passos Coelho – dissesse de forma clara, sem ambiguidades nem tibiezas que, com ele (Montenegro) na liderança do PSD, Pedro Passos Coelho poderá, se assim quiser e desejar, ser o próximo Primeiro-Ministro do Governo da República apoiado pelo PSD.
Isso sim, seria uma monumental demonstração de liderança partidária, de pensamento político estruturado e de visão estratégica. Uma ideia, um projecto e um plano. Características típicas de um estadista aliadas a outras tantas, nessa circunstância inevitáveis, como a humildade, o altruísmo e um irrepreensível sentido de Estado que um tal posicionamento desta natureza implicaria e que lhe proporcionaria um imediato e galopante reconhecimento público.
Além de que seria bonito de se ver e de ouvir. Aliás, é disso que, na realidade, o país precisaria tal como escrevi na semana passada nesta minha coluna de opinião e, estou certo, os eleitores validariam em futuras eleições legislativas.
Por outra banda, é tempo de em Portugal se acabar com o patético mito de que o Primeiro-Ministro tem forçosamente de ser o líder do respectivo partido político. Nada, pois, de mais errado e democraticamente pouco evoluído, como é manifesto pelos vários exemplos de outros países politicamente mais enxutos e desenvolvidos!
2 – Já relativamente ao "mecanismo de controlo dos governantes", ontem anunciado ao país pelo Governo, de uma forma muito pouco convincente, feita em cima dos acontecimentos, sem nenhuma serenidade, nem planeamento, sem estudo crítico que o sustente nem razão de ciência habilitante mas, ainda assim, apresentado pela insanável Ministra Mariana Vieira da Silva, no briefing semanal do Conselho de Ministros com os diferentes órgãos de comunicação social, estamos perante uma qualquer coisa inatingível, i.e., um mero processo de intenção.
Quanto a este assunto sejamos honestamente claros: o controlo de qualidade dos políticos deve ser feito logo à entrada na política, ou seja, nos respectivos partidos políticos. Assim, em vez de trazerem e admitirem gente – sabe Deus donde e com que objectivos – criando pequenos exércitos de idiotas úteis de modo a poderem controlar os votos na cacicagem local, regional e nacional, sejam exigentes, muito mais exigentes, na admissão de novos militantes. Se o fizerem terão, seguramente, meaiores garantias de sucesso quanto às questões de carácter, de idoneidade, de seriedade e de ética.
E, se aliado a essa exigência de militância partidária, trouxerem para o Governo gente do saber, académicos respeitados, técnicos competentes, sempre disponíveis para contribuir para seu país – ao invés de se rodearem de gente esquisita oriunda do submundo da ‘pulhítica’ com quem, estranhamente, o nosso Primeiro-Ministro parece gostar de se envolver, como disso temos tido prova bastante, a última das quais ainda ontem com a demissão de mais um desses execráveis –, então o problema será resolvido definitivamente, sem ridículos mecanismos de controlo de governantes, como se o Governo fosse composto por adolescentes de escola secundária, imberbes e muito idiotas, que precisam da orientação de um adulto na sala que os controle de maneira a não fazerem asneiras nem disparates e a não se desgraçarem.
Este mecanismo de controlo é uma ideia arrepiante que mais não é do que a confissão integral do falhanço total e completo que é a marca indelével deste Governo do PS no exercício do poder político.
É tempo da ‘pulhítica’ dar lugar à política!
Jurista
Membro da Iniciativa Liberal
Escreve de acordo com a antiga ortografia.