Muito se tem falado, nos últimos tempos, de estabilidade na política e na sociedade.
Estabilidade e esperança andam, porém, ligadas.
Estabilidade sem esperança conduz apenas ao marasmo.
Só a esperança permite a uma sociedade manter a estabilidade necessária ao progresso.
Sem esperança, limitada à imobilidade, a sociedade – os cidadãos – tende a perder a capacidade de superar as contrariedades que afetam todos, especialmente aqueles que, vivendo pior, acreditam, ainda, que os sacrifícios que quotidianamente lhes são pedidos têm por finalidade melhorar o seu futuro e o dos seus filhos.
A estabilidade com esperança é única forma de a sociedade – constituída pelos que vivem melhor ou pior – se manter unida, pelo menos em torno de alguns objetivos comuns.
A não existir esperança, a estabilidade tende a ser vista por muitos – designadamente aqueles a quem falta tempo para superar a sua pobre condição – apenas como retrocesso.
A esperança numa vida melhor é que justifica a mensagem política e a diferencia do mais técnico, limitado e por vezes cruel discurso económico atual.
A «economia que mata», nas palavras do Papa Francisco.
Um dos problemas mais graves dos tempos de hoje reside precisamente no facto de a mensagem política se ter subordinado a constrangedores critérios económicos, que traduzem, afinal, também eles, uma ideologia política bem determinada.
Por exemplo, a mensagem política sobre a crise da habitação – direito que a Constituição contempla – só tem sentido se ela perspetivar, em tempo útil e para toda uma nova geração de cidadãos, a superação das dramáticas carências atuais.
A quem sofre, por não almejar sequer ter para si e para os seus uma habitação digna e minimamente confortável, de pouco interessa a inauguração de um conjunto de apartamentos construídos para satisfazer somente uns poucos que estão na mesma situação.
O que lhe interessa é saber se, em tempo útil, chegará o seu tempo de, também, poder entrar numa habitação digna.
O que o faz esperar e desejar estabilidade numa qualquer solução política é estar convencido de que também a si, por via dessa opção estratégica, caberá a vez de inaugurar uma residência confortável.
Do ponto de vista político, a estabilidade tem de comportar, pois, uma perspetiva de mudança e de resposta efetiva às expectativas da sociedade e, designadamente, às daqueles que veem a sua vida atual envolta em dificuldades quotidianas e que – de acordo com o discurso político e económico dominante – são inultrapassáveis.
É no vazio, que a falta de esperança sempre produz, que as mensagens políticas mais mistificatórias tendem a prosperar.
É nesse espaço e nesse tempo vazios que o populismo, invocando uma mirífica estabilidade passada, assenta o seu discurso encantatório.
Os cidadãos sabem – não são parvos – que nem tudo se pode fazer de repente, mas sabem, também, que a opção por uma ou outra prioridade pode condicionar, para melhor ou para pior, a sua qualidade de vida e a dos seus.
Por isso, quando alcançam que não há política que alivie as suas frustrações, desesperam e desacreditam na democracia e nos políticos que com ela se identificam.
Incutir esperança numa sociedade habituada – pelo menos a sua maior parte – a suportar todo o tipo de limitações e sacrifícios significa, portanto, apresentar trabalho feito e perspetivar, com realismo e credibilidade, prazos verosímeis para ir ultrapassando as injustas limitações que hoje continuam a mortificar setores inteiros dela.
É no plano do real, do palpável, e não no do discurso tonitruante – onde sempre perdem – que os democratas podem e devem vencer o radicalismo irracional, mas encantatório, dos populistas que brandem apenas com as imagens deformadas de um, nunca existente, passado de ouro, que dizem querer repetir.
Combinando realismo com perspetivas credíveis e verificáveis, e através do cumprimento tempestivo dos compromissos assumidos, é possível fortalecer a esperança da sociedade e combater, assim, a instabilidade que os inimigos da democracia querem criar.
Só assegurando as propostas inovadoras e justas e os compromissos sociais, antes assumidos, se consegue, agora, suplantar o ambiente hostil criado pelos que, com alguma inteligência e muita manha, se limitam a explorar, diariamente, e com êxito crescente, os disparates, as desatenções, as fraquezas, os erros e as negligências que, de maneira incompreensível, acontecem.
Só ouvindo os que, nas ruas, nos locais de trabalho e nos poucos media que ainda lhes dão voz, expõem os problemas reais e tangíveis da maioria dos cidadãos e procurando, deste modo, resolver as suas dificuldades atuais e apreensões com o futuro é possível ultrapassar a ideia de que a estabilidade e instabilidade políticas se circunscrevem, apenas, às errâncias e disputas mesquinhas dos que assumem ou se propõem assumir responsabilidades institucionais.
Só congregando, de novo, o posicionamento crítico dos que – mesmo tendo posições e propostas políticas próprias – contribuíram, contudo, para perspetivar e acelerar as soluções dos problemas mais prementes de grande parte dos cidadãos, é viável, hoje, limitar o desgaste contínuo que, no plano interno e externo, está a acontecer a nível institucional.
Para criar estabilidade e confiança é preciso, portanto, dar lugar e visibilidade à «Política» e, sem menosprezar os atropelos e erros patéticos cometidos e as suas causas, relegar para o seu devido lugar as politiquices daninhas com que se ofuscam, atualmente, a realidade e os problemas verdadeiros da maioria dos cidadãos.