Numa altura em que a maior parte do mundo já se esqueceu dos cuidados que tinha durante a pandemia, a China está a (re)aprender a viver com o SARS-CoV-2, após o Governo ter eliminado as medidas zero-covid, apesar de estar a registar inúmeros novos casos de infeção.
Pessoas de máscara começam a invadir os metros de cidades como Pequim e Xangai, os carros voltaram a encher as estradas e a gerar trânsito nas principais artérias destas cidades, os mercados de Natal encontravam-se sobrelotados, enquanto destinos turísticos como a Disneyland ou os Estúdios da Universal registam enormes filas – tudo isto são exemplos oferecidos pela Reuters de como a China está a seguir em frente com a pandemia.
“A China é o último grande país a começar a tratar a covid-19 como uma doença endémica. As suas medidas de contenção desaceleraram a economia cerca de 17 mil milhões de dólares (aproximadamente, 16 mil milhões de euros), a sua taxa de crescimento mais baixa em quase meio século, interrompendo cadeias de fornecimento e o comércio globais”, escreve a agência de notícias. “É esperado que a economia sofra ainda mais a curto prazo, à medida que a onda do covid se espalha para zonas onde predomina a manufatura e as forças de trabalho adoeçam, antes de recuperar no próximo ano”, afirmam analistas à Reuters.
Até a entrada neste país, assim como em Macau, uma das regiões administrativas especiais da República Popular da China, passou a ser facilitada, uma vez que deixou de ser obrigatório fazer teste à chegada.
Depois de entrar no território, é atribuído o código de saúde “amarelo”, devendo “efetuar diariamente o teste rápido de antigénio (…) durante cinco dias consecutivos a partir do dia seguinte à entrada”, o que permite ao portador sair de casa e até trabalhar, caso seja autorizado, especifica um comunicado do governo de Macau.
Após enviar o resultado negativo para a covid-19 para uma plataforma para teste rápido de antigénio no quinto dia, o código de saúde adotará a cor “verde”, o que permite o seu portador efetuar qualquer tipo de movimento.
Caso o teste de positivo, o código de saúde passará a “vermelho” e “será aplicada a medida de isolamento domiciliário para pessoas infetadas”.
A fuga dos idosos Depois de um período de elevada exigência por parte do Governo de forma a aplacar a covid-19, parece estranho observar as autoridades a aliviar as restrições para controlar a pandemia e, por exemplo, este domingo, a comissão nacional de saúde anunciou que ia deixar de publicar os registos diários de mortes e infeções.
A decisão de eliminar a contagem diária do vírus não foi justificada pelo Governo e ocorre perante preocupações de que a crescente onda de infeções do país não esteja a ser refletida com precisão nas estatísticas oficiais.
Na semana passada, Pequim admitiu que após o fim dos testes obrigatórios em massa tornou-se impossível controlar eficazmente a escala do mais recente surto de covid.
“O Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças publicará informações sobre o surto para fins de referência e pesquisa”, disse o instituto, citado pela Al Jazeera, sem especificar o tipo ou a frequência das informações a serem publicadas.
Segundo a Bloomberg, cerca de 37 milhões de pessoas na China podem ter sido infetadas com covid-19 apenas num único dia da semana passada, informaram na passada sexta-feira, citando estimativas das principais autoridades de saúde da China.
Desde que as restrições foram levantadas, apenas foram reportadas seis mortes por covid, no entanto trabalhadores de crematórios, entrevistados pela agência de notícias AFP, tem relatado um fluxo elevado de corpos, enquanto diversos trabalhadores de hospitais disseram que estão a registar várias mortes por dia, à medida que as enfermarias se enchem de pacientes idosos.
Também tem sido reportado que idosos tem abandonado as grandes cidades chinesas de forma a evitar a pandemia.
“A situação da covid está muito complicada agora”, disse Shuwen Lu, de 24 anos, ao meio de comunicação do Médio Oriente, descrevendo como os seus avós foram ajudados a abandonar Pequim, em detrimento de uma pequena vila, onde a família tem uma casa. “Se eles tivessem ficado na cidade, em breve poderiam ter se juntado aos inúmeros idosos que estão a morrer agora”, disse.
A população idosa da China (cerca de 17,84% da população tem 60 ou mais anos) apresenta taxas de vacinação bastante baixas, o que as deixa mais particularmente vulneráveis à infeção, algo que é atribuído à estratégia de vacinação chinesa no início da pandemia, quando as vacinas foram inicialmente priorizadas para trabalhadores essenciais para garantir que a economia não parasse em caso de grandes surtos.
Segundo o Al Jazeera, na China, dois terços das pessoas com 80 anos ou mais anos foram vacinadas e cerca de 40% receberam uma injeção de reforço na atual onda de infeções.