Os dados mais recentes confirmam o que todos intuímos. Estamos a assistir a uma imparável vaga de emigração qualificada, a qual, a manter-se, tornará o país mais frágil em todas as dimensões da vida social. Porquê? Desde logo, o mundo mudou: hoje, não é apenas o capital que goza de mobilidade, os recursos humanos, num tempo em que a língua deixou de ser barreira; a família e os amigos deixaram de estar longe – vide as formas de comunicação e de locomoção que nos trazem mais perto do que nunca –; as carreiras são mais suscetíveis de ser internacionais; foi demolido o edifício de burocracias que impedia o acesso a viver no estrangeiro e a beneficiar de acesso a bens providos pelo Estado em condições idênticas aos autóctones, como a saúde ou a segurança social. E, enquanto o mundo mudou, nós não nos adaptamos. Não percebemos que esta transformação iria traduzir-se numa nova concentração de recursos, não apenas os mais ricos, mais dinâmicos, os dominadores das relações internacionais, e os que se elevavam na escala de valor, por força da educação e da tecnologia, mas agora também, para nossa desgraça, os que conseguem atrair os melhores recursos humanos numa escala nunca vista. Portugal ou muda de vida ou vai assistir à partida dos seus melhores. Vai educá-los, prepará-los, muni-los do conhecimento, mas não vai beneficiar do que lhes deu. Seremos um mercado de exportação, mas a deixar sair os nossos ativos a custo zero, fazendo-os substituir por outros, por norma, muito menos qualificados. Resultado: criamos menos valor e mantemos uma economia de baixa qualificação. É isto que significa trocar ases por duques.
Ex-deputado à Assembleia da República pelo PSD