Desígnios necessários (mas não suficientes)


A robustez orçamental e a consolidação das qualificações são dois pilares necessários para o salto estrutural. Mas não são suficientes. A visão estratégica está dispersa.


António Costa deu na passada semana uma extensa entrevista à revista Visão que teve a enorme virtude de fazer regressar o futuro político, económico e social do país ao centro das atenções e dos debates, gerando concordâncias e discordâncias que sendo muitas vezes centradas na forma, no tom e no estilo. ultrapassaram essa barreira da espuma das perceções e foram ao cerne das estratégias, das perspetivas e dos desígnios.

Transmitindo uma imagem de determinação, em que alguns viram mesmo uma ponta de excesso de confiança, o Primeiro-ministro identificou os dois desígnios chave da sua visão para o futuro do País; as contas certas e a qualificação das pessoas, das empresas e dos territórios. São dois desígnios necessários, mas não suficientes para fazermos desta década, o tempo do salto estrutural que vimos perseguindo e que é agora mais possível e necessário que nunca.

Vivemos na crise anterior um período de descontrolo da dívida que nos entregou à degola dos mercados e às mãos dos tecnocratas da troika. O preço que todos pagámos, sobretudo as famílias e as empresas mais vulneráveis, foi brutal. Embora as sociedades tenham uma memória cada vez mais curta, o massacre social e económico da troika será lembrado por muito tempo.

Para além da destruição de sonhos e patrimónios, o tempo de subserviência e usura a que o Governo PSD/CDS que exercia na altura se associou com entusiasmo, descapitalizou o país levando ao encerramento de milhares de pequenas e médias empresas e à sangria de competências que hoje tão necessárias seriam para termos mais músculo para tirar partido dos recursos financeiros de que dispomos para a recuperação. A reputação financeira do país ficou de rastos e as taxas de juro da dívida pública ou do financiamento empresarial nos mercados asfixiaram o investimento e o crescimento. Num novo contexto de crise, agravado pelas tensões inflacionistas em todo o Globo, as contas certas são um desígnio de responsabilidade e sensibilidade política que tem que mobilizar toda a sociedade portuguesa.

O mesmo acontece com a aposta transversal nas qualificações, designadamente da consolidação da redução do abandono escolar, da aposta na criação de centros tecnológicos de última geração onde se gera conhecimento e capacidade de inovação em benefício das empresas e da modernização das administrações públicas e privadas e onde tem que ser criado o capital social necessário para uma transformação estrutural bem-sucedida.

A robustez orçamental e a consolidação das qualificações são dois pilares necessários para o salto estrutural. Mas não são suficientes. A visão estratégica está dispersa. Não há uma narrativa mobilizadora, que criando sinergias e foco, nos impulsione para outro patamar de produtividade e daí para outra capacidade de empolgar e remunerar os profissionais de que o País necessita nos vários setores do serviço público e do setor privado e social, e em particular as novas gerações altamente qualificadas, para fazerem de Portugal não apenas o seu país do coração, mas também o seu país de eleição para viver, criar valor e gerar uma espiral de crescimento sustentável e inclusivo, que não deixando ninguém para trás, também não seja propício à partida dos que se destacam.

 

Eurodeputado do PS

Desígnios necessários (mas não suficientes)


A robustez orçamental e a consolidação das qualificações são dois pilares necessários para o salto estrutural. Mas não são suficientes. A visão estratégica está dispersa.


António Costa deu na passada semana uma extensa entrevista à revista Visão que teve a enorme virtude de fazer regressar o futuro político, económico e social do país ao centro das atenções e dos debates, gerando concordâncias e discordâncias que sendo muitas vezes centradas na forma, no tom e no estilo. ultrapassaram essa barreira da espuma das perceções e foram ao cerne das estratégias, das perspetivas e dos desígnios.

Transmitindo uma imagem de determinação, em que alguns viram mesmo uma ponta de excesso de confiança, o Primeiro-ministro identificou os dois desígnios chave da sua visão para o futuro do País; as contas certas e a qualificação das pessoas, das empresas e dos territórios. São dois desígnios necessários, mas não suficientes para fazermos desta década, o tempo do salto estrutural que vimos perseguindo e que é agora mais possível e necessário que nunca.

Vivemos na crise anterior um período de descontrolo da dívida que nos entregou à degola dos mercados e às mãos dos tecnocratas da troika. O preço que todos pagámos, sobretudo as famílias e as empresas mais vulneráveis, foi brutal. Embora as sociedades tenham uma memória cada vez mais curta, o massacre social e económico da troika será lembrado por muito tempo.

Para além da destruição de sonhos e patrimónios, o tempo de subserviência e usura a que o Governo PSD/CDS que exercia na altura se associou com entusiasmo, descapitalizou o país levando ao encerramento de milhares de pequenas e médias empresas e à sangria de competências que hoje tão necessárias seriam para termos mais músculo para tirar partido dos recursos financeiros de que dispomos para a recuperação. A reputação financeira do país ficou de rastos e as taxas de juro da dívida pública ou do financiamento empresarial nos mercados asfixiaram o investimento e o crescimento. Num novo contexto de crise, agravado pelas tensões inflacionistas em todo o Globo, as contas certas são um desígnio de responsabilidade e sensibilidade política que tem que mobilizar toda a sociedade portuguesa.

O mesmo acontece com a aposta transversal nas qualificações, designadamente da consolidação da redução do abandono escolar, da aposta na criação de centros tecnológicos de última geração onde se gera conhecimento e capacidade de inovação em benefício das empresas e da modernização das administrações públicas e privadas e onde tem que ser criado o capital social necessário para uma transformação estrutural bem-sucedida.

A robustez orçamental e a consolidação das qualificações são dois pilares necessários para o salto estrutural. Mas não são suficientes. A visão estratégica está dispersa. Não há uma narrativa mobilizadora, que criando sinergias e foco, nos impulsione para outro patamar de produtividade e daí para outra capacidade de empolgar e remunerar os profissionais de que o País necessita nos vários setores do serviço público e do setor privado e social, e em particular as novas gerações altamente qualificadas, para fazerem de Portugal não apenas o seu país do coração, mas também o seu país de eleição para viver, criar valor e gerar uma espiral de crescimento sustentável e inclusivo, que não deixando ninguém para trás, também não seja propício à partida dos que se destacam.

 

Eurodeputado do PS