Eu, o abstinente!


Como não somos nenhuns meninos nem nenhuns pacóvios, não vamos fingir que em Doha só se bebe álcool em lugares muito restritos certificados para o efeito.


LUSAIL – No dia 15 de julho de 2018, depois de ter assistido à vitória clara da França sobre a Croácia na final do Mundial da Rússia, caminhei longamente pelas ruas de Moscovo até que o céu desse espaço à madrugada. Uma forma de despedida, se quiserem, observar os foliões que procuram ainda manter-se em pé, que gritam desafinados e que vertem excrescências juntos aos postes ou sobre arbustos utilizando os orifícios que têm mais à mão. Cada caso um caso, no entanto. Percorro as ruas apinhadas de Meshreib em direcção ao porto e ao Corniche, a zona ribeirinha fechada para uso exclusivos dos peões e sinto o Gilbert Bécaud meter-me o dedo na ferida tal e qual São Tomé fez ao Cristo: “Et maintenant que vais-je faire/De tout ce temps que sera ma vie…” Passo pelo edifício que tem, lá no alto, a Shamrock Tavern, com Guinness a 48 Rials e Hoegaarden a 46 (à pressão), e Leffe e Kilkenny de garrafa, a 39 e 46 respectivamente. Esta minha versão muçulmana que se manifestou há precisamente 32 dias não renega, como nenhuma das outras versões renegou, todo o bem que o álcool e seus derivados contribuíram para o que já escrevi. Como não somos nenhuns meninos nem nenhuns pacóvios, não vamos fingir que em Doha só se bebe álcool em lugares muito restritos certificados para o efeito. Essas são as tiorgas sociais que não passam de uma descarga de vomitado no WC. O meu caseiro Atef insiste em deixar-me umas latas de Tuborg no frigorífico, mas, cumpro serenamente a minha penitência.

Os árabes – muçulmanos, claro! – podem embirrar com a ingestão de álcool mas foram os patifes que inventaram o sarilho: álcool vem de al-kohul, processo de destilação de um produto que começou inicialmente a ser utilizado nos enfeites faciais das mulheres. Deve ser por isso que aqui se diz que o homem é um animal de hábitos e a mulher um animal de maus-hábitos. Há quatro anos tivemos o Mundial da vodka e cumpri as minhas noites de camoeca. Gosto de respeitar tradições. O meu mano Francisco Febrero (por extenso Xitó) que o diga. Ainda havemos de ir a um Mundial na Jamaica, fazer como os Procol Harum, e viver de rum. Ou ele aproveita a reforma à séria: “I’m buying an Island somewhere in the sun/I’ll hide from the natives, live only on rum”. Gordo, por mim é contigo.

Eu, o abstinente!


Como não somos nenhuns meninos nem nenhuns pacóvios, não vamos fingir que em Doha só se bebe álcool em lugares muito restritos certificados para o efeito.


LUSAIL – No dia 15 de julho de 2018, depois de ter assistido à vitória clara da França sobre a Croácia na final do Mundial da Rússia, caminhei longamente pelas ruas de Moscovo até que o céu desse espaço à madrugada. Uma forma de despedida, se quiserem, observar os foliões que procuram ainda manter-se em pé, que gritam desafinados e que vertem excrescências juntos aos postes ou sobre arbustos utilizando os orifícios que têm mais à mão. Cada caso um caso, no entanto. Percorro as ruas apinhadas de Meshreib em direcção ao porto e ao Corniche, a zona ribeirinha fechada para uso exclusivos dos peões e sinto o Gilbert Bécaud meter-me o dedo na ferida tal e qual São Tomé fez ao Cristo: “Et maintenant que vais-je faire/De tout ce temps que sera ma vie…” Passo pelo edifício que tem, lá no alto, a Shamrock Tavern, com Guinness a 48 Rials e Hoegaarden a 46 (à pressão), e Leffe e Kilkenny de garrafa, a 39 e 46 respectivamente. Esta minha versão muçulmana que se manifestou há precisamente 32 dias não renega, como nenhuma das outras versões renegou, todo o bem que o álcool e seus derivados contribuíram para o que já escrevi. Como não somos nenhuns meninos nem nenhuns pacóvios, não vamos fingir que em Doha só se bebe álcool em lugares muito restritos certificados para o efeito. Essas são as tiorgas sociais que não passam de uma descarga de vomitado no WC. O meu caseiro Atef insiste em deixar-me umas latas de Tuborg no frigorífico, mas, cumpro serenamente a minha penitência.

Os árabes – muçulmanos, claro! – podem embirrar com a ingestão de álcool mas foram os patifes que inventaram o sarilho: álcool vem de al-kohul, processo de destilação de um produto que começou inicialmente a ser utilizado nos enfeites faciais das mulheres. Deve ser por isso que aqui se diz que o homem é um animal de hábitos e a mulher um animal de maus-hábitos. Há quatro anos tivemos o Mundial da vodka e cumpri as minhas noites de camoeca. Gosto de respeitar tradições. O meu mano Francisco Febrero (por extenso Xitó) que o diga. Ainda havemos de ir a um Mundial na Jamaica, fazer como os Procol Harum, e viver de rum. Ou ele aproveita a reforma à séria: “I’m buying an Island somewhere in the sun/I’ll hide from the natives, live only on rum”. Gordo, por mim é contigo.