Tempo de Escolhas


Se o modelo de convivência global for baseado numa matriz multilateral e multicultural a União Europeia, potência económica e não militar, pode arbitrar a transição e fugir à subserviência e à irrelevância geopolítica.


Sou a favor de uma globalização justa e em que todos possam ganhar. Os tempos mais recentes não têm sido favoráveis a esta visão que muitos qualificam de utópica ou ingénua, mas que é a matriz que alimenta as grandes organizações multilaterais de que a Organização das Nações Unidas (ONU) é o principal expoente. Mesmo sujeita a muitas pressões nacionalistas e protecionistas não acredito que a Globalização se vá desmoronar nos próximos tempos. Ela está inscrita em múltiplas plataformas e é sustentada pela consciência de que os problemas mais complexos com que a humanidade se confronta são problemas globais e que só podem ser resolvidos com respostas globais.

O eixo fundamental da globalização está, no entanto, em acelerada mudança. Já não é a designada divisão internacional do trabalho a impor as suas regras, pelos riscos de autonomia estratégica que isso acarreta. O “Choque de Civilizações” de Samuel Huntington sobreviveu melhor ao confronto com a realidade, do que o “Fim da História” de Francis Fukuyama.

A grande questão com que nos confrontamos neste tempo de escolhas é como podemos conter o choque civilizacional e usar as forças em presença para passarmos a um novo patamar de globalização justa, que acomode narrativas diferenciadas, mas consiga salvar os valores universais, em particular os valores da paz, da liberdade, da soberania e da dignidade, que têm vindo a ser postos em causa pelas efabulações neoimperialistas dos iliberais de diferentes extrações e matizes.

No modelo da otimização da divisão internacional do trabalho, olhando para os níveis de investimento em ciência e inovação e para a dimensão das empresas de nova geração criadas, o mundo está circunscrito ao choque ou à articulação entre os Estados Unidos da América e a China. No entanto, se o modelo prevalecente for o dos valores, o choque ou a articulação poderá ter como pivots outros protagonistas. É neste espaço que a União Europeia, se não se dividir internamente, pode assegurar a sua relevância geopolítica e geoestratégica.

Para isso a União Europeia não deve hesitar em colocar em todos os tabuleiros a sua narrativa vencedora de paz e liberdade e de potência relacional e ponte contra a segmentação do mundo. Nos múltiplos contactos que resultam do meu mandato como parlamentar europeu, cada vez mais focado nas questões do desenvolvimento sustentável e na aplicação de uma matriz multipolar de cooperação e compreensão mútua, sinto que se tem vindo a tornar mais vocal, e muitas vezes justificada, a crítica de que a União Europeia está demasiado virada para si própria, o que limita a sua capacidade para ser uma referência fora do seu espaço. No entanto, quando pergunto onde os meus interlocutores, caso não pudessem viver no seu território de origem, gostariam de viver, uma esmagadora maioria responde União Europeia.

Se o modelo de convivência global for baseado numa matriz multilateral e multicultural a União Europeia, potência económica e não militar, pode arbitrar a transição e fugir à subserviência e à irrelevância geopolítica. Que seja essa a escolha de quem a dirige e dos seus povos, é um dos meus desejos para o ano novo que aí vem.

 

Eurodeputado do PS

Tempo de Escolhas


Se o modelo de convivência global for baseado numa matriz multilateral e multicultural a União Europeia, potência económica e não militar, pode arbitrar a transição e fugir à subserviência e à irrelevância geopolítica.


Sou a favor de uma globalização justa e em que todos possam ganhar. Os tempos mais recentes não têm sido favoráveis a esta visão que muitos qualificam de utópica ou ingénua, mas que é a matriz que alimenta as grandes organizações multilaterais de que a Organização das Nações Unidas (ONU) é o principal expoente. Mesmo sujeita a muitas pressões nacionalistas e protecionistas não acredito que a Globalização se vá desmoronar nos próximos tempos. Ela está inscrita em múltiplas plataformas e é sustentada pela consciência de que os problemas mais complexos com que a humanidade se confronta são problemas globais e que só podem ser resolvidos com respostas globais.

O eixo fundamental da globalização está, no entanto, em acelerada mudança. Já não é a designada divisão internacional do trabalho a impor as suas regras, pelos riscos de autonomia estratégica que isso acarreta. O “Choque de Civilizações” de Samuel Huntington sobreviveu melhor ao confronto com a realidade, do que o “Fim da História” de Francis Fukuyama.

A grande questão com que nos confrontamos neste tempo de escolhas é como podemos conter o choque civilizacional e usar as forças em presença para passarmos a um novo patamar de globalização justa, que acomode narrativas diferenciadas, mas consiga salvar os valores universais, em particular os valores da paz, da liberdade, da soberania e da dignidade, que têm vindo a ser postos em causa pelas efabulações neoimperialistas dos iliberais de diferentes extrações e matizes.

No modelo da otimização da divisão internacional do trabalho, olhando para os níveis de investimento em ciência e inovação e para a dimensão das empresas de nova geração criadas, o mundo está circunscrito ao choque ou à articulação entre os Estados Unidos da América e a China. No entanto, se o modelo prevalecente for o dos valores, o choque ou a articulação poderá ter como pivots outros protagonistas. É neste espaço que a União Europeia, se não se dividir internamente, pode assegurar a sua relevância geopolítica e geoestratégica.

Para isso a União Europeia não deve hesitar em colocar em todos os tabuleiros a sua narrativa vencedora de paz e liberdade e de potência relacional e ponte contra a segmentação do mundo. Nos múltiplos contactos que resultam do meu mandato como parlamentar europeu, cada vez mais focado nas questões do desenvolvimento sustentável e na aplicação de uma matriz multipolar de cooperação e compreensão mútua, sinto que se tem vindo a tornar mais vocal, e muitas vezes justificada, a crítica de que a União Europeia está demasiado virada para si própria, o que limita a sua capacidade para ser uma referência fora do seu espaço. No entanto, quando pergunto onde os meus interlocutores, caso não pudessem viver no seu território de origem, gostariam de viver, uma esmagadora maioria responde União Europeia.

Se o modelo de convivência global for baseado numa matriz multilateral e multicultural a União Europeia, potência económica e não militar, pode arbitrar a transição e fugir à subserviência e à irrelevância geopolítica. Que seja essa a escolha de quem a dirige e dos seus povos, é um dos meus desejos para o ano novo que aí vem.

 

Eurodeputado do PS