Dois anos e sete meses de prisão para presidente da Câmara de Istambul

Dois anos e sete meses de prisão para presidente da Câmara de Istambul


Ekrem Imamoglu foi acusado de insultar membros do Supremo Conselho Eleitoral da Turquia. Mas há quem acredite que se trata de um golpe para o afastar das eleições do próximo ano.


Um tribunal turco condenou esta quarta-feira o presidente da Câmara de Istambul (a cidade mais populosa do país, assim como da Europa) a dois anos e sete meses de prisão, por insultar membros do Supremo Conselho Eleitoral da Turquia. Ekrem Imamoglum é dos principais rostos da oposição ao Presidente, Recep Tayyip Erdogan.

Imamoglum foi também banido da vida política, significando isto que pode vir a ser destituído do cargo. O autarca, que pertence ao maior partido da oposição, deverá, porém, recorrer do veredicto.

Recorde-se que as eleições turcas vão realizar-se já em junho do próximo ano, e, por isso mesmo, são vários os que acreditam que o julgamento de Imamoglu foi uma tentativa de eliminar um dos principais opositores do atual Presidente, numa altura em que as sondagens indicam uma descida acentuada da popularidade de Erdogan – devido a vários fatores, entre os quais a crise migratória e uma inflação superior a 84%.

E é importante sublinhar que não se trata apenas de “mais umas” eleições. Em 2023, celebra-se o centenário da república turca, o que, especialmente para Erdogan, seria uma oportunidade simbólica para solidificar a sua posição.

Ekrem Imamoglu foi eleito para liderar Istambul em março de 2019 e a sua vitória foi um choque para o Presidente turco, que esteve à frente daquela cidade durante um quarto de século. A vitória de Imamoglu caiu de tal forma mal a Erdogan, que o seu partido fez pressão, inclusive, para anular as eleições, alegando irregularidades. Assim, meses depois, a eleição foi repetida, mas o resultado foi o mesmo.

O autarca de Istambul foi acusado de insultar altos funcionários públicos depois de dizer que cancelar as eleições legítimas de novembro de 2019 foi um ato “parvo”. E defendeu-se afirmando que as suas palavras foram uma resposta ao ministro do Interior, Suleyman Soylu, que lhe teria chamado “parvo”, acusando-o ainda de criticar a Turquia durante uma visita ao Parlamento Europeu.

Foram centenas as pessoas que ontem se juntaram em frente ao edifício da Câmara municipal para protestar contra o veredicto de prisão para Imamoglu, pedindo a demissão do Governo.

Kemal Kilicdaroglu, líder do Partido Republicano (ao qual pertence Imamoglu), encurtou uma visita que estava a fazer à Alemanha para regressar ao país e apoiar o autarca. Numa mensagem gravada antes de deixar Berlim, Kilicdaroglu disse que nenhum membro do partido “vai sofrer bullying ou dar um passo atrás”. “Prometemos tirar este país da escuridão”, afirmou ainda.

Também o autarca de Ancara, outro dos rostos da oposição de Erdogan, se está já a dirigir para Istambul.

“Antes ou depois deste evento, ou mesmo a 6 de maio (de 2019), quando as eleições foram canceladas, eu nunca ouvi nenhuma palavra negativa de Ekrem Imamoglu em relação aos membros do Supremo Conselho Eleitoral”, afirmou Murat Ongun, da equipa de comunicação de Imamoglu, durante o julgamento. “Todas as suas declarações foram em relação a figuras políticas”, acrescentou.

Entretanto, já há relatos de atentados na Turquia, algo que é considerado “normal”, dada a proximidade das eleições.

Contudo, num vídeo publicado nas redes sociais, Soylu insistiu que os comentários de Imamoglu foram diretamente direcionados aos membros do Supremo Conselho Eleitoral, que cancelou as eleições.

O muçulmano Recep Tayyip Erdogan, de 68 anos, é Presidente da Turquia desde agosto de 2014 e líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento desde maio de 2017.