DOHA – No tempo em que era um fedelho parecia que o mundo se juntava para nos dar coisas de mão beijada. Tudo trazia um brinde para alegrar a pequenada. Mas quando digo tudo, digo tudo e mais um par de botas. Começava pelos gelados de pauzinho. A gente rasgava o papel e saía um bonequinho de plástico monocolor do Mickey, do Pato Donald, ou do Pateta. Os gelados não eram mais caros por isso, os bonecos até vinham naqueles de limão e de laranja que eram só água colorida e que até a minha mãe, lá em casa, fazia de vez em quando numas formas para o efeito. No Café Farol, depois do almoço, para onde o meu pai nos levava, a mim e aos meus primos no Vauxhall do meu avô Joaquim, éramos frecheiros das caixas trapezoidais dos chocolates da Regina. A sovela estava amarrada à caixa por um fio, a gente fazia um furo no papelão, e o meu primo Pedro que tinha sorte em tudo ganhava uma caixa de bombons com um desenho do Matterhorn, vacas e meninas tipo Heidi na capa, e uma bola de plástico foleira (ainda assim uma bola) ou uma das boas, de catechu. Nunca tive direito a nada mais jeitoso do que um Coma-com-Pão, embora nunca o comesse enfiado num papo-seco. Havia outra modalidade: os personagens do Carrossel Mágico, com o Franjinhas, o Saltitão (de que se foram lembrar, transformar um paraplégico num homem-mola!), e o Tio Realejo que vinha em duas doses por causa da maquineta. Numas pastilhas elásticas chamadas Pantera Cor de Rosa surgiram uns autocolantes com smiles sendo que um era preto e tinha os cantos da boca virados para baixo, algo proibidíssimo nos tempos que correm. Também havia uma coleção de carros de Fórmula 1 pequeninos, de cinco ou seis peças, para montar, e uma de aviões da Boeing. Aquele gelado do cão – já não me lembro do nome – trazia uma coleção de cães de todo o mundo com as bandeiras dos países de onde eram, e até o Juá era o cúmulo da curiosidade: fazia sempre questão de abrir as caixas de papelão cheias de pó branco no qual surgiam uns saquinhos com as personagens do Mowgli que cheiravam a detergente durante meses. É curioso: hoje não nos dão nada, só nos tiram. Forretas do caraças!