Ao longo das últimas semanas, muitos se têm questionado a respeito das atitudes de Cristiano Ronaldo. Ora invetiva o treinador que o substitui, ora não comemora junto dos colegas as façanhas da equipa e recolhe ao balneário isolado, anda sozinho, carrancudo, de rosto fechado. Parece contrariado e infeliz, as coisas não lhe correm – não é de agora – como correram durante largos anos em que pulverizou muitos recordes do mundo do pontapé na bola. Porém, este lado lunar não é mais nem menos do que a outra face de Cristiano Ronaldo: um jogador perfeccionista, devoto em ser o melhor e sempre o melhor, que aprimorou todas as dimensões do seu jogo, e desse modo, ergueu-se ao panteão dos maiores aríetes. Um jogador que rejeita não ser o melhor, o centro das atenções, a figura que todos os olhares atrai e que leva o espetador a pagar bilhete para o ver. É egoísta? É. Mas se não fosse não teria chegado onde chegou. E isso está a findar, como tudo. Isso não nos torna menos gratos ou menos seus admiradores, leva-nos apenas a colocar a seleção onde deve estar, acima de tudo.
No fim de contas, é a personalidade invulgar de CR7, a sua extraordinária persistência, a convicção com que se bate por cada objetivo que aos olhos dos demais parecem inatingíveis, que o levam a exibir este retrato mais sombrio, no momento descendente da sua carreira. Ronaldo quer ser sinónimo de história. Por isso, luta por mais um golo, uma assistência, com o fito de ver o seu nome cravado à imortalidade. E isso é notável, mas pode ser muito frustrante.
Ronaldo ainda pode ajudar. Ronaldo pode liderar. A equipa precisa dele, como em 2016, fora de campo, mas omnipresente.
Ex-deputado à Assembleia da República pelo PSD