29 de novembro de 1951. O povo de Lisboa juntou-se e disse: “Adeus Dona Amélia!”

29 de novembro de 1951. O povo de Lisboa juntou-se e disse: “Adeus Dona Amélia!”


Morreu no dia 25 de outubro na sua residência de Versalhes, o Château de Bellevue, e lançou o apelo, já moribunda: “Levem-me para Portugal!”. Trouxeram-na mais de um mês depois, na fragata Bartolomeu Dias, que avançou pela embocadura do Tejo acompanhada por dois contratorpedeiros. Do Cais das Colunas, o féretro saiu para o repouso definitivo…


Rainha in aeternum! Quem tanto sofrera na vida merecia, agora, descansar na morte.

“Perdido o trono, percorreu todas as mágoas do exílio, sem que se esquecesse, uma vez só que fosse, de Portugal – a terra amada que crucificou o seu amor. Repousa agora junto do marido e dos dois filhos, na paz eterna em que os gritos são preces e as revoluções soluços e lágrimas”.

Maria Amélia Luísa Helena de Orleães e, depois, Bragança, por via do casamento com D. Carlos I, última rainha de Portugal e dos Algarves. Morreu no dia 25 de outubro de 1951, na sua residência de Versalhes, aos 86 anos, atingida por um ataque fatal de uremia. Pouco digno de uma rainha, é certo. Ela que era tia-avó de Juan Carlos, pai, agora também numa espécie de exílio mas bem mais confortável do que o da senhora. Eram 9h35 da quando uma última bicada de dor lhe atravessou o corpo já moribundo. Soltou um gemido, diz a história: “Sofro tanto! Deus está comigo. Adeus. Levem-me para Portugal!” Demorou para lhe fazerem a última das vontades. Regressou a Lisboa, já cadáver, na fragata Bartolomeu Dias, com destino ao Panteão Real da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora.

Bem mais de um mês após ter falecido, o povo de Lisboa juntou-se para dizer: “Adeus Dona Amélia!”

A urna vinha à popa, sob um dos canhões de 120mm, coberta com o pavilhão real (vermelho com as armas e o brasão a dourado), ladeada por aspirantes e marinheiros de baioneta armada.

Os contratorpedeiros Lima e Dão fizeram-lhe escolta pela embocadura do Tejo até ao Cais das Colunas. Os três navios entraram na barra às 8h00 de 29 de novembro e o sol prometia um excelente dia de Outono. Uma grande multidão juntara-se para o último aceno. Havia gente que não conseguia conter as lágrimas, tanta a emoção do evento. Muita dessa gente nunca lhe tinha posto os olhos em cima. Afinal, o regicídio e o exílio datavam de 40 anos. Quase duas gerações.

Dois anos antes da sua morte, a conselho de António Oliveira Salazar, Presidente do Conselho, precisamente, fizera o testamento deixando tudo o que possuía a seu afilhado Duarte Pio. Em 1945 tinha vindo a Portugal para que o gelo se quebrasse. Não se manteve muito tempo em Lisboa. Foi em demanda de Vila Viçosa de onde partira na fúnebre comitiva que encontrou no Terreiro do Paço as balas assassinas de Manuel Buíça e Alfredo Costa.

O dia fez-se lindo. Gente de negro encheu as ruas à passagem do féretro. Sempre era uma rainha a regressar a casa. E não uma rainha qualquer. A última das nossas rainhas. Resquiescat in Pace.