Alinhamento de Competências


O conselho que deixei, a alunos com fácil acesso às competências digitais, é que apostem para serem cada vez melhores nesse domínio, mas ao mesmo tempo alinhem sempre a sua aprendizagem no uso das novas ferramentas.


Na passada semana, a convite da Associação Portuguesa de Sistemas de Informação (APSI), que realizou na ilha de Santiago, Cabo Verde, a sua 22ª Conferência (CAPSI2022), proferi uma conferência de abertura subordinada ao tema: Sistemas de Informação e Desenvolvimento Sustentável: Desafios Globais. À conferência, realizada online, assistiram os associados da APSI e outros participantes da sua reunião magna, bem como múltiplos alunos dos diversos cursos da Universidade de Santiago, muitos no seu Campus da Assomada e outros também através duma conexão à distância.

No final do período de debate, que foi muito intenso, criativo, enriquecedor e focado nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, uma pergunta simples fez-nos descer todos à terra. Perguntou-me a moderadora, que conselhos deixava aos alunos da Universidade de Santiago presentes na sala e aos que nos estavam a escutar na plataforma virtual, sobre as competências digitais que deveriam adquirir para serem bem-sucedidos profissional e socialmente.

Como tenho partilhado neste espaço com os leitores, nos últimos tempos as muitas funções têm-me levado com regularidade ao Continente Africano. Pelo menos nas maiores cidades, o acesso dos jovens às redes e aos telemóveis é generalizado. Em Cabo Verde essa é uma realidade em todo o Arquipélago. Aquilo que me ocorreu responder, com as devidas adaptações às especificidades de cada território em concreto, pode ser generalizado a todos os jovens em formação, seja em que continente for. O alinhamento entre os saberes fundamentais e as competências digitais é fulcral e é também o segredo mal guardado, mas muitas vezes esquecido, de uma combinação feliz.

A ausência de competências básicas consistentes na língua, na matemática, na história, na filosofia e noutros pilares do saber, quando associada à iliteracia digital anula o acesso aos espaços de cidadania do século XXI. Quando existe alguma literacia e acesso a meios digitais sem que as outras competências básicas estejam adquiridas, então a probabilidade da manipulação e da instrumentalização cresce exponencialmente.

Se virmos a questão ao contrário, com boa formação básica e sem literacia digital, o risco de manipulação diminui, mas aumenta o perigo do isolamento, do desperdício de talento e da formação de ilhas de frustração, num mundo cada vez mais arquipelágico.               

O conselho que deixei, a alunos com fácil acesso às competências digitais, é que apostem para serem cada vez melhores nesse domínio, mas ao mesmo tempo alinhem sempre a sua aprendizagem no uso das novas ferramentas com o desenvolvimento do pensamento abstrato aportado pela matemática, pelo estudo das ciências e da filosofia e pela aquisição dos conhecimentos económicos e sociais essenciais à compreensão do mundo e ao exercício de uma cidadania plena, com reflexos em toda a dimensão da sua vida.    

Alinhar por cima as competências, para não nos deixarmos isolar nem manipular, é um conselho simples, que a vida me tem ensinado a valorizar. Mudam as técnicas e as tecnologias de forma cada vez mais acelerada, mas temos que continuar a subir a montanha com a mochila dos saberes fundamentais sempre por perto, sob pena de nos perdermos no percurso.

 

Eurodeputado do PS

Alinhamento de Competências


O conselho que deixei, a alunos com fácil acesso às competências digitais, é que apostem para serem cada vez melhores nesse domínio, mas ao mesmo tempo alinhem sempre a sua aprendizagem no uso das novas ferramentas.


Na passada semana, a convite da Associação Portuguesa de Sistemas de Informação (APSI), que realizou na ilha de Santiago, Cabo Verde, a sua 22ª Conferência (CAPSI2022), proferi uma conferência de abertura subordinada ao tema: Sistemas de Informação e Desenvolvimento Sustentável: Desafios Globais. À conferência, realizada online, assistiram os associados da APSI e outros participantes da sua reunião magna, bem como múltiplos alunos dos diversos cursos da Universidade de Santiago, muitos no seu Campus da Assomada e outros também através duma conexão à distância.

No final do período de debate, que foi muito intenso, criativo, enriquecedor e focado nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, uma pergunta simples fez-nos descer todos à terra. Perguntou-me a moderadora, que conselhos deixava aos alunos da Universidade de Santiago presentes na sala e aos que nos estavam a escutar na plataforma virtual, sobre as competências digitais que deveriam adquirir para serem bem-sucedidos profissional e socialmente.

Como tenho partilhado neste espaço com os leitores, nos últimos tempos as muitas funções têm-me levado com regularidade ao Continente Africano. Pelo menos nas maiores cidades, o acesso dos jovens às redes e aos telemóveis é generalizado. Em Cabo Verde essa é uma realidade em todo o Arquipélago. Aquilo que me ocorreu responder, com as devidas adaptações às especificidades de cada território em concreto, pode ser generalizado a todos os jovens em formação, seja em que continente for. O alinhamento entre os saberes fundamentais e as competências digitais é fulcral e é também o segredo mal guardado, mas muitas vezes esquecido, de uma combinação feliz.

A ausência de competências básicas consistentes na língua, na matemática, na história, na filosofia e noutros pilares do saber, quando associada à iliteracia digital anula o acesso aos espaços de cidadania do século XXI. Quando existe alguma literacia e acesso a meios digitais sem que as outras competências básicas estejam adquiridas, então a probabilidade da manipulação e da instrumentalização cresce exponencialmente.

Se virmos a questão ao contrário, com boa formação básica e sem literacia digital, o risco de manipulação diminui, mas aumenta o perigo do isolamento, do desperdício de talento e da formação de ilhas de frustração, num mundo cada vez mais arquipelágico.               

O conselho que deixei, a alunos com fácil acesso às competências digitais, é que apostem para serem cada vez melhores nesse domínio, mas ao mesmo tempo alinhem sempre a sua aprendizagem no uso das novas ferramentas com o desenvolvimento do pensamento abstrato aportado pela matemática, pelo estudo das ciências e da filosofia e pela aquisição dos conhecimentos económicos e sociais essenciais à compreensão do mundo e ao exercício de uma cidadania plena, com reflexos em toda a dimensão da sua vida.    

Alinhar por cima as competências, para não nos deixarmos isolar nem manipular, é um conselho simples, que a vida me tem ensinado a valorizar. Mudam as técnicas e as tecnologias de forma cada vez mais acelerada, mas temos que continuar a subir a montanha com a mochila dos saberes fundamentais sempre por perto, sob pena de nos perdermos no percurso.

 

Eurodeputado do PS