Costa aposta na recuperação de ex-ministros

Costa aposta na recuperação de ex-ministros


Siza Vieira, Marta Temido, Adalberto Campos Fernandes ou Matos Fernandes são nomes que podem reaparecer como cabeças de lista do PS nas próximas eleições autárquicas.


O PS está em plena reorganização interna. Depois das eleições nas concelhias no início de outubro, disputam-se agora as federações, com as eleições para as 19 estruturas distritais do partido a estenderem-se até este sábado. Mas a mira dos socialistas está apontada a outra corrida eleitoral: a das próximas autárquicas, pois serão estes dirigentes distritais e concelhios que vão começar a preparar o terreno.

O ano de 2025 abrirá um novo ciclo político que é necessário começar a preparar desde já, uma vez que essa antecedência é essencial para testar apoios e para que militantes e eleitores formem opiniões. Isso obriga o líder incontestado do PS a olhar para as suas opções. A tão larga distância, as dúvidas ainda são muitas, mas há já vários nomes na calha como possíveis escolhas de António Costa para protagonizar as candidaturas que serão apresentadas daqui a três anos.

No panorama das guerras pelo poder das câmaras municipais, salta à vista o distrito de Lisboa, onde há três autarquias onde os motores socialistas prometem aquecer. A federação continuará a ser liderada por Duarte Cordeiro, que corre sozinho nas eleições deste fim de semana. O seu sucesso enquanto diretor de campanha do PS nas legislativas serviu de trampolim para que Costa lhe entregasse a tutela do Ambiente no Governo. E o seu nome começa  também a ser falado como forte para uma futura candidatura à Câmara de Lisboa.

O próprio também nunca escondeu a ambição de vir a presidir aquela autarquia desde a altura em que era vice de Fernando Medina. Braço direito de Pedro Nuno Santos, entre o vasto leque de delfins de Costa é conotado como próximo da ala mais à esquerda do PS e poderá facilmente dar o salto para ser o rosto escolhido pelo partido para tentar recuperar a autarquia perdida para o PSD em 2021. 

No entanto, isto não invalida que nas contas de Lisboa não possam entrar ainda outros protagonistas. O antigo ministro da Economia Pedro Siza Vieira, que ficou a saber só mesmo à última que não integraria a orgânica do novo Governo, poderá ser repescado para concorrer contra o atual presidente  Carlos Moedas ou ainda para encabeçar um candidatura à Câmara de Cascais.

Isto porque Duarte Cordeiro, enquanto líder da distrital de Lisboa, terá ainda pelo caminho que responder aos desafios de outras duas câmaras. Em Cascais, com a saída de Carlos Carreiras por limite de mandatos, o PS vai precisar de uma aposta forte contra  Miguel Pinto Luz, apontado como candidato natural dos sociais-democratas, para tomar aquela autaquia de assalto.

«Siza Vieira pode vir a ser uma figura chamada para essa fase, porque António Costa nunca queima ninguém», comenta um fonte próxima do PS ao Nascer do SOL. «Um bom exemplo disso foi que depois de ter demitido a ex-secretária de Estado Margarida Marques, colocou-a nas listas para o Parlamento Europeu em lugar elegível. E também correu com Jorge Seguro Sanches como secretário de Estado da Energia e pouco tempo depois foi buscá-lo para secretário de Estado da Defesa», sustenta a mesma fonte, considerando que a animosidade entre Siza Vieira e António Costa gerada após a formação do atual Executivo não será entrave para que o ex-ministro possa abraçar uma corrida eleitoral.

Para Cascais e Sintra surgem outros dois nomes, sendo que neste último concelho o cenário é outro. Basílio Horta, candidato pelo PS, foi reeleito para um terceiro mandato em 2021 e terá que abandonar o lugar, deixando aos socialistas a difícil tarefa de defenderem a sua posição naquela autarquia. Nestes cálculos, surgem  dois ex-governantes: Marta Temido e Adalberto Campos Fernandes.  

Pouco mais de um ano depois de ter recebido das mãos de António Costa o cartão de militante do PS, no congresso de Portimão, a antiga ministra da Saúde estreou-se a concorrer para uma estrutura interna do partido, como número dois da lista única encabeçada por Davide Amado à concelhia do PS de Lisboa, uma  posição que a coloca na linha da frente como eventual escolha socialista nas eleições autárquicas, nomeadamente para a Câmara de Sintra.

Para já, internamente ainda se afasta este cenário. «Não se pode ainda fazer esse tipo de leituras. Marta Temido está ainda em fase de estreia. Tem vontade de trabalhar  e, sendo deputada e ex-ministra, não podia ser colocada num lugar secundário», justifica uma fonte socialista ao Nascer do SOL.

Contudo, «alguém com a sua visibilidade, se daqui a três anos estiver por dentro da atividade política no concelho está bem colocada para um cargo à frente de uma autarquia e torna-se uma figura incontornável, quanto mais não seja para um cargo de vereadora», admite a mesma fonte.

Também o seu antecessor, o antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, pode entrar nas contas de Sintra, dada a notoriedade política que conquistou enquanto esteve no Governo e mais ainda pela sua proximidade a Basílio Horta, após o trabalho que desempenhou na dinamização e progresso dos centros de saúde e do novo polo hospitalar no concelho.

Futuro tenso no Porto 

No Porto, o próximo ciclo abre-se com a saída do independente Rui Moreira por limitação de mandatos, mas no PS já se adivinha um futuro tenso quando Costa tiver de escolher o futuro candidato à Câmara portuense.

No verão, tudo indicava que Manuel Pizarro se recandidataria à distrital, colocando-se como candidato natural do PS à autarquia quando o momento chegasse. Contudo, a ida para o Governo obrigou aquela estrutura socialista a ter de reequacionar todos os planos, colocando o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia Eduardo Vítor Rodrigues como o nome mais consensual para o suceder à frente da federação do PS do Porto.

Ainda assim, o convite para assumir a difícil  pasta da Saúde dá ao sucessor de Marta Temido um enorme peso político.

Além disso, a notoriedade nos círculos do Porto que o ex-eurodeputado e ministro tem vai ser reforçada devido às funções governativas, o que o pode atirar para uma candidatura à sucessão de Rui Moreira. 

Porém, uma candidatura neste sentido obrigaria Pizarro a abdicar das suas funções de ministro antes do final da legislatura em 2026, o que num futuro relativamente próximo voltaria a desestabilizar a tutela da Saúde, que por natureza já se encontra sob enorme pressão. É nesse cenário que poderá aparecer o antigo ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes, que ocupou o terceiro lugar na lista, liderada por Alexandre Quintanilha, do PS nas legislativas de janeiro pelo círculo do Porto. 

Muito próximo de Pizarro, o antigo governante poderá ser um forte candidato dos socialistas à Câmara do Porto.

Ana Abrunhosa por Coimbra?

Há ainda ministros que podemvir a reforçar futuras candidaturas do PS às eleições autárquicas. Para a Câmara de Coimbra, atualmente presidida por José Manuel Silva, eleito pela coligação Juntos Somos Coimbra, nos bastidores socialistas imagina-se a possibilidade de a ministra da Coesão Territorial Ana Abrunhosa ser um trunfo importante na conquista de eleitores.

Apesar de a governante concorrer nas lista do PS pelo círculo eleitoral de Castelo Branco, já foi presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), conhecendo de perto a realidade de Coimbra e tendo ganho reputação junto das elites conimbricenses.