A edição deste ano da WebSummit foi marcada por uma surpresa logo no primeiro dia: a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, que permaneceu em Portugal em visita, tendo sido recebida no Palácio de Belém pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e aproveitou para visitar um centro de refugiados ucranianos em Cascais.
Durante o seu discurso, a primeira-dama da Ucrânia falou sobre o poder da tecnologia no mundo atual, nomeadamente o papel que está a desempenhar na invasão russa na Ucrânia.
«Habitualmente ouvimos que as inovações tecnológicas movem o mundo, mas eu acho que é mais do que isso. Têm o poder de determinar a direção para a qual esta guerra irá», acrescentou, acusando a Rússia de colocar a «tecnologia ao serviço do terror».
Zelenska afirmou que as «pessoas deveriam estar a ir a Marte, não a esconderem-se nas suas caves». «Não poderíamos acreditar que em 2022 as crianças estariam a esconder-se das bombas», disse, lembrando que o seu povo teve de passar a «levar os filhos para abrigos de bomba em vez de escola ou atividades», sem saber quanto tempo vão passar nesses espaços. «Temos de investir não em soluções high tech nas escolas, mas sim em geradores», lamentou.
Convidados reais e um denunciante
Como habitual, o evento ficou marcado pela grande diversidade de oradores. Entre estes estiveram a Rainha Rania Al Abdullah da Jordânia, Mark MacGann, denunciante dos ‘Uber Files’, o CEO da Revolut, Nikolay Storonsky, ou o linguista Noam Chomsky.
A rainha consorte da Jordânia, considerada pela revista Forbes uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo, casada com o Rei Abdullah II desde 1993, tendo o casal chegado ao trono março de 1999, é uma reconhecida defensora dos direitos humanos, nomeadamente na área da educação, saúde, economia e diálogos interculturais.
«O verdadeiro progresso de que todos precisamos não é melhores máquinas, mas sim sermos melhores seres humanos», afirmou Rania da Jordânia, numa conferência que foi mediada pelo correspondente da CNN International, Frederik Pleitgen.
Entre os oradores esteve também o ex-executivo sénior da Uber, Mark MacGann, responsável pela abertura do caso «Uber Files», que divulgou informações que revelavam que a empresa de serviços de viagens explorava a violência contra os seus motoristas de forma a promover a ideia da empresa contra os taxistas assim como a existência de uma rede de lóbi entre magnatas dos meios de comunicação e políticos.
O segundo dia da Web Summit foi ainda marcado pela presença do ambicioso CEO da Revolut. Nik Storonky afirmou que esta aplicação, que funciona como uma carteira eletrónica, pretende ser «tão importante como a JP Morgan».
«Quase 10% dos portugueses já tem uma conta Revolut, um número verdadeiramente impressionante que reforça a nossa vontade de continuar a investir no mercado português», disse ao Dinheiro Vivo o cofundador da empresa, que esteve no evento no palco principal com o painel intitulado ‘Revolut’s got a plan’, onde abordou o futuro da empresa.
No último dia esteve ainda presente o linguística, filósofo, cientista cognitivo, crítico social e ativista, autor de várias obras, Noam Chomsky, conhecido como «pai da linguística moderna», que discursou no painel ‘Debunking the great AI lie’ (Desmascarar a grande mentira da Inteligência Artificial). Ainda antes de subir ao palco, já a presença do norte-americano estava a provocar controvérsia.
O presidente executivo da Web Summit, Paddy Cosgrave, revelou que foi «pedido por figuras muito significativas no mundo de hoje para cancelar Noam Chomsky», apesar de não ter relevado os autores do pedido.
Cosgrave disse que negou este pedido, afirmando que pretende que este evento continue a ser «uma espécie de Suíça», o país que se pauta pela neutralidade em relação a todas as guerras.
Além destes convidados estiveram ainda diversas personalidades, nomeadamente, do mundo do desporto, como Patrice Evra, Javier Tebas, Diego Forlan, Gilberto Silva e os portugueses André Villas-Boas, Patrícia Mamona, Bruno Lage e Fernando Pimenta.
Considerada o maior evento tecnológico do mundo por publicações como o Financial Times, a Web Summit revelou que atingiu o seu máximo de capacidade com 71.033 participantes de 160 países, com o maior número de sempre de ‘startups’ e de investidores.