Em tempos fui mandado parar numa operação stop. Algures numa estrada perdida pelo norte do país. O agente da GNR, educadamente, solicita os documentos do Sr. Condutor e da viatura, de faz favor.
O agente era clássico. Bochecha rosada, barriguinha em início de carreira. Com a aparência geral a necessitar de algumas melhorias, que certamente lhe aumentariam a autoestima e a autoridade.
Não tendo nada a temer, nem por faltas nem por excessos, assim fiz. Após breve análise dos papéis em questão o Sr. Agente devolve-mos, agradecendo e dando nota de tudo estar em ordem. Julgava eu que poderia seguir viagem. Enganei-me. O Sr. Agente, talvez entediado pela escassez de veículos passantes por aquelas bandas, resolveu meter conversa. De forma simpática e agradável.
Não me recordo já do início da conversa, mas a dada altura questiona-me sobre a minha profissão.
– Designer – respondo.
– O Sr. quer certamente dizer desenhador – contrapõe ele.
– Não. Sou mesmo designer – insisto.
– Recordo-lhe que estamos em Portugal e não há necessidade de usar palavras em inglês só para impressionar – comenta ele em modo de lição de moral, que a humildade não faz mal a ninguém.
Iniciei então uma paciente exposição sobre o que é um designer, com explicações elaboradas
sobre os conceitos de estética, da forma e sua função, da origem da profissão e suas diversas disciplinas, com Bauhaus incluída e tudo. Tempo perdido, porque após todo este meu esforço, acaba por me questionar novamente.
– Mas o senhor, para apresentar essas ideias todas aos seus clientes não tem de fazer desenhos? Para eles verem?
– Claro que sim – respondo eu.
– Então eu tenho razão. É um desenhador! – conclui ele de forma perentória.
E assim ficamos. Eu triste. Por não ter conseguido convencê-lo da real existência e essência da minha profissão. Ele contente. Por me ter posto no sítio. Que isto de andar a pôr palavras estrangeiras no nosso português, não tem jeito nenhum!
Ou talvez aliviado por não ter de escrever em inglês se tivesse de me passar uma multa!
Designer