Aulas no meio do caos. Ponte de Sor, um caso paradigmático

Aulas no meio do caos. Ponte de Sor, um caso paradigmático


“Os professores têm muito medo, tanto que estes alunos entram nas salas, gritam e só um ou outro os manda embora”. O testemunho de um aluno ao i.


Um dos maiores flagelos que têm afetado as escolas é a violência levada a cabo contra os professores. Exemplo disso é o caso da tensão vivida entre a direção, os professores, os auxiliares, os encarregados de educação e os educandos da Escola Secundária de Ponte de Sor, em Portalegre, que escalou no ano passado e parece ter acalmado desde as denúncias do i e, posteriormente, dos restantes órgãos de informação.

Nuno (nome fictício), revelava que “há alunos com uma navalha no bolso e mostram-na a quem quiser ver”, realçando que “quem controla o acesso às escolas tem medo” e “quem poderia fazer algo seria a GNR com uma rusga, mas não o faz”.

Para o docente, que, tal como a maioria das fontes entrevistadas para a realização do artigo, à época, não quis revelar a sua identidade por medo de represálias, “os pais não têm o mínimo interesse nestas situações”, pois “são chamados às escolas e não fazem nada” e “uma das mães faz tráfico de droga, bebe, tudo aquilo que a CCPJ devia colmatar”.

“Já verifiquei que existem três ou quatro alunos com navalhas. Já tive alguns que me diziam quem assaltava casas e carros e como o faziam. Um deles foi apanhado em flagrante porque ia roubar a pistola de um GNR que estava dentro de um carro”, contava Pedro (nome fictício), outro docente. “Os professores têm muito medo, tanto que estes alunos entram nas salas, gritam, e só um ou outro os manda embora. E há um professor que foi chamado de anormal. Se alguém reage, não há ninguém que defenda essa pessoa”, descrevia um aluno que ia à escola, diariamente, temendo aquilo que lhe poderia acontecer a cada dia.

“Quando eles não estão na escola, nota-se uma diferença absolutamente extraordinária. Há certos colegas que perdem a vontade de dar aulas, assumem o seu desagrado e perdem a motivação. Não há volta a dar porque não há qualquer tipo de proteção. Nem que o professor faça o pino consegue que estes alunos se dediquem”, reconhecia um docente, revelando que “os rufias são quase todos da mesma família – primos, irmãos, tios, tias, sobrinhos, sobrinhas – e estão todos à espera de fazer 18 anos para conseguirem sair da escola”.

Após o i e o programa “Linha Aberta”, da SIC, terem noticiado este caso, sabe-se que a escola terá tomado medidas para tentar que a violência fosse erradicada ou, pelo menos, diminuída, mas a verdade é que o i tem conhecimento de que muitos dos comportamentos e acontecimentos de outrora já se terão repetido.

Em outubro de 2019, depois de terem sido divulgados testemunhos de professores que tinham sido vítimas de violência no local de trabalho, a Fenprof apelou ao Ministério da Educação e ao governo que tomassem medidas que combatessem “o problema e tornem a escola um espaço de sã convivência entre todos os que integram a comunidade educativa”, como “a colocação de pessoal auxiliar nas escolas, de forma a criar as condições de segurança que, manifestamente, se têm vindo a perder”, “uma redução significativa do número de alunos por turma, permitindo ao docente um melhor acompanhamento e controlo do grupo”.

De seguida, reforçou “a colocação dos docentes e, também, de trabalhadores não docentes que apoiem alunos com necessidades educativas especiais, bem como os professores das suas turmas, “o reforço da autoridade do docente dentro da escola, através de medidas que valorizem o seu papel”, “a disponibilização de apoio jurídico, entre outros apoios, para que os docentes agredidos ou ameaçados por motivos que decorrem do seu exercício profissional possam recorrer aos tribunais sem que daí resultem custos para o próprio”, “o agravamento ainda maior do quadro penal aplicável em situações deste tipo, pois daí decorrendo efeitos punitivos, também decorrem efeitos preventivos” e “a criação de um Observatório para a violência na Escola, que integre representantes do Ministério da Educação, de docentes, não docentes e estudantes, de pais e encarregados de educação, das direções das escolas, da Escola Segura e de académicos”.

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