A China tem vindo a travar uma luta, bem-sucedida, contra a corrupção e a fraude, nomeadamente ao nível do aparelho de Estado. Uma experiência que poderia ser útil para os governantes portugueses.
O princípio base deste combate é que se dirige contra “tigres e moscas” e não só contra as moscas, nós em Portugal diríamos os mexilhões, deixando os tigres, nós diríamos o peixe graúdo, de fora.
É um princípio que leva ao agilizar da Justiça para que os tigres não possam usar de subterfúgios legais para adiar os seus julgamentos até à prescrição como o fazem por cá.
João Rendeiro e outros utilizaram a fuga para evitar sentar-se no banco dos réus. Na China os criminosos fazem o mesmo: fogem para o estrangeiro. Mas, segundo a Al Jazeera (ver aqui), desde 2014 já foram apanhados e extraditados de volta para a China mais de 10.000 criminosos e recuperados mais de 2,9 mil milhões de dólares de ativos roubados. Estes valores comparam com o grande zero português.
Na China os grandes tigres não estão a salvo. Em Portugal até o mexilhão escapa.
E não se pense que pertencer aos mais altos escalões do Partido Comunista permite evitar a Justiça. Veja-se o caso de Zhou Yongkang, membro do Politburo do PCC, o órgão cimeiro do Partido. Foi investigado de forma independente, julgado, provando-se que aceitou cerca de 20 milhões de dólares em subornos foi condenado à morte, tendo a pena sido depois comutada em prisão perpétua.
Para além da corrupção também se provou nepotismo, com o favorecimento dos seus parentes, nomeadamente o filho, em grandes obras públicas no setor do petróleo que o pai supervisionava como dirigente político. O filho fugiu para os Estados Unidos mas foi extraditado e condenado a longa pena de prisão. Foram recuperados milhões de dólares roubados aos contribuintes.
Mais recentemente Sun Lijun, Vice-Ministro da Administração Interna, foi preso e igualmente condenado à morte por corrupção. A pena está em suspenso e poderá / deverá ser comutada em prisão perpétua.
Estes casos estão a mudar profundamente a cultura política na China e a transmitir a ideia que a corrupção não compensa. Como corolário a imagem da China no exterior tem vindo a afirmar-se como país integro e de baixa corrupção.
Para quando teremos em Portugal uma política séria que combata “peixe graúdo e mexilhões” como a China o faz com os “tigres e as moscas” da corrupção.