“O inimigo pensou que poderia alcançar os seus objectivos nas universidades, ignorando o facto de que os nossos estudantes e professores estão vigilantes e não permitirão que os falsos sonhos do inimigo se tornem realidade”.
O Presidente da República Islâmica do Irão, Ebrahim Raisi, não podia estar mais certo. Por todo o país, jovens e estudantes iranianas assumiram – irredutíveis – a desobediência ao regime onde consideram viver tão livres como numa prisão. Num “dos países mais ricos do mundo, mas [onde] 90% do povo é pobre”, a revolta popular já identificou o inimigo e seus falsos sonhos: “os monstros que estão a aproveitar-se do Islão”.
As palavras pertencem a Asma, uma jovem iraniana que participou nos protestos em Lisboa. Mesmo na cara daqueles que querem transformar a luta pela liberdade em islamofobia, Asma acrescenta: “não é sobre religião, é sobre democracia. É sobre todas as pessoas terem voz para falar. Para dizer alguma coisa. Queremos eleições livres. Queremos direitos humanos fundamentais. Queremos trabalhar”.
Os números conhecidos confirmam de que lado está o inimigo. De acordo com a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights, já morreram 215 pessoas no Irão, incluindo 27 crianças, e nos últimos dias, o terror do regime chegou também às escolas. Foi assim que mataram Asra Panahi, 16 anos, espancada na sala de aula quando se recusou com as colegas a cantar um hino de apoio ao regime iraniano.
No Irão há meninas e raparigas a morrer com mais coragem que muita gente grande, e não podemos deixar de pensar que ninguém sente mais a urgência de uma revolução do que aquelas que têm tudo a ganhar.
Em todos os tempos e lugares, a história foi ditada pelos impérios mas também pelos que lhes resistiram. Nunca é entre iguais a violência que liberta os povos dos tiranos, são atos de enorme coragem, de verdadeiro desassombro no momento de reconhecer que a alternativa à liberdade pode ser a morte e ainda assim, escolhê-la. Não há inevitabilidades nem impossíveis nessa consciência, não há vagas inescapáveis que reduzam o heroísmo de quem a ela se entrega, por lucidez ou por loucura – para nos ensinar uma bela e dura lição: é preciso lutar.
Sur mes cahiers d’écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J’écris ton nom
(…)
Et par le pouvoir d’un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberte (1)́
1. “Nos meus cadernos de escola, Nesta carteira nas árvores, Nas areias e na neve, Escrevo teu nome (…) E ao poder de uma palavra, Recomeço minha vida, Nasci pra te conhecer, E te chamar, Liberdade”. Paul Éluard. Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira
Deputada do Bloco de Esquerda