A última vez que o vi, deve ter sido em 2013. Apesar de já não estar hospedado no meu hotel preferido, o Polana, algumas reuniões eram marcadas para esse clássico da hotelaria mundial. Na altura, o SOL tinha a sua edição moçambicana, além da angolana. Eu ia, de tempos a tempos, dar uma ajuda ao Vítor Gonçalves, responsável da delegação, e ao Manuel Jesus, o seu braço direito. Numa das últimas reuniões, em que acompanhava a administradora de então, Ana Bruno, que ia com as forças vivas da terra, ao aproximar-me da porta do hotel, eis que surge um grito bem audível: “Pórtuga! Que saudades”. Era Luís Nhaca, o porteiro do Polana. Fiquei todo contente e fui dar-lhe um abraço, enquanto nos rimos a recordar outros encontros. Recordo-me que ao meu lado alguém comentou: “É muito conhecido por estas paragens”, ao que sorri.
São milhares os portugueses e estrangeiros que se recordam da figura emblemática que tinha três casacos cheios de emblemas.
Luís Nhaca, porteiro ou doorman, como gostam de dizer em Moçambique, era o verdadeiro rosto do hotel, e nem Presidentes da República dispensavam uma foto com o homem da casaca e do chapéu de coco, ambos carregados de emblemas que os clientes lhe ofereciam.
“Os hóspedes começaram a habituar-se a mim. Hoje em dia, se chegam nas minhas folgas começam a cobrar. Querem ver-me e tirar fotos comigo. Nós temos recebido Presidentes, delegações presidenciais da CPLP, etc., e todos gostam de me ver à porta”. Entre eles, o Presidente dos EUA, Bill Clinton, dizia à revista do SOL, a LUA, em 2013.
Tendo tido uma vida difícil, cedo Luís começou a trabalhar no hotel, local onde o avô já tinha trabalhado, bem como o pai, que o levou para lá, tendo percorrido várias áreas no hotel.
“Sou capaz de dizer que tenho mais família cá no hotel que na minha própria casa. Muitos hóspedes ficam tristes na hora de partirem, porque queriam ficar mais tempo”, acrescentava na mesma entrevista. Ao tornar-se um símbolo do hotel, Luís Nhaca ficava com uma vida complicada, pois não podia ausentar-se quando queria, já que a sua presença era exigida. “As minhas férias são limitadas. Quando pretendo viajar tenho sempre de dizer para que país vou e quanto tempo irei. Os meus chefes confirmam na agenda se eu posso ir e, às vezes, não dá”.
O homem que descobriu o golfe por ter nascido nas proximidades de um campo, ainda chegou a vir a Portugal por ter ganho um torneio em Moçambique. “Comecei a praticar ainda em criança, porque naquela altura a minha casa estava próxima de um campo de golfe. Quando os colonos jogavam, nós observávamo-los”, contava à LUA.
Morreu no passado dia 10, aos 62 anos.