A inflação é a sorte grande do Governo. Numa penada, sem qualquer ação tendente a esse fim, o défice e a dívida – ainda que medidos por referência ao PIB – reduzem-se substancialmente. Igual efeito só poderia ser obtido por robustos crescimentos reais, coisa que o país desconhece no longo e penoso período de estagnação que atravessamos. O Governo não se faz rogado. Medina, na conferência de imprensa de apresentação da proposta de Orçamento de Estado, foi categórico: a redução da dívida é uma façanha que tem a marca PS. Nada mais falso.
O Orçamento do Estado traz perdas de rendimento real para pensionistas e funcionários públicos, mas não o confessa. É horrível a iliteracia reinante – de que o PS deploravelmente se aproveita – a qual equipara nas consequências efeitos reais e nominais. A ilusão monetária leva muitos a considerar diferente um corte no salário a um aumento de salário abaixo da inflação. Esse desconhecimento deveria envergonhar-nos por estarmos tão mal preparados para colectivamente tomarmos as melhores decisões em função de cada circunstância.
Ora, o que se está a passar é uma desvalorização real da economia portuguesa, a qual se traduz em perdas de rendimentos em geral, particularmente no funcionalismo público e atuais e futuros pensionistas. Uma desvalorização não assumida, inconfessável, à PS.
O debate em Portugal, e as nossas opções como país, é muito pobre. É sempre a verdade contra a mentira, e quanto mais confusos e turbulentos são os tempos mais fácil a mentira e mais difícil a verdade.