Um dos aspectos que revelam a enorme distância a que nos encontramos de uma democracia política, económica e social, de pujança construída na base de espaço sólido de pluralidade mas também de encontro de vontades na defesa do superior interesse do país, é o facto de que nem na actual situação interna, houve aproximação para entendimentos entre as forças partidárias, designadamente aquelas que exprimem a base electiva de comunhão no modelo de democracia vertido nas exigências de integração na União Europeia.
A turbulência política, mas também económica e financeira, acentuada pela guerra na Ucrânia, apanhou o Ocidente sem soluções, nas áreas das energias e das matérias primas alimentares, valendo a extrema dependência da China, como fábrica do mundo.
Sabe-se hoje que nenhum plano estratégico global havia antecipado as respostas a uma novíssima situação de carências abundantes nos diversos países colocando os interesses particulares de certas nações, nascidas na abundância, acima de um interesse colectivo geral que permitisse responder às necessidades internas dos países.
Descobre-se agora que também em matérias primas essenciais como os cereais, vivemos na dependência absoluta do comportamento de quem domina estes mercados a montante.
Isto é, numa visão interna das consequências desta crise, ainda não chegou a notícia às duas forças principais do espectro político português, de que este é o momento de compromissos para situações de conjuntura grave como aquela que vivemos.
Ora, se constatamos uma falta de cooperação entre PS e PSD que abatesse bandeiras domésticas, pensando apenas no país e sem qualquer revisitação de um bloco central hoje sem fulgor nem espaço, a questão essencial dos tempos que correm é a estabilidade reformadora que ainda não está consolidada na prática do dia-a-dia e não cobre o futuro, onde problemas que hoje afectam as sociedades europeias, estão na liderança dos radares do mundo.
Isto é, se há dificuldades de assumir consensualidade em tempo de crise acentuada, mesmo conjuntural como aquela que vivemos, torna-se ainda mais visível a dificuldade, porque não nos encontramos à volta de grandes projectos que tornem Portugal uma nação na habitualidade em boas iniciativas capazes de ver para lá da lógica doméstica do presente.
Aqui chegados, veja-se a dificuldade de entendimento e as razões quanto ao não lançamento de infra-estruturas, absolutamente urgentes como o novo aeroporto de Lisboa e no tempo perdido para a criação de condições para combater as secas e a falta de água, através da única resposta institucionalizada possível: um plano de construção de novas barragens para fins múltiplos, incluindo o abastecimento de água.
Tem-se assim como certo que levará tempo até que vença em Portugal uma cultura de permanente mudança, que permita que as conjunturas sejam “regularizadas”, enquanto as estruturas se projectarão no tempo.
Mexer na justiça, na Segurança Social, no ensino e na saúde, nas leis eleitorais, não é tarefa para um governo nem para um mandato, muito menos quando não se está perante determinação e vontade de concretizar o que falta fazer.
Em 2017, no Orçamento do Estado, escrevia-se que iria ser posto em prática um Programa Nacional de Reformas.
Cinco anos depois ali jaz a declaração.
Se nem a crise fizer mexer as vontades, a começar pelo Presidente da República, cada década fica perdida cada vez mais cedo.