Na apresentação que ontem fez do Orçamento para 2023, o Governo parecia ter um objetivo primordial: introduzir confiança num clima de grande incerteza.
E o ministro das Finanças, tanto através da postura tranquila como das explicações pacientes, passou bem essa mensagem.
É verdade que a inflação representa um desafio, mas as principais dificuldades, como se tem visto, são para as empresas e as famílias. Quanto ao Estado, pelo contrário, até tem lucrado, e muito, arrecadando impostos como nunca. E isso permite-lhe depois fazer um certo papel de mãos largas, como Fernando Medina fez ontem.
Tudo pesado, a ideia que ficou é de um orçamento justo, equilibrado e responsável. Que tem em conta as famílias e as empresas, mas também se preocupa com o peso da dívida, como Medina fez questão de vincar.
Quem tinha as expectativas muito altas provavelmente ficou desiludido.
Por exemplo, é verdade que a carga fiscal continua demasiado elevada, mesmo com as mexidas anunciadas. Mas convenhamos que no cenário atual seria preocupante, isso sim, se o Governo se pusesse com grandes aventuras.
A oposição fez o que lhe cabe – oposição. Ninguém esperaria que cobrisse a proposta de orçamento de elogios. Mas até aí, pela forma frouxa como criticou o documento, se percebe que não havia muito por onde criticar. Esperariam menos impostos, mais benesses e apoios, mais dinheiro para tudo e para todos, e, quem sabe, paz no mundo e ainda mecanismos para travar a inflação. Ou seja, algo que só seria possível se Medina tivesse guardada numa gaveta do seu gabinete do Terreiro do Paço uma varinha mágica.
A reação de Paula Santos, a líder parlamentar do PCP, é reveladora. “Esta é uma proposta de orçamento em que o Governo mais uma vez se submete aos ditames da União Europeia”. Também seria interessante saber, por exemplo, o que os comunistas pensam do PRR. Rejeitariam os dinheiros da “bazuca”? Tendo em conta os comentários da oposição que ouvimos ontem, é razoável pensar que este orçamento está no bom caminho.