Na passada semana, enquanto Presidente da Delegação do Parlamento Europeu para a Assembleia Parlamentar Paritária África Caraíbas e Pacífico (ACP)/ União Europeia (UE), integrei uma missão de seis parlamentares que, no âmbito da Comissão de Assuntos Externos, visitou a Etiópia e o Sudão com o objetivo de avaliar e contribuir para revitalizar a parceria para a paz e o desenvolvimento entre a UE e o Corno de África.
Em três dias intensos de conversações e diálogo com os Governos, as forças políticas, os Parlamentos e a sociedade civil, foi possível perceber um pouco melhor a complexidade das relações no quadro da parceria, os fatores de tensão e o potencial de recuperação e retoma, bem como expressar a solidariedade da UE no plano humanitário e no plano político, visando a solução dos conflitos, a transição democrática e a defesa dos direitos humanos naquela região de África.
Foi uma missão com elevada complexidade, da qual sublinho uma ideia simples – a UE sente uma justificada frustração pela falta de apoio claro da maioria dos Países Africanos, e em concreto da Etiópia e do Sudão, num momento em que o seu património de valores partilhados é desafiado por uma agressão imperialista.
Pelo seu lado, os Países Africanos não se coíbem de expressar também a sua frustração pela reação lenta e necessariamente ferida com que a UE, não obstante continuar a ser a potência que mais coopera e apoia, responde às brutais necessidades e ao sofrimento intenso dos povos sujeitos à fragmentação dos poderes, à tirania das fações e à fragilidade das instituições.
Não sendo psicólogo da geopolítica, especialidade com tendência a rápida valorização nos tempos turbulentos que atravessamos, parece-me que a dupla frustração terá que encontrar solução numa abordagem partilhada, baseada na empatia entre os povos e não na desconfiança mútua.
Só uma relação de compreensão partilhada da história, das circunstâncias e das aspirações pode evitar o agitar dos fantasmas do passado que bloqueiam o futuro das relações entre África e a UE, e dar a relevância necessária a uma grande parceira multilateral entre iguais que seja uma referência global de desenvolvimento sustentável e respeito pelos grandes valores universais da paz, da liberdade e dos direitos humanos.
Sem um quadro de apropriação conjunta, o contexto de frustração tende a transformar a leitura de iniciativas legítimas e até bem-intencionadas de um dos lados, em interferência ou ataque direto ou indireto à soberania do outro, abrindo caminho para o aproveitamento por terceiros dos impasses verificados.
Na próxima semana em Estrasburgo, o Plenário do Parlamento Europeu debaterá uma resolução sobre a parceria da União Europeia com a região do Corno de África. Temo que uma visão fragmentada ajude a cavar frustrações que em nada contribuem para melhorar a vida dos povos e o desenvolvimento sustentável no Planeta.
Só partindo de um sentimento e de uma plataforma de interesse comum, se podem substituir frustrações por soluções fortes para uma nova era de cooperação entre a União Europeia e África, em que todos possam ganhar, desde logo no contributo efetivo para a paz e para a transição ou a consolidação democrática no Corno de África.