Turismo. Setor recupera números mas ainda há um lado negro

Turismo. Setor recupera números mas ainda há um lado negro


Turismo vai dando cartas no que diz respeito ao crescimento da economia, mas se o PIB agradece, por outro lado, os problemas continuam ou agravam-se. A subida dos preços das casas não dá tréguas, a pressão junto dos locais históricos também não e o problema da falta de mão-de-obra é uma dor de cabeça para…


Por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto

O aumento do turismo volta a colocar pressão junto dos locais turísticos. E as opiniões do setor são unânimes ao considerarem que “os turistas não podem estar apenas na Baixa ou Belém” e, face a esse cenário, é preciso diversificar os destinos. A AHP tem vindo a defender a criação de novas infraestruturas de forma a tornar o turismo sustentável.

“Caso contrário, as pessoas chegam a Lisboa e ficam todas na Torre de Belém e no Mosteiro dos Jerónimos, o que faz com que essas zonas fiquem sobrecarregadas. Isso não pode acontecer”.

Também Vítor Costa, diretor-geral da Associação de Turismo de Lisboa, tem dito que no último plano estratégico já foi incluída a Área Metropolitana de Lisboa, procurando “desviar” os turistas para a Costa da Caparica, Sesimbra, Cascais e Mafra. 

Mais turismo, mais residentes estrangeiros que procuram o mercado nacional como primeira ou segunda residência, logo os preços disparam. Aliado a isso há que contar com a oferta de alojamento local. Todos estes fatores fazem com que os preços das casas no nosso país disparem. 

E os dados do INE não deixam margem para dúvidas: No segundo trimestre, o Índice de Preços da Habitação (IPHab) registou um aumento, em termos homólogos, de 13,2%, mais 0,3 pontos percentuais (p.p.) face ao observado no trimestre anterior, “atingindo um novo máximo histórico da série disponível”, diz o organismo.

Museus Com a retoma do turismo, os museus também ficaram a ganhar. Estes registaram mais de 1,5 milhões de visitantes nos primeiros seis meses do ano. A recuperação foi clara face aos anos de pandemia mas ainda está cerca de um terço abaixo dos valores de 2019, mas em gradual recuperação, indicam dados estatísticos da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

O conjunto de 25 museus, monumentos e palácios tutelados pela DGPC receberam 1 508 362 visitantes entre janeiro e junho, avançou aquele organismo à agência Lusa, um aumento de 574% por comparação com os 223 802 visitantes contabilizados nos primeiros seis meses do ano passado.

Restauração Mais turismo é também sinónimo de mais refeições. E todos ganham com isso, desde as tascas aos restaurantes de luxo. Do bitoque à mariscada, o importante é consumir e o turista traz este privilégio consigo. Mas não só.

De acordo com os últimos dados da SIBS, só este verão – entre 1 de julho e 31 de agosto – foi registado um aumento de 22% do consumo total e um recorde do consumo com cartões estrangeiros em Portugal que aumentou 37% face a 2019 e 71% face ao mesmo período de 2021. Avaliando apenas o valor das operações dos cartões portugueses, o crescimento foi de 19% face a 2019.

Mão-de-obra Os alertas chegam de todo o lado. E se a falta de mão-de-obra já era sentida antes da pandemia, a covid-19 só veio trazer ainda mais à tona este problema.

“Este continua a ser um problema que preocupa muito a CTP e que não será resolvido no curto prazo. As empresas estão a fazer os possíveis para amenizar os impactos deste problema. Mas tem de ser encontrada uma solução estratégica e conjuntural numa união de esforços entre as empresas e o poder político”, chegou a defender ao nosso jornal Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal.

E não é o único. Também João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve acredita que a principal dificuldade neste momento é recrutar recursos humanos”. “Sabemos que há um problema que é estrutural”, que está relacionado com o facto de o país ter “uma demografia que é desfavorável na medida em que há cada vez menos jovens e, na população ativa, há menos pessoas disponíveis”.

A verdade é que os salários – ainda que acima da média nacional – não cativam quem queira trabalhar no setor e defende-se que a solução é ir buscar fora.

Reclamações Desde o início do ano, o setor do turismo foi alvo de quatro mil reclamações. Os números foram avançados pelo Portal da Queixa e dizem que os consumidores queixam-se principalmente das companhias aéreas e dos sites de reserva de viagens.

A eDreams, a TAP e o Booking estão no pódio das entidades com mais reclamações. Nesse período, o Portal da Queixa recebeu 3 882 reclamações relacionadas com este setor, um crescimento de 12% em relação ao período homólogo de 2021, onde foram registadas 3 475 queixas.

“Comparativamente com 2019, o aumento é ainda mais expressivo, verificando-se uma subida de 56%. Em ano de pré-pandemia, foram registadas apenas 2 495 reclamações durante o mesmo período”.

Prémios A edição deste ano ainda está a decorrer mas a verdade é que Portugal tem somado prémios em catadupla. Se não, vejamos a edição do ano passado do World Travel Awards – conhecidos como os óscares do turismo – em que Portugal trouxe para casa 12 prémios.

A título de exemplo, o nosso país destacou-se com o Algarve a ser nomeado o melhor destino de praia ou com a Madeira como a melhor ilha para férias. Mas não só. Além da hotelaria de luxo, há World Travel Awards também para os Passadiços do Paiva, Dark Sky Alqueva, Parques de Sintra e TAP.

Mas houve mais prémios a aterrarem em Portugal como é o caso do Lapa Palace (melhor hotel clássico), o Pestana Porto Santo (hotel de praia e lifestyle), Conrad Algarve (resort de lazer de luxo) e L’AND Vineyards (hotel de enoturismo). Tudo bons motivos para visitar Portugal que continua a dar cartas lá fora para todos aqueles que o querem visitar.

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