Nota prévia: Depois de ter feito um mandato deplorável à frente do FMI, Christine Lagarde comporta-se na liderança do BCE como um elefante numa loja de porcelana, transmitindo uma visão quase catastrófica do futuro económico imediato da zona euro. Francesa e maneirenta, Lagarde acentuou ainda mais o pessimismo dos agentes económicos e das populações, ao defender que os apoios estatais devem ter caráter pontual e não definitivo.
Percebe-se a ideia, mas é como pôr um agente funerário a desejar melhoras a um moribundo. Lagarde deveria utilizar o seu espaço público a incentivar à paz e à confiança, uma vez que – como se provou depois do controlo da pandemia – o fim da guerra da Ucrânia iria ter um brutal impacto de crescimento. São declarações como as de Lagarde que alimentam fenómenos extremistas como o que vai levar ao poder na Itália Giorgia Meloni (provavelmente por pouco tempo), uma referência para o nosso Chega.
Ou, no outro extremo, aquele que, anos antes, colocou efemeramente no Governo de Atenas um grupo de lunáticos da esquerda caviar que tinha como referência Yanis Varoufakis, um ídolo das nossas moçoilas bloquistas.
1. Vladimir Putin tem idade e experiência suficientes para saber que as guerras coloniais se perdem sempre. Há cem anos o mundo vivia ainda uma era colonial baseada em grandes impérios que foram caindo um a um, sendo o português o último, se descontarmos o soviético. Nada pode travar um povo que pega em armas para se libertar de uma qualquer forma de colonialismo ou para resistir a uma ocupação. E é muito difícil, nos dias de hoje, um país colonizar outro, como está objetivamente a tentar fazer a Rússia com a Ucrânia.
Um dos casos de anexação colonial que perduram é o Tibete, ocupado pela China, que, além dos meios de repressão mais severos, usa o infalível método da substituição da população, transferindo para lá chineses etnicamente alinhados com Pequim. É uma prática que os russos também utilizaram em muitos territórios da antiga URSS e que mantêm na Ossétia do Norte, na Abecásia, na Transnístria e na Moldávia.
Além da resistência autóctone, as guerras coloniais passaram, desde o fim da II Guerra Mundial, a desencadear um movimento de desgaste interno na potência colonizadora, cujas sociedades civis foram deixando de aceitar os pressupostos do colonialismo, favorecendo as autodeterminações e as independências. Apesar de convocar referendos fantoches nas províncias que pretende anexar, Putin está, agora, confrontado com um movimento civil de resistência ativa e passiva da Rússia genuína e dos estados que integram a sua gigantesca federação, cujos nacionais não querem morrer na guerra colonial da Ucrânia.
Os portugueses mais velhos lembram-se bem que foi também pela resistência e dúvida que se instalou na sociedade civil (além da resistência dos povos das colónias) que emergiu um movimento militar que, a 25 de Abril de 74, pôs termo a 13 anos de guerra colonial e abriu portas à independência de vários países. Na Rússia reina já o mesmo estado de alma. Vê-se pela resistência civil e pelas mães que protestam contra a mobilização dos seus filhos. O problema é que Putin não é Marcelo Caetano nem Thomaz. É um maníaco sentado em cima do maior paiol de armas nucleares do mundo. Mesmo assim, parece óbvio que nunca esteve tão fragilizado ou tão perto de cometer uma loucura de proporções inimagináveis.
2. A contratação de João Cepeda parece estar a ter um efeito perverso no Governo. Chamado para articular melhor e clarificar a comunicação governamental, o ex-jornalista está metido num imbróglio sem fim. De facto, nunca se viu, em muitos anos, tamanha confusão e atropelos no Governo. O ministro da Economia António Costa Silva (O Florentino) meteu-se inopinadamente a defender uma descida do IRC e levou com uma barreira de artilharia do Ministério das Finanças, através de Fernando Medina e do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
O caso Costa Silva é o mais gritante de descoordenação, mas há outros como a desastrosa comunicação de António Costa sobre as pensões, o processo de substituição de Marta Temido, o dossier aeroporto e o psicodrama à volta da contratação de Sérgio Figueiredo. Cepeda ia buscar lã e saiu tosquiado. E nem sequer tem servido de bode expiatório. Começa até a generalizar-se a ideia de que a culpa de tudo o que está mal é mesmo de António Costa, cujo reportório de truques já não chega para as encomendas. Pior do que um artista que canta sempre as mesmas canções, só mesmo um político que já todos “topam à légua”.
3. As imagens transmitidas pela TVI, mostrando uma idosa imobilizada numa cama num lar de Boliqueime a ser atacada por milhares de formigas, remetem para os horrores dos campos de extermínio do holocausto nazi. A idosa, que veio a falecer, estava amarrada à cama e, alegadamente, não era um caso isolado. Como é possível chegar-se a situações de abandono e maus tratos em instituições com existência legal? Como é possível que até esta hora não haja ninguém detido? Como é possível que a Segurança Social não detete estas e muitas outras situações? O que fazem os seus serviços de fiscalização?
Este país não é mesmo para velhos. Também não é para novos, nem para ninguém, a não ser para milionários reformados, ativos estrangeiros que possam tratar-se nos melhores sítios e sair daqui para fora quando estão mesmo mal. Também pode ser para emigrantes que usam Portugal como plataforma de passagem para a Europa rica.
4. Em mais uma das suas catilinárias populistas, Gomes Ferreira insurgiu-se na SIC contra forças corruptoras e interesseiras que estarão por trás do plano de construção de um novo aeroporto de Lisboa. As postas de pescada foram deitadas ao jeito Ventura e Catarina. Pode ser até que Ferreira tenha muita razão, mas seria conveniente que atirasse com nomes concretos para a mesa, em vez de lançar suspeições generalizadas. Qualquer que seja a solução para o aeroporto, alguém ganha ou gasta menos, como o ilustre jornalista não pode deixar de saber. Era bom que o tema fosse devidamente esmiuçado, para usar uma palavra cara a outro animador da SIC, no caso Ricardo Araújo Pereira.
5. Sem perigo de errar, pode-se afirmar que o pão terá aumentado qualquer coisa como 20% de um ano para o outro. O caso é tanto mais grave quanto é certo que o pão continua a ser uma componente essencial da alimentação em Portugal, designadamente das pessoas mais pobres. Além do aumento do preço, verifica-se o recurso a uma habilidade que consiste na diminuição visível do tamanho e do peso das diversas unidades de pão nas grandes cadeias de distribuição (lá está certamente um lucro inesperado).
Outra curiosidade manhosa na venda de pão é a circunstância dos preços serem anunciados à unidade, sem referência ao preço do quilo como sucede em dezenas de outros produtos. Faz-se tanta lei e portaria que, se esse anúncio não é obrigatório, bem podia passar a ser, para que soubesse as linhas com que se cose.