Masopust. O triplo sofrimento português do Príncipe do Paradoxo

Masopust. O triplo sofrimento português do Príncipe do Paradoxo


Nasceu na Boémia aquele que foi, provavelmente, o melhor jogador a vestir a camisola da antiga Checoslováquia


Josef Masopust nasceu em Most, na Boémia do Norte, antiga Checoslováquia, em 1931, a 9 de Fevereiro. Morreu no dia 29 de Junho de 2015.

Foi também em Junho, no dia 17, que estava em Santiago do Chile disputando a final do Campeonato do Mundo frente ao Brasil. 1962.

Aos 15 minutos fez 1-0 para surpresa universal. Checoslováquia e Brasil já se haviam defrontado na fase de grupos com um empate a zero. Pelé lesionou-se nesse jogo e ficou de fora do resto do Campeonato do Mundo.

Depois de se verem a perder, os brasileiros, campeões mundiais, deram a volta ao resultado por Amarildo, Zito e Vavá. A Checoslováquia tinha uma equipa brilhante (no Brasil preferem escrever Tchecoslováquia): Schrojf; Tichý, Novak, Pluskal e Popluhár; Masopust e Pospichal; Scherer, Kadraba, Kvasnak e Jelinek.

Nomes estranhos de um tempo distante.

Masopust era forte, com uma técnica impressionante. Tanto jogava a médio-esquerdo como a médio-centro. Domínio exímio da bola, drible fácil e passe perfeito.

Svatopluk Pluskal era o seu parceiro no Dukla de Praga (morreu em 2005).

Ján Popluhár era estrela do Slovan de Bratislava (morreu em 2011).

Tomás Pospichal foi figura do Banik de Ostrava e do Slávia de Praga (morreu em 2003).

Viliam Shrojf foi o enorme keeper do Slovan de Bratislava e do Lokomotiv Kosice, antecessor do gigante Viktor (morreu em 2007).

Já quase nada resta da equipa vice-campeã do Mundo que calharia em sorteio defrontar Portugal no acesso ao Mundial de 1966 em Inglaterra.

Josef Masopust já era um dos eleitos, mas saiu do Chile com um prestígio formidável.

Jornalistas de dezanove países europeus, correspondentes do France Football, provavelmente a melhor publicação sobre futebol de sempre, formaram o colégio eleitoral que o elegeu como melhor jogador da Europa do ano de 1962. Cada um deles votava em cinco jogadores, atribuindo-se-lhes uma pontuação decrescente de 5 até 1.

O segundo classificado foi Eusébio. O rapaz da Mafalala comentou: “Fui, pelo menos, o avançado mais votado. Para a próxima tentarei pregar uma partida a Masopust”. Pregou três.

Luz, Praga, Bratislava No dia 6 de Março de 1963, Josef Masopust e Eusébio da Silva Ferreira encontram-se frente a frente no Estádio da Luz sob o testemunho de 60 mil espectadores. Eusébio: “Fiquei positivamente encantado com a equipa do Dukla. Extraordinária! E Masopust foi o melhor dos jogadores checos”. Masopust: “Eusébio! Que grande jogador! Um elemento como ele tem de ser rigorosa e duramente marcado”. Troca de galhardetes no final.

A partida pregara-a o Benfica: vitória por 2-1. Mário Coluna: dois golos. Todos foram unânimes em elogiar a técnica e a arte dos checoslovacos. “Bola rasteira, permanentes desmarcações, envolvendo os encarnados numa teia pegajosa da qual era difícil ganhar a liberdade”, escrevia Fernando Soromenho.

A viagem a Praga foi terrível. Fernando Riera aplicou ao seu opositor um sistema rígido de marcações que deixou Kadek, Masopust e Brumovski longe das decisões do jogo e os avançados Jelinek e Kucera entregues a si próprios. O empate sem golos atirava o Benfica para as meias-finais e a caminho de mais uma final da Taça dos Campeões Europeus. Masopust recebeu a sua Bola de Ouro, mas nem os vibrantes gritos de “Dukla to Dohó!” – “Em Frente Dukla!!” – num estádio superlotado dobraram o Benfica. Três anos depois seria Portugal em Bratislava. 1-0, golo de Eusébio. A Checoslováquia, vice-campeã do mundo, não iria a Inglaterra. Portugal sim. E para bater o Brasil de Pelé. Masopust, o Príncipe do Paradoxo, faria falta. Ele e o seu futebol desconcertante, de remates imparáveis.