Estamos todos cansados de ouvir o ditado “Mais vale prevenir que remediar”. Mas talvez nunca seja de mais repeti-lo e cismar no seu significado. Por exemplo, quando falamos do combate aos incêndios. A lógica seguida por sucessivos governos tem sido invariavelmente a contrária: muitos meios para remediar, quase nenhuns para a prevenção.
O resultado desta política despesista e irracional é bem conhecido. Centenas de milhares de hectares de floresta ardem todos os anos e os meios nunca são suficientes.
Ainda esta semana foi noticiada a compra de seis helicópteros Black Hawk para apagar fogos, um contrato de 43 milhões de euros (quase todos pagos por fundos comunitários, diga-se). Cada um dos aparelhos “possui a capacidade de transportar até 2950 litros de água por largada”, explica o JN. O problema é que a água também é um bem cada vez mais escasso… e os helicópteros, que vieram quase de graça, certamente terão elevados custos de manutenção. Lembram-se dos célebres Kamov, que nunca chegaram a levantar voo?
Depois, claro, também convinha perceber o que vão fazer os helicópteros nos 300 dias por ano em que não houver fogos.
Ficam estacionados no hangar à espera do calor?
Não quero acreditar, como ouço por aí dizer, que os incêndios florestais são pura e exclusivamente um negócio de milhões que dá muito dinheiro a ganhar a muita gente. Mas uma coisa parece-me certa: não é por se ter mais helicópteros disponíveis que Portugal vai ter menos fogos.
Poderia haver menos fogos se se apostasse na vigilância, por exemplo, ou em estratégias para a boa gestão e captação de água, ou com investimentos para tornar a floresta rentável, ou, finalmente, com políticas para atrair as pessoas para o mundo rural e para o interior. Não com helicópteros.
E, logo por azar, ainda ontem caiu mais um destes aparelhos.