Entramos no último mês de Verão e queimam-se os últimos cartuchos até que a chuva ou o frio ameacem e transformem os eventos ao ar livre num risco difícil de compensar. Por isso é habitual que em Setembro nos surjam sempre surpresas ao nível da programação cultural e apareçam invariavelmente propostas musicais de relevo.
Já assim é o Jardim Sonoro há algumas edições e que se repete novamente este ano com um cartaz bem alternativo, assente na música eletrónica e na exploração de novas sonoridades. Era habitual vermos o Parque Eduardo VII repleto não só de amantes de boa música mas de gente bonita, com um público muito próprio e que agora se encontra instalado no Parque Keil do Amaral.
Mas este ano a grande novidade chama-se Kalorama, o festival que se auto-proclama como o último grande festival de verão europeu e que se apresenta com um cartaz digno de respeito e que tem sido recebido pelo público português com natural expectativa e muita curiosidade.
São muitos e variados os nomes, distribuídos por três dias de luxo e que começaram ontem com um dos coletivos, considerado dos percursores da música eletrónica, os Kraftwerk, ao lado de uma das duplas que mais sucesso deixou nas pistas portuguesas, os 2manydjs, tendo ainda como cabeça de cartaz os The Chemical Brothers.
Sexta e sábado, Arctic Monkeys, Roisin Murphy (a mítica vocalista dos Moloko), Disclosure, Chet Faker, Nick Cave and the Bad Seeds e tantos outros nomes que farão com toda a certeza do Parque da Bela Vista o grande palco deste fim de semana. Mas o projecto promete ir para além da música, apostando na diversidade com propostas ligadas à arte que terá curadoria da Underdogs. É o regresso da música a uma zona de Lisboa que vai ficando cada vez mais conotada com os grandes espetáculos e produções internacionais.
O Kalorama vem por isso alimentar ainda mais uma cidade pejada de grandes eventos, com nomes verdadeiramente fascinantes que nos trazem entretenimento e cultura e vão enriquecendo o público nacional. É por isso de saudar o aparecimento de mais um grande projecto, liderado por nomes que têm feito carreira na área da música tanto em Portugal como Espanha ou Brasil.
Uma nova experiência que promete desafiar os sentidos e que alia as sonoridades mais ecléticas a conteúdos relacionados com a inclusão ou a preocupação em alterar os comportamentos coletivos adoptando novas práticas e trazendo uma mensagem muito própria. É por isso mais do que natural a expectativa que tem sido criada à volta deste novo festival, nas conversas entre amigos ou nos amantes da música. Será uma nova era à espreita como dizem ser?
Veremos que desafios nos apresentam e de que forma será recebido pelos muitos festivaleiros que estarão presentes.
Deixo uma palavra especial para a aposta na música portuguesa, na arte feita cá dentro e na mistura de culturas que tanto nos identifica. É fundamental darmos palco aos artistas portugueses e incentivarmos à produção nacional, não apenas em palcos secundários mas dando-lhes a oportunidade de mostrar o melhor que se faz por cá através da responsabilidade ao lado dos maiores nomes das músicas do mundo. Porque dar mundo aos nossos é colocar-lhes esse peso positivo.
No Kalorama mas também no Jardim Sonoro não faltam nomes que nos enchem de orgulho e de satisfação mas que acima de tudo não ficam nada atrás dos que vêm de fora. Será por isso um Setembro de luxo o que nos reserva este 2022.
É de facto um privilégio poder ter a oportunidade de assistir a tantas e tão boas atuações mas acima de tudo a produções que têm melhorado significativamente nos últimos anos. Quer nas instalações como nas condições para quem as visita. Cá estarei para dizer como foi.