E é de novo setembro, mês que era de vindimas e recomeços e hoje é, na senda de todos os outros, mais um mês de grandes incertezas e solavancos, em que coisas muito más, mas também coisas muito boas podem acontecer. O que tem mudado não são os movimentos, mas as suas amplitudes. Vivemos enquanto humanidade à beira do precipício e como tal profundamente dependentes do sentido das rajadas de vento que são cada vez mais fortes e imprevisíveis.
Pelo país a máquina trituradora da inflação vai fazendo os seus estragos e somando angústias, mais fortes e dilacerantes para quem vive com rendimentos no limite da solvência e da dignidade. Não faltarão, por cá como por toda a União Europeia, quem tudo irá fazer para aproveitar este custo indireto da luta pela democracia e pela autonomia estratégica, para tentar arrasar governos e dar gás aos populismos. Uma eventual vitória de Meloni em Itália terá um impacto negativo ainda difícil de avaliar para o projeto europeu, mas também para a incapacidade de as forças europeístas moderadas do país terçarem armas unidas por uma solução de regime que o consulado de Mario Draghi mostrou ser viável e acarinhada pela maioria dos eleitores italianos.
Voltando à nossa terra, o sentido de unidade no essencial sem atropelar o debate e a diversidade é determinante. Sendo setembro também o mês que marca o inicio de mais um ano político, é normal e desejável que quer o Governo quer as oposições apresentem as suas propostas para responder aos anseios e às necessidades dos eleitores, sem tempo a perder em retóricas balofas. O tempo, como o demonstra a avisada solicitação de António Costa no contexto envio à Comissão Europeia das prioridades de Portugal para o Programa da Comissão Europeia 2023, para que a aplicação dos Programas de Recuperação e Resiliência (PRR) e do mecanismo que o enquadra, possa ter um calendário flexibilizado quer no ritmo de concretização quer nos prazos de conclusão, será um fator chave para o sucesso dessas respostas.
Com um PRR a acelerar, o Portugal 2020 ainda ativo e o Portugal 2030 em aquecimento não parece haver escassez de recursos financeiros base para dar um forte impulso nas políticas e nas reformas de resposta aos novos tempos. No entanto, é ingenuidade pensar que podemos criar como que por magia a estrutura de competências técnicas e operacionais para colocar no terreno uma avalanche de recursos com a dimensão prevista. O risco de desperdício e mau uso tem que ser combatido com inteligência.
Não é por ser complexa e lenta que uma avaliação de projetos se torna mais certeira, justa e confiável. Com a aceleração da mudança as medidas têm que ser cada vez mais avaliadas em movimento, com uma boa monitorização e acompanhamento dos seus resultados, baseada na confiança entre os envolvidos e no conhecimento partilhado.
Uma aposta forte na confiança e na literacia é o alicerce necessário para termos sucesso. Confiança e literacia para executar, mas também confiança e literacia para participar e para compreender os planos, os objetivos e os processos de modo a que a transparência e a eficácia sejam tanto maiores quanto menor for a burocracia ou a arteriosclerose das engrenagens.
Eurodeputado do PS