30 de Agosto de 1956. O muito curioso método do suicídio por sugestão

30 de Agosto de 1956. O muito curioso método do suicídio por sugestão


Chamaram-lhe o Landru de Eastbourne em homenagem a Landru, o Barba Azul, assassino em série de viúvas de soldados mortos na I Grande Guerra – o suspeito garantia que, por hipnose, conseguia levar uma pessoa a pôr fim à vida.


Henri Désiré Landru foi um daqueles assassinos sem escrúpulos que ficou para a história sempre tão rica do crime. Viveu entre 1869 e 1922 e recebeu a alcunha de Barba Azul. Tinha métodos requintados na sua maldade intrínseca: como soldado do Exército Francês durante a I Grande Guerra, dedicou-se a atacar viúvas de camaradas seus mortos no conflito. Iniciava a relação através de correspondência, tornava-se íntimo, descobria as suas posses e, em seguida, dava-lhes cabo do canastro após ter garantido que passavam para ele os seus haveres, por mais parcos que fossem. Ou seja, além de serial-killer era um autêntico chulo.

Como acontece com maior frequência do que seria desejado, Landru era um senhor bem posto e de educação esmerada, que passou por um colégio de padres e iniciou estudos num atelier de arquitectura antes de enfiar uma farda e ser mandado para a frente ocidental. A guerra não lhe saciou a sede de sangue, nem pouco mais ou menos.

Só para verem o calibre do monstro, entre 1914 e 1918, matou 14 mulheres, quase todas com ligações sentimentais com os que partilhavam as trincheiras com ele e sofriam a bom sofrer os efeitos do gás-mostarda utilizado pelos alemães. Não, não se pode dizer de forma alguma que Henri Désiré fosse um bom camarada.

Claro que o mundo tinha de estar completamente virado do avesso (e não está!?) para que um patife deste calibre não fosse sujeito aos efeitos fatais da guilhotina, essa magnífica invenção francesa que evitava excessos sanguinolentos (era uma maquineta bastante asseada) e traumas psicológicos indesejados aos funcionários públicos que, antes dela aparecer, eram obrigados a separar pescoços dos ombros dos condenados com o recurso a machadadas nem sempre bem medidas. E, assim, na manhã gloriosa do dia 25 de Fevereiro de 1922, Landru perdeu definitivamente a cabeça.

Há que dizer que, ao longo do julgamento, Henri surpreendeu a populaça sempre ávida de crimes e criminosos. Era uma figurinha bastante insignificante, até com boas maneiras, ou seja, o retrato inverso de um brutamontes ansioso por chupar carótidas a senhoras indefesas. Há gente assim…

Em Eastbourne Nos anos-50, em Eastbourne, uma pacata estação balnear debruçada em falésias sobre o Canal da Mancha (do lado de lá), o nome de Landru voltou a ser pronunciado quando uma série bastante razoável de viúvas ricas da região começou a aparecer morta. No dia 30 de Agosto de 1956, a Scotland Yard deitou os garfos àquele que já todos conheciam por Landru de Eastbourne, um fulano chamado Weynell Bloomfield, de 68 anos, que se gabava de ter uma técnica inimitável para se ver livre de qualquer pessoa que lhe desse na gana, preferencialmente depois de esta lhe ter posto à disposição uma boa quantia de dinheiro: o suicídio por sugestão.

Tal como o estimado leitor deve ter feito quando leu as duas últimas frases do parágrafo precedente, toda a gente em Eastbourne franziu o cenho de desconfiança ao ouvir falar de tal método. Foi a própria Scotland Yard a transmitir à imprensa que Bloomfield se tinha oferecido para fazer uma demonstração das suas habilidades e, através da hipnose, pusera um agente da venerável instituição britânica a fazer figuras tão grotescas como a de imitar uma galinha e o deixar durante longos minutos sentado sobre um molho de vimes convencido que estava a chocar ovos.

Chocante é a palavra certa.

Decidiu a polícia que a ameaça era para ser levada a sério. Sobretudo quando começaram a chegar às esquadras cartas anónimas descrevendo os lugares onde encontrarem diversos cadáveres de senhoras mergulhadas no seu sono eterno. Florence Cavill, por exemplo, que foi encontrada já cadáver, em sua casa, com alguns dias de decomposição. A investigação confirmaria que, duas semanas antes, tinha ido ao banco levantar a exacta quantia de 6.853 Libras Esterlinas. As notas não foram encontradas nem junto ao corpo nem em nenhum outro recanto da habitação. O Landru de Eastbourne levara-as consigo e certamente não por precaução contra um possível assalto posterior.

Os interrogatórios prosseguiram a um ritmo razoável. Todos os parentes ou amigos de viúvas ricas entretanto falecidas no raio de 30 quilómetros foram compelidos a tentarem identificar algum novo membro do círculo de amizades das infelizes.

As pistas foram surgindo de tal forma que foi necessário começar a recuar no tempo e a desenterrar, salvo seja, mortes estranhas desde 1937. Salvo seja não é o termo. Até porque várias foram as exumações levadas a cabo numa tentativa nem sempre bem conseguida de ligar uns casos aos outros. Era preciso ser mais prático no avanço do caso pelo que a Scotland Yard, conhecida precisamente por ser essencialmente prática, reduziu o foco a apenas doze mortes.

Os corpos foram exumados e devolvidos às marquesas onde os peritos em medicina legal os inspeccionaram e catalogaram. Não restaram grandes dúvidas que o método suicidário era o mesmo e as substâncias letais encontradas no sangue também. Havia, agora, um processo para levar a cabo, mas daí já a polícia queria lavar as suas mãos e entregá-lo à Crown Prosecution. Até porque Weynell não passava de um suspeito. E havia vários. Enfim, uma trabalheira.