O Governo etíope confirmou hoje que os combates recomeçaram na quarta-feira no norte da Etiópia entre o exército federal e os rebeldes na província de Tigray, a quem acusam de ter "rompido" a trégua em vigor há cinco meses.
"Sem ter em conta as muitas ofertas de paz apresentadas pelo governo etíope", as forças da Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) "lançaram um ataque hoje às 05:00" (03:00 em Lisboa) numa área localizada no sul de Tigray e "romperam a trégua", disse o Governo, em comunicado.
O anúncio governamental surge após a acusação feita horas antes pela TPLF, imputando às forças governamentais o ónus do fim da trégua que vigorava há cinco meses.
"As nossas valentes forças de defesa e todas as nossas forças de segurança estão a responder vitoriosamente e de forma coordenada a este ataque", lê-se no comunicado do Governo, que apela à comunidade internacional para que exerça "forte pressão" sobre as autoridades rebeldes de Tigray.
A província de Tigray e as áreas fronteiriças com as regiões vizinhas de Amhara e Afar, algumas das quais ocupadas pela TPLF, estão em grande parte isoladas do resto do país e foi impossível validar as acusações de cada uma de forma independente ou a situação no terreno.
Os confrontos são os primeiros de grande intensidade relatadas desde que os dois lados acordaram uma trégua no final de março.
O tom havia subido nos últimos dias entre o Governo federal e os rebeldes tigray, cada um acusando o outro de se preparar para retomar as hostilidades, apesar de repetidos compromissos mútuos nos últimos dois meses a favor de negociações que não passaram do papel.
O conflito na Etiópia eclodiu em novembro de 2020 após um ataque da TPLF contra a principal base do Exército, localizada em Mekelle, após o qual o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, prémio Nobel da Paz em 2019, ordenou uma ofensiva militar após meses de tensões políticas e administrativas.
A TPLF acusou Abiy de aumentar as tensões desde que chegou ao poder, em abril de 2018, quando se tornou o primeiro Oromo a assumir o cargo.
Até então, a TPLF tinha sido a força dominante dentro da coligação de base étnica que governava a Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRDF, na sigla em inglês).
A organização opôs-se às reformas de Abiy, vendo-as como uma tentativa de minar sua influência.