Santarém. Paquistaneses impedidos de estarem vestidos em piscina

Santarém. Paquistaneses impedidos de estarem vestidos em piscina


Na quarta-feira passada, um grupo de paquistaneses terá sido convidado a sair das Piscinas de Santarém por não ter uma indumentária apropriada. Não cumpriram as regras ou foram vítimas de preconceito?


Um grupo de cidadãos paquistaneses, na passada quarta-feira, escolheu o Complexo Aquático Municipal de Santarém para passar o dia. Planeavam descontrair e divertir-se, no entanto, apurou o i, a visita às piscinas acabou por não correr como esperado.

Enquanto nadavam, os imigrantes foram abordados pelos funcionários daquele local e, posteriormente, por agentes da PSP. Motivo: estavam a usar roupa do quotidiano – e não aquela que é habitualmente associada a este meio – dentro de água.

“Hoje um grupo de imigrantes, essencialmente mulheres e crianças, foram às piscinas do Município de Santarém passar o dia. À hora de almoço aparece a polícia, chamada por alguém (não se sabe se um utilizador ou mesmo pelo staff do equipamento), para zelar pelos costumes, ou seja, reclamando que algumas daquelas pessoas não podiam ir para a água a não ser de fato de banho”, lê-se num texto divulgado, inicialmente, na rede social Instagram e que rapidamente começou a circular no Twitter.

“Agremiaram o grupo, isolando-o dos restantes utilizadores, escoltaram-nos até à saída e alegaram, tanto a polícia como o staff da piscina, que eles – os imigrantes, têm de respeitar a ‘nossa’ cultura. Algumas notas: referir que o grupo ligou no dia anterior a perguntar se os elementos que fossem à água poderiam usar outros equipamentos que não o fato de banho, e a resposta foi afirmativa”, denunciou um utilizador que terá tido conhecimento da situação.

“Durante toda a manhã e até a polícia chegar ninguém do staff da piscina falou com o grupo sobre regras que não estivessem a ser cumpridas, simplesmente a piscina encheu-se de agentes. Apesar da postura tranquila do grupo, a polícia não os quis ouvir, simplesmente separou-os dos restantes utentes e quis escoltá-los para a saída, e um graduado avisou logo que não queria conversa porque ainda não tinha almoçado”, é descrito. “A polícia empurrou algumas das mulheres e queria escoltar as crianças que estavam a mudar de roupa nuas para fora do equipamento”, foi adicionado.

“Não cabe à polícia ou ao staff das piscinas zelar pelo que são as ‘nossas’ tradições, costumes e cultura; mas sim pelas regras do equipamento que estavam salvaguardadas até pelo contacto telefónico do dia anterior. Muitos membros do grupo, especialmente crianças, são de nacionalidade portuguesa”, salientava-se. “Como o autocarro do grupo não estava ainda disponível para a viagem de regresso até Lisboa, foi-lhes permitida a presença no complexo num espaço à parte dos restantes utilizadores. É inadmissível este trato numa instituição pública”, concluía o texto.

Regras semelhantes em todas as piscinas portuguesas Segundo o i apurou, e está afixado no complexo, que entrar na piscina vestido com roupa da rua é proibido, sendo apenas permitido ir para dentro de água com vestuário de banho ou similar. Portanto, depreende-se que se os cidadãos estivessem a utilizar, a título de exemplo, um burkini, poderiam ter estado no espaço sem qualquer problema.

Os funcionários, ao aperceberem-se de que os imigrantes estavam a nadar vestidos integralmente, terão abordado os mesmos e informado de que tal indumentária não ia ao encontro da legislação. Os cidadãos paquistaneses, alegadamente, insurgiram-se e não quiseram respeitar as regras do complexo, preferindo manter os hábitos da sua cultura.

Como os ânimos estariam exaltados, os funcionários solicitaram a presença da Polícia de Segurança Pública (PSP) no local e, supostamente, os agentes terão repetido as regras em vigor. Aparentemente, os cidadãos terão continuado a insistir que estariam vestidos de acordo com a forma à qual estão habituados e ter-lhes-á sido pedido que abandonassem as piscinas. 

Até à hora de fecho desta edição, o i não obteve resposta da PSP ou da Câmara Municipal de Santarém. “Temos de respeitar todas as culturas. Em Portugal, as leis e as regras regulamentadas não excluem ou oprimem nenhuma cultura, etnia, género ou raça: são aplicadas a todo o cidadão e têm de ser respeitadas para a vida em sociedade”, diz Pedro Carmo, presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP/PSP). 

Uma das alíneas da lista de “Normas de utilização do parque aquático” de Santarém indica que é proibida “a entrada na água com roupa inapropriada (t-shirt, calças, saias, vestidos ou outra)”, sendo obrigatório o “uso de calções ou fato de banho e chinelos”, tal como o “uso de fraldas próprias para piscinas nas crianças até aos 2 anos”.

Ao fazer a mesma pesquisa, relativamente a outras infraestruturas, deparamos com indicações semelhantes. No site do Campo de Ténis do Estoril (em Cascais), por exemplo, lemos que “no recinto da piscina é proibido entrar com roupa ou calçado da rua (equipamento de ténis)”.

A Piscina Oceânica de Oeiras (em Lisboa) garante que “é obrigatório o uso de calçado e de vestuário adequado para o banho, independentemente da idade do utente (fato de banho, calções de banho, fralda especial para bebés)”, enquanto no Complexo de Piscinas de Castelo Branco é “obrigatório no acesso ao plano de água o uso de biquíni, fato de banho ou calção de banho”.

Nas Piscinas Municipais de Redondo (em Évora), “é obrigatório o uso de fato de banho, sendo também obrigatório o uso de touca na piscina coberta” e na Piscina Municipal de Oliveira de Azeméis (em Aveiro) “só é permitido o acesso à zona dos tanques das piscinas a pessoas equipadas com vestuário de banho (fato de banho ou calções específicos para a prática da natação, touca e chinelos), sendo proibido o uso de trajes e calçado de rua nas zonas de banho, exceto se corretamente protegidos”.