A moeda do povo


O sentido de urgência na resposta política aos impactos da inflação não nos pode, no entanto, fazer esquecer os problemas estruturais que agravam esses impactos.


Para ultrapassar a crise das dívidas públicas e os desafios colocados pela crise pandémica, o Banco Central Europeu reforçou a sua intervenção, permitindo com o aumento sistemático da massa monetária disponível que os diversos Estados Membros e a União Europeia no seu conjunto pudessem gerir as dívidas públicas e ao mesmo tempo aplicar um conjunto muito alargado de medidas de mitigação do impacto sanitário, económico e social da pandemia. Estratégias similares foram postas em prática pela Reserva Federal Americana e pelos principais Bancos Centrais em todo o globo.

As brutais desigualdades e o enfraquecimento global das classes médias levaram a que a disponibilidade de mais dinheiro na economia tivesse cumprido o papel de acalmar os mercados sem gerar inflação excessiva nem pressionar as taxas de juro. No entanto, devido a essa estrutura base de desigualdade, foi empolada a acumulação de capital nas elites e nas redes económicas e financeiras de topo e continuada a criação de emprego com baixos salários, alargando assim o vale da indignidade na distribuição dos rendimentos.

O início da recuperação pós-pandémica e os impactos da guerra e das sanções aplicadas no preço das matérias-primas e dos outros fatores de produção, em particular da energia, gerou um choque de oferta e uma consequente pressão inflacionista que alterou os equilíbrios que tinham prevalecido na última década. 

As famílias estão a perder poder de compra, pelo incremento dos preços e também dos custos do endividamento, enquanto nas empresas se está a aprofundar um fosso entre os negócios marginalistas que podem refletir nos preços a inflação e a escassez, aumentando lucros, e os negócios estruturais que se têm que adaptar em esforço e com potenciais prejuízos para não alienarem mercados e para minimizarem as descontinuidades na resposta à procura.

Num contexto de equilíbrio na repartição do rendimento, o mecanismo de regulação sofreria ajustamentos com efeito mitigado e sem causar alarme ou emergencial social. Não sendo assim, a ação dos reguladores e em particular das políticas públicas tem que ser cuidadosa e corajosamente seletiva, protegendo os mais vulneráveis, nos planos social e económico, de forma a colmatar o risco de pobreza ou deslaçamento das condições de vida ou de viabilidade, sem atiçar a fogueira da erosão do valor da moeda e do aumento dos juros. 

Em Portugal, como na UE e na generalidade das economias ocidentais, são necessárias medidas concretas e urgentes de resposta à emergência, em nome da dignidade nas condições de vida e da sustentabilidade social, económica e ambiental.

O sentido de urgência na resposta política aos impactos da inflação não nos pode, no entanto, fazer esquecer os problemas estruturais que agravam esses impactos, entre eles as profundas desigualdades na distribuição e no acesso ao rendimento e a indignidade que daí resulta. Combatê-las tem que ser uma linha prioritária para a afirmação da alternativa democrática e progressista em Portugal e no mundo. Para cuidar da moeda do povo. 

A moeda do povo


O sentido de urgência na resposta política aos impactos da inflação não nos pode, no entanto, fazer esquecer os problemas estruturais que agravam esses impactos.


Para ultrapassar a crise das dívidas públicas e os desafios colocados pela crise pandémica, o Banco Central Europeu reforçou a sua intervenção, permitindo com o aumento sistemático da massa monetária disponível que os diversos Estados Membros e a União Europeia no seu conjunto pudessem gerir as dívidas públicas e ao mesmo tempo aplicar um conjunto muito alargado de medidas de mitigação do impacto sanitário, económico e social da pandemia. Estratégias similares foram postas em prática pela Reserva Federal Americana e pelos principais Bancos Centrais em todo o globo.

As brutais desigualdades e o enfraquecimento global das classes médias levaram a que a disponibilidade de mais dinheiro na economia tivesse cumprido o papel de acalmar os mercados sem gerar inflação excessiva nem pressionar as taxas de juro. No entanto, devido a essa estrutura base de desigualdade, foi empolada a acumulação de capital nas elites e nas redes económicas e financeiras de topo e continuada a criação de emprego com baixos salários, alargando assim o vale da indignidade na distribuição dos rendimentos.

O início da recuperação pós-pandémica e os impactos da guerra e das sanções aplicadas no preço das matérias-primas e dos outros fatores de produção, em particular da energia, gerou um choque de oferta e uma consequente pressão inflacionista que alterou os equilíbrios que tinham prevalecido na última década. 

As famílias estão a perder poder de compra, pelo incremento dos preços e também dos custos do endividamento, enquanto nas empresas se está a aprofundar um fosso entre os negócios marginalistas que podem refletir nos preços a inflação e a escassez, aumentando lucros, e os negócios estruturais que se têm que adaptar em esforço e com potenciais prejuízos para não alienarem mercados e para minimizarem as descontinuidades na resposta à procura.

Num contexto de equilíbrio na repartição do rendimento, o mecanismo de regulação sofreria ajustamentos com efeito mitigado e sem causar alarme ou emergencial social. Não sendo assim, a ação dos reguladores e em particular das políticas públicas tem que ser cuidadosa e corajosamente seletiva, protegendo os mais vulneráveis, nos planos social e económico, de forma a colmatar o risco de pobreza ou deslaçamento das condições de vida ou de viabilidade, sem atiçar a fogueira da erosão do valor da moeda e do aumento dos juros. 

Em Portugal, como na UE e na generalidade das economias ocidentais, são necessárias medidas concretas e urgentes de resposta à emergência, em nome da dignidade nas condições de vida e da sustentabilidade social, económica e ambiental.

O sentido de urgência na resposta política aos impactos da inflação não nos pode, no entanto, fazer esquecer os problemas estruturais que agravam esses impactos, entre eles as profundas desigualdades na distribuição e no acesso ao rendimento e a indignidade que daí resulta. Combatê-las tem que ser uma linha prioritária para a afirmação da alternativa democrática e progressista em Portugal e no mundo. Para cuidar da moeda do povo.